Translate

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

ALUNO, PARÂMETRO DELE MESMO

 

ALUNO, PARÂMETRO DELE MESMO

Prof. Gilvan Teixeira

e-mail: profpreto@gmail.com

blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


Na educação brasileira o que sobra em chavões, falta em qualidade. Os surrados clichês são incapazes de esconderem o flagrante caos em que se transformou o ensino nacional. Aprende-se pouco e aprende-se mal, em todas as etapas da Educação Básica e no ensino superior, salvo – obviamente – raras e honrosas exceções. O hecatombe educacional resulta, sabemos, de inúmeros e complexos fatores: insuficiência e mal uso de recursos públicos, precariedade física das instituições de ensino, despreparo dos professores, aviltantes salários pagos aos docentes, incompetência dos gestores à frente das Direções de escolas, Secretarias de governo loteadas por agentes políticos muitas vezes sem o menor compromisso com a educação, falta de acompanhamento e cumplicidade das famílias em relação à aprendizagem, indisciplina e descaso escolares por parte dos educandos, etc.. Problemas, portanto, não faltam. Contudo, em que pese o pífio nível de aprendizagem de nossas crianças e jovens – com inúmeras e graves consequências sociais, políticas e econômicas, por exemplo – o que vemos é uma grande apatia, escassez de vontade e indiferença frente ao dantesco quadro. É o que mais nos assusta e preocupa! Apesar de um discurso aqui, outro acolá, por vezes tomado de um corporativismo doentio, a impressão é que jogou-se a toalha. Tamanho problema agravou-se, ainda mais, com o advento da pandemia de Covid-19. O que era terrível ficou ainda pior. A sujeira há muito jogada sob o tapete, agora aparece às claras. Nossos alunos não deixaram de aprender em função do distanciamento social. Este apenas desnudou a imundície outrora mal escondida. Nossas escolas, Conselhos de Educação, gestores, professores mostraram ser – neste modelo fracassado – “dispensáveis”. Na melhor das hipóteses, a maioria das instituições, ditas de ensino, demonstra ser mero passatempo ou depósito de pessoas, mas não centros de pesquisa, construção do saber ou promotores da verdadeira cidadania. Há muito, não temos feito a diferença! Há muito, estamos mortos! Só falta enterrar. A pandemia, talvez, tenha servido para isso. Discutimos o número de dias letivos, carga horária, diferenciações conceituais… Por que não discutirmos o que é prioritário? Por que nossos alunos não aprendem? Por que passam mais de uma década dentro da escola e não sabem escrever com o mínimo de clareza ou interpretar um singelo texto? Por que são incapazes de resolverem uma simples equação? Por que mal escrevem ou falam a língua nativa? Por que demonstram dificuldade na pesquisa e elaboração de uma dissertação? Precisamos sim reinventar a roda! Urge revermos a forma de ensinar, deixando de lado discursos vazios e priorizando resultados. Assim como se espera a melhora do enfermo quando do diagnóstico e receituário dado pelo médico, também o processo ensino-aprendizagem deve levar ao efetivo crescimento do educando. Basta de mediocridade! Estamos idiotizando gerações inteiras, privando nossas crianças e jovens de um direito universal, (de)formando adultos flagrantemente incapazes de olharem além do próprio umbigo. Quem ganha com isso, senão aqueles que – há muito – surrupiam nossos sonhos e violam direitos básicos de nossa gente? O aluno é parâmetro dele mesmo! Qual parâmetro? Aquele que ninguém sabe qual é? Aquele que sequer o educador conhece? Frases como essa denunciam não apenas nossa incompetência enquanto educadores, mas também o medo da mudança. Intencionalmente ou não, revela nossa modorrenta teimosia em insistir no erro. Precisamos, assim como o aluno, ser avaliados constante e permanentemente em nossas práticas docentes. Estão dando bons e efetivos resultados? Foram alcançadas as metas (eis aqui uma expressão que causa pânico em muitos profissionais da educação…) estabelecidas? Ocorreu, de fato, a aprendizagem? Esta foi devidamente verificada e comprovada? Daí a importância da escola e seus profissionais também serem avaliados e cobrados pela sociedade. Educação não é espaço para novatos, aventureiros e descompromissados. Ao contrário, é algo muito sério, pois que base para o desenvolvimento social e econômico de um país. Precisa ser a “menina dos olhos” de todos os governos, o alicerce das políticas de Estado e a prioridade das famílias. O bom professor precisa ser valorizado por meio de um salário justo (não essas migalhas que hoje são jogadas a ele), de uma formação permanente, de um plano de carreira atrativo, pelo reconhecimento social… Por outro lado, precisa fazer a diferença, demonstrar afinco, produzir resultados. Estabeleçamos e tornemos claros os parâmetros que desejamos não apenas para o educando, mas também para nós mesmos, profissionais da educação.