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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

DISCURSO DE FORMATURA DOS JUÍZES DO TRIBUNAL DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, SECCIONAL GRAVATAÍ/RS



DISCURSO DE FORMATURA
Gilvan Teixeira
Boa tarde.

            Cumprimento o Professor Paulo Conceição, representando o Tribunal de Mediação e Arbitragem do Estado do Rio Grande do Sul, e, ao fazê-lo, cumprimento toda mesa, convidados e, de forma muito especial, meus queridos colegas. Nossa jornada, da inscrição no Curso à presente Formatura, apesar de não muito longa, como que espelhou a própria vida, com intempéries, dúvidas, embates e, por que não dizer, desconfianças. Apesar disso, ou quem sabe “por isso” – dizem que é em meio ao mar encapelado que nos tornamos melhores – seguimos, teimosamente, em frente, fazendo valer a crença na capacidade do ser humano de transformar a realidade, por mais dura e opaca que possa parecer. Não por acaso, optamos pela nobre tarefa de sermos arautos e, sobretudo, operadores da mediação como forma de dirimir conflitos, opção esta assentada no diálogo e confiança entre as partes, pressupostos indispensáveis para a construção de saídas capazes não apenas de desafogarem o Judiciário, mas, sobretudo, de fortalecerem a teia social por meio de um instrumento de justiça marcado pela celeridade e grande probabilidade de sucesso.

            Ao optarmos pela atuação como juízes mediadores revelamos a intenção de auscultarmos as partes, despojados de ranços e preconceitos. A nobre função, revestida de imensurável responsabilidade, exigirá de cada um de nós competência, equilíbrio, sobriedade, ética, ponderação, respeito ao ordenamento jurídico, bem como estudo e muita organização. Exigirá, ainda, uma constante e sólida parceria, virtuosa cumplicidade e trabalho colaborativo. Eventuais antipatias, dissabores, implicâncias e animosidades precisam ser trabalhadas e transformadas em força propulsora, convergindo para o interesse coletivo e qualificação de nosso trabalho. Quem ganha com isso? Todos! Ganham o TMA e sua seccional. Ganha, sobretudo, o município de Gravataí ao poder contar com um Tribunal mais “humanizado”, acolhedor e sensível às demandas existentes.

            Não poderia encerrar esta singela fala sem elogiar meus colegas. Apesar das inúmeras dificuldades, desencontros e algumas frustrações, não titubeamos. Seguimos em direção ao norte por nós estabelecido, qual seja, o de sermos, de fato e de direito, juízes mediadores. Para isso, contamos com o apoio incondicional de nossos familiares. Por isso, obrigado. Agradecemos, ainda, à Escola Técnica Sul Ensino, instituição que nos acolheu durante toda formação e ofereceu seu espaço para instalação do TMA-Seccional Gravataí. Nosso reconhecimento aos professores Paulo e Elisabete que, competente e pacientemente, nos deram o embasamento teórico necessário. Nossa deferência, ainda, aos colegas da turma anterior pelo apoio, companheirismo e sementes lançadas no caminho.

            Finalmente, desejo muitas bênçãos e sucesso a nós, formandos nesta tarde. Façamos do Tribunal de Mediação e Arbitragem, Seccional Gravataí, uma exemplar ferramenta para solução de conflitos, ferramenta esta que deve representar uma mudança de paradigma, de forma a superarmos a cultura da judicialização tradicional, notoriamente incapaz de dar à sociedade as respostas esperadas. Parabéns!

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO

A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

  

            Quem balança nosso “berço esplêndido”? A quem temos delegado tamanha responsabilidade? O Sete de Setembro, como a Páscoa ou Finados, é um ótimo momento para reflexão acerca da vida ou da morte, da esperança ou da finitude, do porvir ou do ocaso. Qual é a história que desejamos escrever? Qual é o caminho que escolheremos trilhar? Qual é a força que pretendemos atribuir ao passado? Se “determinante”, então teremos de conviver, inevitável e fatalmente, com os descalabros por ele produzidos. Neste caso, sentemos e choremos ante tanta desigualdade social, corrupção, malversação do dinheiro público, indiferença com a educação, saúde e segurança. Porém, se – por outro lado – optarmos por fazer do nosso passado uma fonte inspiradora e propulsora de transformações, aí sim haverá espaço para subvertermos o triste e cruel status quo. A política nacional tem sido palco por onde desfilam “babás” da pior espécie. Desonestas, hipócritas, prepotentes, mentirosas, larápias e corruptas. Assim como a personagem criminosa do filme homônimo, aqueles que deveriam cuidar e servir a este país, o traem, o enganam, o fazem morrer à míngua, roubando-lhe o último suspiro. Tamanha vilania se agrava e se perpetua, alimentada que é por eleitores omissos, ignorantes, avessos à reflexão política e destituídos de memória. Como cães, retornam ao próprio vômito. Feito “corno manso”, traídos são pelas rameiras da política, candidatos que vendem a própria consciência e negociam a dignidade em troca dos votos que levam à dita “Casa do Povo” ou ao Executivo. São sabedores da deslealdade e da perfídia, porém com elas mantêm uma relação de hipocrisia e fingimento. Eleitores que tecem discursos inflamados, porém reproduzem, muito comumente, os mesmos vícios por eles condenados. O Brasil chora, enlutado pela violência desmedida e sem controle, entregue que está ao crime infinitamente mais “organizado” do que o próprio Estado. O país está em prantos ante a fome que assola milhões e milhões de nossos irmãos. A nação se contorce de dor, jogado às moscas frente à vergonhosa precariedade do (des)serviço de saúde pública. O “gigante” se apequena diante do dantesco quadro da educação, onde – enquanto alguns poucos enriquecem – professores são explorados e alunos relegados a uma (de)formação de péssima qualidade. Sobre o berço, a penumbra sombria de uma história marcada pelo descaso, instabilidade política e promiscuidade partidária. Fantasmas, com suas enormes togas negras, como abutres à espreita, sobrevoam a “criança”, aguardando a morte tida como certa. O que era para ser sonho virou pesadelo e o que deveria ser sono tem se transformado em morte. Qual é o futuro que se desenha, senão o triste infortúnio de gerações vindouras natimortas? Mesmo a esperança, ainda que um fiozinho, tem sucumbido sob a insistência doentia de trilharmos por caminhos tortuosos. Queridos amigos e amigas, aprendamos com a história.

REFLEXÕES DE UM ALUNO

REFLEXÕES DE UM ALUNO[1]

     Assim como Albert Einstein já dizia: “Todo mundo é um gênio, mas se você julgar um peixe pela sua capacidade de subir em uma árvore, ele viverá toda a sua vida acreditando que é estúpido”.
                A educação a qual conhecemos foi originada no século XVII na Prússia, em uma época histórica chamada Despotismo Esclarecido, onde, basicamente, um rei comandava toda a sociedade através de suas expectativas e necessidades. Todavia, ele percebia que as pessoas estavam sendo influenciadas por um movimento que ocorria na França neste período, o Iluminismo, onde ideais de liberdade estavam sendo pregados e influenciados pelo mundo. Por conseguinte, ele teve a iniciativa de criar um sistema educacional para que as pessoas se adaptassem ao seu modo de governo, sem questionamentos. Foi criada a Escola do Povo, com o objetivo de “medianizar” todas as pessoas, em todas as disciplinas adotadas por ele, diminuindo a margem para o surgimento de gênios. Porém, ele percebeu que as crianças, filhas de seus súditos mais próximos, bem como seus próprios filhos estavam inseridos naquele sistema pífio de ensino que foi criado para a esfera pública. Em vista disso, criou a Verdadeira Escola, voltada para o “verdadeiro” ensino das crianças as quais eram ligadas aos sistemas governamentais e que futuramente herdariam o trono. Lá se exercitava tudo aquilo que as crianças tinham como habilidades, assim como disciplinas, tais como, por exemplo, humanidades, artes e sociologia, deixando de lado matérias que pareciam desnecessárias para o desenvolvimento humanístico desses jovens.
                Todos esses aspectos dissertados nos levam a uma semelhança com a Escola do Povo e com a Escola Moderna na qual estamos inseridos. Essa tal Escola Moderna que não só faz peixes serem obrigados a escalarem árvores, mas também a descerem e correrem. A exposição da dúvida é evidente; será que a escola se orgulha de fazer com que milhões de jovens se comparem a robôs, com esse sistema sórdido de ensino, mal adaptado para a sociedade atual? Fazendo com que crianças se assemelhem a peixes e as obrigando exercerem “atos insignificantes”. Pensam que são estúpidas e que não têm potencial. Quantas vidas e potenciais criativos serão “assassinadas” até tomarmos uma atitude? Este sistema, com certeza, já resistiu mais do que devia.
                A banda de rock progressivo Pink Floyd, já disse isso na década de 70, no disco “The Wall”, mais especificamente nas faixas de “Another Brick In The Wall” e “The Happiest Days Of Our Lives”. Nesse álbum há uma profunda crítica social, não só ao sistema escolar, mas também à maneira que o ser humano está se comportando e como a sociedade interfere na vida de cada um de nós.
                  O ser humano é o ser que tem a maior facilidade de adaptação. Para provar isso utilizamos a tecnologia como exemplo; ela foi evoluindo de acordo com as necessidades do ser humano. Quando nós não precisamos mais daquele objeto ou instrumento, deixamos de usá-lo. Para exemplificar: um telefone que foi usado há 150 anos convém ser utilizado hoje? A resposta é clara. Sua função já foi cumprida. Por isso, a tecnologia evoluiu e os smartphones chegaram ao mercado, para a adaptação, de acordo com as necessidades das pessoas.                             
                A escola de 150 anos atrás demonstrou alguma mudança para a adaptação do ser humano de “hoje em dia”? Olhemos para ela e não notaremos expressivas diferenças.
           Se a escola reivindica uma preparação de jovens para o futuro, é necessário a seguinte reflexão: por que nada mudou? Essa preparação é para o futuro ou para o passado?
                Essa escola foi criada para treinar pessoas, após a Revolução Industrial, para trabalharem em fábricas, o que explica o porquê dela colocar alunos em fila, sentados, calados e, caso haja a oportunidade de falar, é obrigatório levantar a mão para se expressar. Além disso, dá um pequeno intervalo para comer e socializar, e durante mais de cinco horas moldam o pensamento de cada criança, manipulando-a e dizendo o que é certo e errado de pensar. Alunos alienados disputando por uma nota dez, enquanto outros, verdadeiros gênios, acham que são insignificantes por não se compararem a estes.
            Até quando vamos criar adultos “medianos”? Quando vamos estimular pessoas para a genialidade? O mundo evoluiu. O ser humano evoluiu e precisamos parar de transformar pessoas em robôs e zumbis, e começarmos a dar valor à criatividade, inovação e criticidade, fazendo com que, de forma autônoma, as pessoas desenvolvam o dom de se “conectarem”.
Todas as pessoas são diferentes, e a ciência atesta que dois cérebros nunca serão iguais. Então por que a escola nos trata como fôrmas, moldando nosso jeito de pensar, dando-nos uma “medida que serve para todos”? Porém, segundo Richard Williams, se um médico prescrever exatamente o mesmo medicamento para todos, o resultado será catastrófico. Essa negligência também está presente na escola, onde o professor fica à frente de trinta ou quarenta pessoas, cada uma com diferentes habilidades, diferentes necessidades, diferentes dons, diferentes sonhos, ensinando todos da mesma maneira.
A profissão que os professores exercem deve ser valorizada, afinal este é o trabalho mais importante do planeta. Porém, continuam recebendo (ou quando recebem) um salário, muitas vezes é pouco para o próprio sustento. Não é de se admirar que a maioria das pessoas não possuem boa formação, ou são semianalfabetas ou, ainda, analfabetos políticos continuando a eleger aquelas mesmas figuras que destruíram nosso país. As grades curriculares são criadas por políticos, os quais sequer ensinaram algo em suas vidas. Eles são simplesmente obcecados por provas padronizadas, pensam que marcar um “X” em uma questão de múltipla escolha determina o quanto você é inteligente. Concluímos, que para essas pessoas estarem no poder, uma questão de múltipla escolha não é o melhor caminho a se tomar.  Esses testes são extremamente ultrapassados para serem utilizados. Isso deveria ser abandonado. O próprio Frederick J. Kelly, o homem que criou os testes padronizados, disse: “Essas provas são muito rudimentares para serem utilizadas”.
Se continuarmos acreditando que a mudança não é possível, o resultado será catastrófico. Devemos ter esperança. Esperança em nós mesmo. Ora, se conseguimos atualizar nosso perfil no Facebook, ou em nossos celulares, somos capazes de fazermos isso com a educação. Para que se acabem com essas aulas padronizadas devemos alcançar as necessidades de cada aluno dentro da sala de aula. Deve-se investir muito mais, por exemplo, na capacidade do ser humano de socializar e entender o espaço em que vive, valorizando seu espírito e sua cultura. Colocando, em primeiro plano, o papel do autoconhecimento, para uma evolução intelectual individual, em vista de uma sociedade mais harmoniosa. Isso não é uma utopia. Países como a Finlândia estão fazendo mudanças extraordinárias. Eles possuem horas reduzidas de aula, professores recebem um salário digno, e, além disso, as lições de casa foram abolidas e há um foco nos trabalhos em grupo, colaborativos, ao invés de objetivarem na disputa por essa “inteligência” adotada por provas padronizadas. Há uma preparação do jovem para ser um ser humano disposto a conviver em um meio social, com a valorização da consciência e do psicológico de cada jovem. Mas a melhor parte é que o resultado é mais efetivo do que qualquer outro país. Além da Finlândia, países como Singapura estão evoluindo rapidamente, com criação de programas escolares como Khan Academy.
Eu acredito nesse mundo. Um mundo onde os peixes não são forçados em subir em árvores. Um mundo onde, nós, seres humanos possamos ser valorizados pelo que realmente somos. Porém, repito, isso não é uma utopia, é apenas um mundo mais justo, focando-se no desenvolvimento do indivíduo.




[1] O texto é de responsabilidade de seu autor, o aluno Thiago Lermen, Turma 33, do Instituto de Educação São Francisco.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

LEVEDAR

LEVEDAR[1]
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Era uma vez um certo padeiro. Fazia não apenas pão, mas operava milagres. Nascido e criado de forma humilde, tornou-se mais do que um simples homem, mas um GRANDE HOMEM. Apesar das inúmeras dificuldades e incontáveis obstáculos, tornou-se um exemplo de esposo, pai, padeiro e professor. Mal sabia ele que, ao contrário do que pensava, muito mais ensinava do que aprendia. Semanalmente, todas as quintas, lá estava ele, discreta e silenciosamente, a depositar um enorme pão caseiro sobre a mesa da biblioteca. Duvidasse, esquivava-se antes mesmo de receber um simples “obrigado”. Dava sem esperar nada, absolutamente nada, em troca. O humilde gesto reacendia a chama de que é possível construir um mundo melhor. O pão depositado por ele servia a todos, independentemente de ideologias, tez partidária, posição hierárquica, etnia, gênero ou credo. O pão parecia levedar o sentimento de partilha. Um a um, iam fatiando o alimento, fazendo-o multiplicar. Foram dois anos (quatro semestres), distribuindo, acima de tudo, a poderosa e genuína mensagem do amor e de seus frutos, cada vez mais esquecidos. A partilha do pão é emblemática. Pressupõe despojamento, perdão, equidade, solidariedade, empatia. É um ato de hombridade e humanidade. Não por acaso, Cristo o dividiu e, antes d’Ele, o salmista fez menção aquele que dá vigor ao homem. Antes de padeiro, professor! Quanta sabedoria por detrás da ação singela. Eis aí o verdadeiro testemunho. O verdadeiro mestre convence menos pela palavra do que pelo exemplo. Este sim é capaz de fomentar profundas e avassaladoras mudanças. Seja a escola o espaço para levedura das grandes transformações, onde, assim como o padeiro, aprendamos a amassar o pão. Arte que exige técnica, paciência, confiança, esperança. Moldemos e nos deixemos moldar. Sem pressa, soberba ou desconfiança quanto à capacidade do “outro” em modificar-se ou nos modificar. A “massa” precisa estar para o padeiro, assim como o barro para o oleiro. Trata-se não de uma relação desigual, mas, acima de tudo, de uma necessária e produtiva cumplicidade, assentada no respeito, no diálogo e no reconhecimento do “outro” como sujeito indispensável à nossa própria existência. Meus parabéns ao Sr. Aury, e ao fazê-lo, parabenizo todos os formandos do primeiro semestre de 2017 da EMEF Fidel Zanchetta. Deus nos abençoe!



[1] Texto em homenagem ao Sr. Aury, formando do Bloco 9aB (primeiro semestre de 2017), da EMEF Fidel Zanchetta. 

sábado, 19 de agosto de 2017

CACHORRO, SOMOS NÓS...

CACHORRO, SOMOS NÓS...
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Verdadeira ofensa à classe dos mammalias e à família dos canidaes, a declaração de um ministro do STF não surpreende. Deixa às claras o que há muito é sabido: o Judiciário, nem de perto, é sinônimo de ética ou credibilidade. Os mesmos vícios, que deveriam ser exemplarmente punidos pela caneta do magistrado, tangenciam a conduta de inúmeros juízes Brasil à fora, da primeira à última instância, da longínqua comarca do interior à mais alta Corte. Os valores trazidos na cartilha são letra-morta, sucumbem frente à consciência putrefata daqueles que usam a normativa jurídica para defesa de interesses escusos. Hermético é não apenas o “juridiquês”, mas o corporativismo doentio que, historicamente, vem sangrando os cofres públicos e cristalizando privilégios, em detrimento do interesse público. Donos de uma falsa moral, não são poucos os togados que, feito abutres, alimentam-se da carniça de um país combalido e sôfrego. Ao que tudo indica, fazendo uso da verborreia do ministro que acredita ser Deus, o Judiciário – não apenas, e eventualmente, o instituto do habeas corpus – tem, muito comumente, se tornado um “valhacouto de covardes”. O dito ministro, ao que tudo indica, parece também ter confundido a relação entre o cachorro e seu rabo. Precisa entender que ele, SERVIDOR PÚBLICO, é o “rabo”, enquanto quem o paga (a quem ele chama de “opinião pública”) é o “cachorro”.  Tantos anos enfiado em seu gabinete, embasbacado entre incontáveis benesses, talvez o tenha feito perder o sentido da dura realidade da maioria de nosso povo. Não se ponha a carreta na frente dos bois, “Excelência”! Não passas de um “rabinho”, pois que insignificante diante daquele que te dá sentido. Cachorro, e dos grandes, somos nós! Infelizmente, cachorro cotó, pois que, lamentável e vergonhosamente, o nosso “rabo” tem sido de pouca serventia. Apesar de viver às custas de seu dono, mais tem estorvado do que ajudado. Não abana e nem tampouco espanta as moscas. Não denota tristeza, dor ou felicidade. Faz lembrar o apêndice, só lembramos dele quando inflama. Passou da hora do rabo colocar-se no seu devido lugar, assim como o Judiciário no seu. Saia este do meio entre as pernas da malfadada República e cumpra, já, com seu papel. Urge refundarmos este país, saldando a imensa dívida com seus cidadãos, sequiosos por serviços públicos de qualidade, necessitados de justiça social e cansados de tamanha exploração.  

sexta-feira, 28 de julho de 2017

NOTA DE ESCLARECIMENTO

NOTA DE ESCLARECIMENTO
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Por meio desta, em respeito à comunidade escolar, INFORMO que a partir do dia 31 de julho do presente ano, após mais de uma década como Coordenador, estarei me afastando do Setor de Disciplina. Quanto aos motivos, não parece oportuno e adequado expô-los aqui, mas dizem respeito a uma série de questões, a maioria delas, alheias à minha vontade. Agradeço, primeiramente, a Deus pela sua enorme bondade. Meus sinceros agradecimentos, ainda, aos colegas de Setor (Ernesto, Luís, Thaís, Jonathan e, até pouco tempo, Márcia), professores, SSE, SOE, SOR, funcionários em geral (portaria, secretaria, limpeza, etc.), pais e, principalmente, ALUNOS, pois são estes últimos que dão razão à existência de uma instituição de ensino. Espero – e tenho convicção de que o fiz – ter contribuído para formação integral de algumas gerações (trabalho no Instituto de Educação São Francisco desde 1992), formação esta marcada pela ética, profissionalismo, competência e, principalmente, crença no ser humano. A partir de agora, atuarei apenas como professor de Geografia das turmas de Segundo e Terceiro Anos, função esta que seguirei exercendo com excelência e zelo.   

sábado, 1 de julho de 2017

O GRANDE LIXÃO DO PLANALTO CENTRAL

O GRANDE LIXÃO DO PLANALTO CENTRAL
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Surpreende a decisão do STF em permitir que um Senador da República, até então afastado por flagrante envolvimento em crime, retornasse ao convívio com seus pares no Congresso Nacional? Acredito que não! Mais do que isso, a decisão do Ministro do Supremo vem ao encontro da lógica e da coerência, afinal, lugar de lixo onde é, senão na lixeira? Brasília, e o que ela representa, é o grande lixão nacional. A cidade fede. O chorume nauseantemente fétido corre pelas ruas e avenidas largas da capital federal. A mistura de togas prepotentes, caras fatiotas e ternos imponentes, todos eles a contrastarem com a roupa maltrapilha de quem paga a vergonhosa conta, exala a inhaca típica da histórica sujeira sob o tapete da malfadada República. Sobrevoando Brasília, além de jatinhos movidos à propina e troca de favores espúrios, revoadas de cupins e urubus. Enquanto os primeiros consomem, sorrateiramente, os alicerces da democracia, os segundos lambuzam os bicos com a carniça resultante de tantos sonhos destruídos. O lixão de Brasília é lugar predileto, ainda, dos incontáveis ratos, estes das mais variadas cores e pretensas ideologias. Infestam os salões e plenários, deixando o inconfundível e malcheiroso rastro por onde passam. Sentem-se em casa, tomam conta da tribuna e – pasmem – ousam tecer discursos em nosso nome. Brasília está jogada às moscas. Nasceu assim, cresceu assim, é mesmo assim, mas será sempre assim? A maldição de Gabriela estará selada? Os seres vis, abjetos e infames que tomaram conta de Brasília acreditam que sim. Locupletam-se, por isso, às custas de qualquer pudor, pois acreditam e apostam na impunidade, no “jeitinho”, nas brechas da legislação, na caneta da magistratura e em tantos outros subterfúgios típicos de uma republiqueta que desconhece o verdadeiro Estado democrático de Direito. Confundem, e tentam nos fazer confundir, “contraditório” com “protelatório”, “ampla defesa” com “safadeza”, “transitado em julgado” com “a perder de vista”... Enquanto isso, a saúde do eleitor, do contribuinte, do trabalhador, da gente honesta, enfim, da maioria – quase sempre silenciosa, feito gado no brete pronto para o abate – vai de mal a pior. Esvaem-se não apenas as forças, mas a seiva da esperança e a crença de que seja possível um país melhor. Ponha-se fim, portanto, ao lixão. Salvem-se os dedos, ainda que, para isso, perca-se o anel entalado no coração do país. Anel que soa como ouro, pavoneia-se como joia, mas que, no fundo, representa o que temos de pior, mais desumano, degradante e vexatório. Verdadeiro lixão no Planalto Central.  

quarta-feira, 28 de junho de 2017

SALA DE AULA: PROTAGONISMO DE QUEM?

SALA DE AULA: PROTAGONISMO DE QUEM?
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Tem sido comum vermos nossos colegas, professores, “correndo” errado dentro das quatro linhas do campo. Não surpreende, portanto, o cansaço, estresse e péssimos resultados obtidos na sala de aula. Alunos distraídos, indisciplinados, irrequietos, com rendimento muito aquém do razoável, beirando, por vezes, a mais absoluta mediocridade. Gasta-se muita energia, sem o retorno minimamente esperado. As baixas notas nas provas apenas corroboram o triste “círculo vicioso”, onde todos perdem. Assim tem caminhado o ensino neste país. O abismo, há muito deixou de estar “acolá”, sendo uma triste e presente realidade, comprometendo a saúde do professor e lançando no lixo qualquer esperança acerca de uma educação de qualidade. Inexistem receitas frente a desafios tão complexos. Contudo, urge uma profunda reflexão a respeito do caótico quadro da aprendizagem de nossos educandos, reflexão esta que precisa ser propositiva, viável e, acima de tudo, construída de forma coletiva, deixando de lado velhos e carcomidos ranços e apontando (apostando!) para um norte. Tamanho envolvimento requer disposição, envolvimento, planejamento, investimento e uma gestão competente, capaz de ouvir, contrapor e, sobretudo, agir, deixando de lado o discurso vazio e, no caso das escolas privadas, às vezes, meramente comprometido com a dita “saúde financeira” das referidas instituições. O professor, por sua vez, tem um papel fundamental no processo de refundação do ensino. Precisa repensar sua ação pedagógica, deixando, quiçá, de carregar a pesada cruz que, muito comumente, tem sido colocada sobre seus ombros. O protagonismo na sala de aula cabe a quem? Aqui, talvez, a principal pergunta a ser feita e respondida quando da busca de uma melhor qualidade de ensino. Irônica e contraditoriamente, o professor tem atribuído ao aluno um papel de coadjuvante, estratégia esta, diga-se de passagem, por vezes inconsciente e não dolosa. O educando, a maior parte do tempo, é levado ao anonimato, sumindo em meio ao grande e irresponsável número de colegas. É, quase sempre, apenas um “número na chamada” ao longo do dia, da semana, do mês, do ano letivo... Tem sido comum vermos o professor jogar em todas as posições: planeja a aula, explica o conteúdo, gasta a saliva à exaustão. Quando pergunta, ele mesmo responde. Enquanto isso, o aluno segue ali, feito paisagem-morta, indiferente, sonolento, descomprometido com aquele enredo que, para ele, “não lhe pertence”, “não lhe diz respeito”. Campo fértil à tergiversação, conversas paralelas e completo descaso com o desfecho da história. Há, porém, um raro momento – talvez, único – em que o aluno é chamado a assumir o papel de protagonismo: a prova! Quase sempre “individual” e “sem consulta”... Pode haver maior protagonismo do que esse? Tal questionamento soaria como engraçado, não fosse trágico. Representa a flagrante incoerência do processo ensino-aprendizagem levado a cabo na esmagadora maioria das instituições de ensino, públicas e privadas. Espera-se do aluno um protagonismo equivocado e inoportuno, frágil e traumatizante, mal pensado e malfadado. Ao educando, cabe uma outra espécie de protagonismo, não pontual ou esporádico, não simplista ou impessoal, não “fechado” ou cerceado. Há de se buscar, isto sim, um protagonismo permanente e contundente, humano e fraterno, amplo e franco. A escola, e a sala de aula de maneira particular, precisa se transformar no verdadeiro palco da aprendizagem, conciliando os currículos formal e oculto, lançando seus holofotes sobre aquele que deve ser, de fato e de direito, seu principal ator: o aluno!  

terça-feira, 4 de abril de 2017

AS MURALHAS DE JERICÓ

AS MURALHAS DE JERICÓ
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

Gritou, pois, o povo, e os sacerdotes tocaram as trombetas. Tendo ouvido o povo o sonido da trombeta e levantado grande grito, ruíram as muralhas, e o povo subiu à cidade, cada qual em frente de si, e a tomaram. (Josué 6; 20).

            Jericó fica aqui. Encravada no meio de Cachoeirinha, bem que poderia estar em Brasília, São Luís, Recife, Porto Alegre... Marcada pelo pecado, há muito a Câmara da cidade busca esconder suas vergonhas por detrás das muralhas, como se estas fossem capazes de escamotear o fétido cheiro exalado por tamanha imundície. Corre solta, ali, a pior espécie de prostituição, aquela onde são vendidas consciências, negociadas em nome de uma pretensa governabilidade. Como moeda de troca, alguns cargos em comissão, alimentando um ignóbil círculo vicioso, onde quem mais perde é o cidadão comum. Jericó é um lugar contaminado, vingando nela a falsidade e o narcisismo doentio. Apesar de muito feios, os que nela habitam, pavoneiam-se, buscando amainar a imagem bizarra por meio de trajes, penteados e perfumes que vão do caro ao cafona, do exagerado ao ridículo. Jericó custa caro, muito caro, ao contribuinte. Enquanto este convive com a violência, o desemprego, o ônibus lotado, a precariedade do ensino e a falência da saúde, Jericó esbanja suntuosidade. Bela arquitetura, veículos caros, ambiente climatizado, papel higiênico de invejável textura... Parece outro mundo. Jura ser o centro do universo, a Casa do Povo. Não surpreende, pois que risível e pífia a inteligência de sua gente. Quiçá, por isso, tamanha indiferença com o destino da educação para além de suas muralhas. Sim, outro mundo, aquele de um passado marcado pelo coronelismo e troca de favores. Apesar de ínfima no tamanho, os arredores de Jericó servem de latifúndio aos que tomaram assento (ou será de “assalto”?) no lugar. Elegem-se e reelegem-se com a dor e sofrimento alheios. Para os habitantes de Jericó, o fracasso dos serviços públicos, feito cabeleira de Sansão, representa força. Faltou remédio? Adivinha, lá está o coronel para consegui-lo. Faltou a lâmpada na rua, sobrou entulho na frente de casa, precisou de vaga na creche? O coronel, como que num passe de mágica, logo aparece. Feito vampiros, alimentam-se do sangue da gente desgraçada e pobre. Inebriados por um misto de gratidão e profunda ignorância, o eleitor faz de Jericó um lugar de privilégios eternos, onde viceja o nepotismo e a relação promíscua entre interesses público e privado. Pode sair algo bom de Jericó? Como quadrilha, os demais Poderes comungam à mesa de Jericó, restando ao povo não mais do que míseras migalhas. Comum é o viajante confundi-la com Babel, tamanha é a confusão de siglas a formarem o triste mosaico. Não passam de letrinhas mortas, destituídas de sentido e carentes de ideologia. Outros, a confundem com Sodoma, tal a impureza de Jericó. A leitura da Bíblia, junto a seus portões, há de livrá-la da ira divina? Servirá de carranca contra a fúria do povo? Certo é que hoje tem soado como deboche aos que, naquele lugar, ainda buscam algum socorro. A fé em Jericó é protocolar, não mais do que mero e insuportável formalismo. Ouve-se, a todo instante, feito mantra, os nomes de seus senhores. “Presente, presente, presente...”. Pudera, é um dos raros momentos em que parecem existir. Buscam, talvez, dar significado à própria insignificância. Jericó parece enferma, combalida, moribunda. Suas muralhas parecem ruir. Ouvem-se as trombetas anunciando novos tempos. Jericó chegou ao fim (!?)

terça-feira, 28 de março de 2017

FRATERNIDADE: BIOMAS BRASILEIROS E DEFESA DA VIDA


FRATERNIDADE: BIOMAS BRASILEIROS E DEFESA DA VIDA
Gilvan Teixeira
 Blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
 
 
            A Campanha da Fraternidade 2017, assim como a do ano anterior, vem ao encontro não apenas de nosso componente curricular, a Geografia, mas de todos os demais. É um convite à reflexão propositiva. O tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” ultrapassa a mera questão teórica e sacode a consciência de cada um de nós, queridos ouvintes. Longe de ser uma discussão “pedante” e “acadêmica”, a preocupação com nossos biomas é, sobretudo, a preocupação com o próprio homem. Diz respeito à minha e à tua vida, meu amado. Diz respeito à nossa família e à nossa comunidade. Diz respeito, ainda às futuras gerações. O que temos feito com o espaço onde nascemos, trilhamos e descansamos nossa cabeça? Qual é o tratamento que temos dispensado ao meio em que vivemos? O que temos feito das maravilhosas dádivas que, ao longo da história, Deus tem colocado a nossa disposição? Como tem sido a relação da maior obra-prima divina, o homem, com seu espaço? Formados à semelhança de Deus, contudo, ao contrário do Criador, temos agido temerária, irresponsável e despotamente. Muito comumente, colocamos nossa razão a serviço de um hedonismo doentio, narcísico e materialista, nos distanciando dos mais elementares ensinamentos de Deus. Nosso olhar estrábico há muito vem se rendendo à catarata da indiferença, fazendo pouco caso dos frutos do amor. Dom Jaime, num encontro de escolas católicas, foi enfático ao lembrar que a maior crise da atualidade é de ordem “antropológica”, ou seja, uma crise de valores. O pano de fundo, sombrio e funesto, por detrás da “coisificação” do ser humano é o mesmo que tangencia a perversa relação entre o homem e seu espaço. Sofrem os biomas brasileiros, de norte a sul, do nascente ao poente. Ameaçados estão não apenas os recursos naturais, a fauna e a flora, mas também o próprio homem e suas mais diferentes culturas. Afinal, homem e meio são indissociáveis. Há como que uma imbricação necessária entre ambos. Pensar em dignidade da pessoa humana sem perpassar pela questão “espacial” soa como estranho e nada inteligente. Grandes ações são necessárias? Sim. Políticas de Estado e de governo são, por certo, bem-vindas. Investimentos em educação, saneamento, mobilidade urbana, reflorestamento, uso racional dos recursos naturais, etc.. Contudo, a mais urgente e eficaz mudança é “cultural”, comunitária, familiar, individual. Começa por mim, por ti, por nós, caros ouvintes. Façamos a nossa parte. Comecemos por nossa casa, trabalho, escola. Comecemos, sobretudo, pela forma como nos relacionamos com o outro, amando, valorizando, respeitando... Ao fazê-lo, aí sim estaremos prontos a compreender o verdadeiro significado dos biomas, bem como nossa inserção e relação com os mesmos.

sábado, 4 de março de 2017

O ESTADO CAFETÃO


O ESTADO CAFETÃO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


Para que serve, ou deveria servir, o Estado no mundo moderno? O Estado no Brasil há muito tem se convertido num grande cafetão, onde a maioria de nós – populacho, assalariados, servidores públicos mal pagos –, feito prostitutas, vemos nossos corpos serem explorados e maltratados pela aspereza da vida. Como vis mercadorias, somos lançados nos porões escuros e abjetos, até que a morte – pois que, cada vez mais, a parca aposentadoria tarda em chegar... – usurpe o último suspiro. Somos vilipendiados, abusados, extorquidos diuturnamente pelo Estado. Enquanto este último se apropria dos vinténs, resta às marafonas as tristes marcas do coito forçado. Sob o olhar indiferente e cúmplice do Judiciário, as raparigas são enganadas e judiadas. Poderia ser diferente, uma vez que a toga é garantidora de privilégios e deferências? Enquanto fede o prostíbulo, resultado de uma história de descaso, a dita Casa do Povo vê desfilar parlamentares em seus ternos alinhados, cercados de um exército de puxa-sacos que pouco mais sabem do que balbuciarem algumas palavras e tremularem suas bandeirinhas em período de campanha. Faltam às rameiras verdadeiros representantes. Como cafetão, o Estado acredita ser dono de nossos corpos. É sustentado por nós, sem nenhuma contrapartida, salvo algumas migalhas travestidas em hospitais, escolas, estradas e presídios sucateados. Como cafetão, o Estado bebe e come às custas do suor de “suas” vadias. Não satisfeito, sem parcimônia, usa da brutalidade sempre que as putas resolvem protestar. Cassetete, gás lacrimogênio, bala de borracha... Vez por outra, o algoz muda de estratégia. Usa a propaganda, paga, ironicamente, pelas próprias vítimas. Tenta confundir o público, buscando fazê-lo acreditar que “cidade” e “prostíbulo” são coisas distintas. O Estado, no Brasil, definitivamente, não nos representa! Somos um país acéfalo, sem verdadeira governança. O “Poder” não é público, mas atende a interesses privados. Executivo, Legislativo e Judiciário não passam de redutos de interesses espúrios e corporativos, tendo se tornado um fim em si mesmo. É a “casa” balançar, sob as intempéries de uma famigerada e duvidosa “crise”, o cafetão lança a culpa sobre as prostitutas. Usa de alguns jargões como se fossem mágicos e capazes de reverterem a incompetência crônica. “Meritocracia”, “gabinete popular”, “enxugamento da máquina”... Eufemismos a escamotearem a perversa intenção de estourar a corda do lado mais frágil. Enquanto o Estado cafetão se lambuza com seus privilégios e fartos manjares, perpetuados pela promíscua troca de favores partidários, as prostitutas lutam contra a desesperança e, muito comumente, se deixam levar pela lábia cafetina. Existem, ainda, aquelas que, numa espécie de “síndrome de Estocolmo”, desenvolvem uma doentia admiração pelo cafetão, deixando-se cooptar por um prato de lentilhas. Vadias, uni-vos! Rompamos os atávicos grilhões que amordaçam nossos sonhos. Subvertamos o status quo asqueroso que sustenta o cafetão, enfraquecendo-o e levando-o à míngua. Tomemos o prostíbulo e façamos dele um lugar limpo, justo e decente, onde todos sejam, de fato, iguais perante a lei, togados ou não, letrados ou não, alinhados ou não. Construamos um Estado, de fato, democrático, avesso a privilégios injustificados e intolerante com toda espécie de larápio, ainda que sob a forma de um cafetão.