SALDÃO
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Dia desses, uma amiga – através do face – usou a expressão “saldão” ao se
referir a um encontro ocorrido numa conhecida Universidade do interior do Rio
Grande do Sul. Nele, dizia ela, muitas pessoas ligadas ao ensino.
Principalmente professores. O que mais se viu, prosseguiu minha amiga, foi
discurso. Para todos os gostos e de todos os calibres. Indiscutível e invejável
a capacidade que temos em teorizar. Sobram chavões e teorias pedagógicas, da
mesma forma que sobejam mirabolantes planos de estudo, PPPs, Regimentos,
etecetera e tal. Contudo a prática... Fosse a escola pública uma empresa, por
certo estaria fadada ao fracasso. Falida. Não sobreviveria ao mercado, pois que
seu produto careceria de qualidade e suas metas raramente seriam alcançadas. As
raríssimas exceções só serviriam para confirmar a regra. Qual empreendimento
resistiria à falta de rigor e clareza de seus objetivos? Uma empresa destituída
de comando, hierarquia, respeito às regras e rotinas indispensáveis ao bom
funcionamento. Assim, em geral, tem sido a escola pública. Pontualidade,
competência, coerência, humildade, humanismo... Alguns entre tantos atributos
que têm passado de largo da escola pública. Democracia tem sido sinônimo de
desleixo frente aos princípios mais elementares da Administração Pública.
Interesses pessoais, muitos deles escusos, têm se sobreposto às necessidades
coletivas. Repete-se no ambiente escolar muitas das pérfidas relações de
apadrinhamento, troca de favores, bem como a confusão entre público e privado.
Pais e educandos, em regra, servem apenas como “bucha de canhão”. São lembrados
na hora de “pagar a conta”, comer jiló ou, então, em momentos onde urge a participação
da famigerada “comunidade escolar”. Na eleição de diretores, por exemplo. Como
que, por passe de mágica, a comunidade que ainda ontem era privada da real
participação junto às decisões administrativas, pedagógicas e financeiras da
escola, é “convocada” a fazer parte do processo. Enchem-se os pulmões com
expressões do tipo: gestão democrática, participação coletiva, cidadania, etecetera
e tal. Contudo, na hora do “vamos ver”, é a minoria quem decide. Há muito, a
escola pública tem sido uma verdadeira Babel. Confusão de discursos, interesses
e propósitos. Comum é vermos Direções sem direção, completa e flagrantemente perdidas
em meio à desorganização, indisciplina, baixo rendimento, escassez de recursos,
falta de professores. A (ir)responsabilidade, por certo, não deve recair apenas
sobre o colo da instituição de ensino. Cabe, também, ao Poder Público, aos pais,
aos educandos. É um problema coletivo, cabendo a todos, portanto, resolvê-lo. Como?
Inexistem receitas. O certo, porém, é que as respostas serão achadas não em
discursos, mas em práticas efetivas. Discursos, palavras de ordem e chavões têm
servido, sobretudo, para alavancar pretensões pessoais e/ou de determinados
grupos na ocupação, às vezes vitalícia e hereditária, de postos junto a
sindicatos, conselhos e similares. Históricos cabides de emprego, trampolins
político-partidários e moedas de troca. Neles, feito traças e cupins, alguns se
arraigam, se escondem. O estrago, como se sabe, é grande. A saída para a grave
crise no ensino passa pela real valorização dos principais atores: professores
e alunos. Aos primeiros, melhores salários, apoio pedagógico, infraestrutura
adequada, planos de carreira que privilegiem o “retorno” junto ao contribuinte
(é quem paga a conta...). Aos alunos, acolhimento, respeito às diferenças,
compromisso com a aprendizagem.
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