EJA, NÃO É PARA QUALQUER UM
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
A Educação de Jovens e Adultos (EJA), não raras vezes, é vista
como uma espécie de “sobra” da escola. Comum é ver a EJA servir
de “depósito” de alunos multirrepetentes e/ou indisciplinados,
além de um “quebra-galho” para professores destituídos do
perfil necessário e esperado. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), em seu Art. 37, não deixa dúvidas quanto ao
público a ser atendido pela modalidade:
Art.
37. A educação
de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso
ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade
própria1
e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao
longo da vida.
[…]
§
2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
permanência do trabalhador
na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
A
EJA existe, prioritariamente, para atender, portanto, alunos com
gritante descompasso idade-série (Ano), desde que respeitado o
limite mínimo etário previsto na legislação, a saber 15 anos no
Fundamental e 18 no Ensino Médio. Assim, a indisciplina escolar não
deve ser a razão da transferência do educando do Ensino Regular
para a EJA, até porque inexiste qualquer garantia de sucesso no que
tange à mudança de comportamento. Questões disciplinares –
independentemente da etapa, nível ou modalidade de ensino – devem
ser resolvidas no campo da prevenção, diálogo e, se necessário,
aplicação de medidas e “sanções” previstas nos documentos
norteadores da escola (PPP, Regimento, Estatuto Disciplinar, etc.).
Da mesma forma a repetência. Esta, salvo em casos excepcionais, não
deve servir de embasamento – ainda que velado – para
direcionamento do aluno do Regular para EJA, sob o risco de
agravarmos problemas como o da aprendizagem e da autoestima. Por
outro lado, há de se ter cuidado para não fazermos da EJA uma
espécie de peneira eugênica a afastar todos aqueles que não se
enquadram nos moldes e padrões tidos como “normais” e
“aceitáveis” pela Direção ou corpo docente que trabalha com
essa modalidade. A busca de uma escola ideal, ascética, muito
provavelmente redundará numa enorme frustração, estando fadada ao
fracasso e distanciamento da comunidade que dela tanto depende e
precisa. A EJA tem como seu principal (não exclusivo…)
público-alvo, como já dito, jovens e adultos que, por algum motivo,
não conseguiram acessar ou dar continuidade aos estudos na época
“certa” (!?). Na prática, contudo, isso significa, muitas vezes,
lidar com jovens e adultos que foram cuspidos para fora dos muros
escolares por limitações de aprendizagem, problemas
socioeconômicos, dificuldades emocionais, indisciplina, etc..
Trata-se de uma gente excluída, em maior ou menor grau. Contudo,
jovens e adultos que, em que pese todas as agruras e dificuldades,
mostram-se teimosos em acreditar na possibilidade da mudança por
meio da educação. Gente sonhadora, esperançosa, sequiosa por uma
vida menos dura. Um público marcado pelos mais diversos tipos e
nuances de vulnerabilidade. Portanto, jovens e adultos merecedores de
um olhar diferenciado, acolhedor, respeitoso e compreensivo.
O
professor da EJA precisa mostrar-se atento e sensível frente à
realidade acima. Somado à competência acadêmica, deve ser capaz de
lançar seu “olhar viajante” sobre as idiossincrasias típicas da
realidade que envolve a Educação de Jovens e Adultos. Não vale
aqui o “puxadinho”, a “gambiarra”, o “jeitinho”. Exige-se
profissionalismo, seriedade e comprometimento com o complexo processo
ensino-aprendizagem dessa modalidade. Tão importante quanto a
técnica, a metodologia e o domínio do conteúdo é a construção e
fortalecimento dos vínculos afetivos. Estes representam condição
sine
qua non na
arte do ensinar e do aprender, ainda mais quando diante de pessoas
fragilizadas pelos incontáveis fracassos e “peças” criadas pela
vida. Acuidades visual e auditiva são essenciais ao educador que
trabalha com a EJA. Não necessariamente aquelas acuidades que passam
pelos sentidos do corpo, mas sobretudo as que nascem da alma. O
professor da EJA precisa ouvir o que diz o aluno, mostrar-se disposto
a partilhar as inúmeras experiências de vida, medos e sonhos que
tangenciam a história de cada educando.
1Todos
os grifos são meus.
Sensacional!
ResponderExcluirObrigado meu amigo. Abraço fraterno.
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