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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

EAD na EJA


EAD na EJA
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Mais do que um amontoado de letrinhas, a EAD na EJA suscita uma série de reflexões. A Educação a Distância tem se proliferado pelos quatro cantos do país. Como quase tudo, tem lá seus “prós” e “contras”. Por um lado, a EAD na Educação de Jovens e Adultos representa a oportunidade para muitos de concluírem uma ou mais etapas do ensino sem os contratempos do modo “presencial”. Bom, talvez, para aqueles trabalhadores expostos a cargas extenuantes de exercício laboral ou mães envolvidas com seus recém-nascidos, por exemplo. Bom talvez, para aqueles poucos autodidatas, capazes de – em que pese inexistir acompanhamento sistemático do educador – darem conta das ciências e conhecimentos construídos ao longo da história. Por outro lado, a EAD na EJA pode representar, mesmo que tácita e não reconhecidamente, uma espécie de pérfida e inaceitável “higienização” do ambiente escolar, onde se varre para baixo do tapete ou do Mouse Pad alunos considerados indesejados. Uma estratégia aparentemente interessante de mitigar problemas como indisciplina, violência, infrequência e evasão, tão comuns nos ambientes escolares. O asseio dos laboratórios de informática permite ao professor que evite sujar as mãos com o pó de giz, além de, quem sabe, aliviar a “tensão” decorrente do contato direto e diário com o educando. Este, muito comumente, é visto como um “problema” e não como um “desafio”. Melhor, portanto, lança-lo para além dos muros da escola. Questões legais, burocráticas e formais como percentual mínimo de frequência são facilmente resolvidas mediante o recolhimento de alguns “trabalhinhos” devidamente arquivados na pasta do aluno. A presença física deste último, portanto, é dispensável. Cria-se, talvez, com a EAD na EJA um ambiente tido como ideal. Para quem? No fundo, inexiste escola ideal, assim como também não existem alunos, professores, pais e gestores ideais. Assim, mister é que se pense numa instituição de ensino para pessoas não tão perfeitas. Baixinhas, altinhas, gordinhas, magrinhas, ingênuas, maliciosas, honestas, pouco confiáveis, ascetas, viciadas, politizadas, alienadas, atletas, sedentárias, polidas, pouco amáveis... Enfim, pessoas. Estas, nem sempre ou quase nunca se encaixam nos nossos “esquemas”. Ainda assim, insubstituíveis, pois são elas que dão sentido ao “eu” e a tudo o que, direta ou indiretamente, orbita em torno do “nós”, inclusive a escola. Educação de verdade e de qualidade não deve prescindir da presença do educando. A “distância” põe em risco o vínculo, matéria-prima fundamental no processo ensino-aprendizagem. Cabe à escola, portanto, servir de força centrípeta para o convívio, mesmo que às vezes conflituoso. Sejam as diferenças bem-vindas, assim como os pontos de vista e as idiossincrasias de todas as espécies. Escola sem alunos soa como palco de artistas sem plateia, gestante sem feto, oceano sem sal. Os educandos estão para a escola, assim como o orvalho para flor. Complementam-se. A EAD na EJA deve ser vista com cuidado, não simplista e radicalmente enjeitada ou descartada. Pode ser útil, desde que aplicada e voltada para públicos específicos. Deve ser a exceção, não a regra. Critérios claros e sensatos devem ser construídos, sem perder de vista a qualidade do ensino ofertado. Deve prevalecer o interesse da coletividade, pois é por causa dela que a escola deve pulsar. A EAD na EJA deve ampliar e não cercear o sagrado direito de acesso e permanência do educando nos assentos da escola.

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