EAD na EJA
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Mais do que um amontoado de letrinhas, a EAD na EJA suscita
uma série de reflexões. A Educação a Distância tem se proliferado pelos quatro
cantos do país. Como quase tudo, tem lá seus “prós” e “contras”. Por um lado, a
EAD na Educação de Jovens e Adultos representa a oportunidade para muitos de
concluírem uma ou mais etapas do ensino sem os contratempos do modo “presencial”.
Bom, talvez, para aqueles trabalhadores expostos a cargas extenuantes de
exercício laboral ou mães envolvidas com seus recém-nascidos, por exemplo. Bom
talvez, para aqueles poucos autodidatas, capazes de – em que pese inexistir acompanhamento
sistemático do educador – darem conta das ciências e conhecimentos construídos
ao longo da história. Por outro lado, a EAD na EJA pode representar, mesmo que
tácita e não reconhecidamente, uma espécie de pérfida e inaceitável
“higienização” do ambiente escolar, onde se varre para baixo do tapete ou do Mouse Pad alunos considerados indesejados.
Uma estratégia aparentemente interessante de mitigar problemas como
indisciplina, violência, infrequência e evasão, tão comuns nos ambientes
escolares. O asseio dos laboratórios de informática permite ao professor que
evite sujar as mãos com o pó de giz, além de, quem sabe, aliviar a “tensão”
decorrente do contato direto e diário com o educando. Este, muito comumente, é
visto como um “problema” e não como um “desafio”. Melhor, portanto, lança-lo
para além dos muros da escola. Questões legais, burocráticas e formais como
percentual mínimo de frequência são facilmente resolvidas mediante o
recolhimento de alguns “trabalhinhos” devidamente arquivados na pasta do aluno.
A presença física deste último, portanto, é dispensável. Cria-se, talvez, com a
EAD na EJA um ambiente tido como ideal. Para quem? No fundo, inexiste escola
ideal, assim como também não existem alunos, professores, pais e gestores
ideais. Assim, mister é que se pense numa instituição de ensino para pessoas não
tão perfeitas. Baixinhas, altinhas, gordinhas, magrinhas, ingênuas, maliciosas,
honestas, pouco confiáveis, ascetas, viciadas, politizadas, alienadas, atletas,
sedentárias, polidas, pouco amáveis... Enfim, pessoas. Estas, nem sempre ou
quase nunca se encaixam nos nossos “esquemas”. Ainda assim, insubstituíveis,
pois são elas que dão sentido ao “eu” e a tudo o que, direta ou indiretamente, orbita
em torno do “nós”, inclusive a escola. Educação de verdade e de qualidade não
deve prescindir da presença do educando. A “distância” põe em risco o vínculo,
matéria-prima fundamental no processo ensino-aprendizagem. Cabe à escola,
portanto, servir de força centrípeta para o convívio, mesmo que às vezes conflituoso.
Sejam as diferenças bem-vindas, assim como os pontos de vista e as
idiossincrasias de todas as espécies. Escola sem alunos soa como palco de
artistas sem plateia, gestante sem feto, oceano sem sal. Os educandos estão para a
escola, assim como o orvalho para flor. Complementam-se. A EAD na EJA deve ser
vista com cuidado, não simplista e radicalmente enjeitada ou descartada. Pode
ser útil, desde que aplicada e voltada para públicos específicos. Deve ser a
exceção, não a regra. Critérios claros e sensatos devem ser construídos, sem
perder de vista a qualidade do ensino ofertado. Deve prevalecer o interesse da
coletividade, pois é por causa dela que a escola deve pulsar. A EAD na EJA deve
ampliar e não cercear o sagrado direito de acesso e permanência do educando nos
assentos da escola.
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