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domingo, 27 de outubro de 2019

O SACRIFÍCIO DE ISAQUE

O SACRIFÍCIO DE ISAQUE
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

Passado algum tempo, Deus pôs Abraão à prova, dizendo-lhe: "Abraão!" Ele respondeu: "Eis-me aqui". Então disse Deus: "Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto num dos montes que lhe indicarei". Na manhã seguinte, Abraão levantou-se e preparou o seu jumento. Levou consigo dois de seus servos e Isaque seu filho. Depois de cortar lenha para o holocausto, partiu em direção ao lugar que Deus lhe havia indicado. No terceiro dia de viagem, Abraão olhou e viu o lugar ao longe. Disse ele a seus servos: "Fiquem aqui com o jumento enquanto eu e o rapaz vamos até lá. Depois de adorarmos, voltaremos". Abraão pegou a lenha para o holocausto e a colocou nos ombros de seu filho Isaque, e ele mesmo levou as brasas para o fogo, e a faca. E caminhando os dois juntos, Isaque disse a seu pai Abraão: "Meu pai!" "Sim, meu filho", respondeu Abraão. Isaque perguntou: "As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está o cordeiro para o holocausto?". Respondeu Abraão: "Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho". E os dois continuaram a caminhar juntos. Quando chegaram ao lugar que Deus lhe havia indicado, Abraão construiu um altar e sobre ele arrumou a lenha. Amarrou seu filho Isaque e o colocou sobre o altar, em cima da lenha. Então estendeu a mão e pegou a faca para sacrificar seu filho. Mas o Anjo do Senhor o chamou do céu: "Abraão! Abraão!" "Eis-me aqui", respondeu ele. "Não toque no rapaz", disse o Anjo. "Não lhe faça nada. Agora sei que você teme a Deus, porque não me negou seu filho, o seu único filho." Abraão ergueu os olhos e viu um carneiro preso pelos chifres num arbusto. Foi lá, pegou-o e sacrificou-o como holocausto em lugar de seu filho. Gênesis 22:1-13

               

                O que dizer acerca da narrativa acima? O sacrifício de Isaque, ao que tudo indica, era uma demonstração de inabalável fé. Apesar do amor por seu filho, Abraão não titubeou ao levar o rebento à Moriá. A atitude do Patriarca rendeu-lhe incontáveis frutos, fazendo dele – até os dias de hoje – referência de fé entre inúmeras denominações religiosas. Quanto a nós? Quais têm sido nossos sacrifícios? Para onde temos levado e oferecido nosso Isaque? São outros tempos, outras intenções, outras consequências. O que vemos é nosso Isaque abandonado à própria sorte, estendido sobre a pedra fria, enquanto a lâmina certeira do cutelo desce, violentamente, em direção à cabeça do holocausto. Sacrifício para quem? Para quê? Pelo visto, não sabemos. Quanto deve ter sido difícil para Abraão a interminável travessia até o local do sacrifício. Quanta coisa deve ter passado pela cabeça do Patriarca: lembranças, planos, dúvidas... Três dias de aflição. Contudo, a confiança do “pai de muitas nações” parecia superar tudo aquilo: "Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho". Nosso Isaque, ao contrário, tem sido destinado ao sacrifício sem que percebamos. São anos caminhando a esmo, à espreita da morte. As cabeças curvadas, atentas à tela do celular, parecem anestesiadas, tornando-os, pai e filho, insensíveis aos inúmeros perigos da estrada. Movido pela “proteção” doentia, que aniquila a autonomia e priva o rebento das ferramentas necessárias à vida, carregamos nós mesmos a lenha, enquanto sobre os ombros de nosso Isaque depositamos, ainda que inconscientemente, nossa mais profunda desatenção. Vamos, feito ébrios, tutor e tutelado, serpenteando em meio ao caminho, sem perceber as feridas provocadas pelos espinhos contaminados pelo pernicioso relativismo a mascarar o desprezo à vida. Mesmo o sangue a verter pelo franzino corpo de nosso Isaque mostra-se insuficiente para romper a letargia de quem por ele deveria zelar. Enquanto brotam e se multiplicam os sinais de alguém que definha, prevalece a indiferença, ainda que não intencional. Qual será o fim dessa história? A mesma do Patriarca? Quem há de salvar nosso Isaque? Sob o comando de quem está o cutelo? Ajamos enquanto há tempo!