NENA, DODA E ROSA
Gilvan
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Eram três. Inseparáveis. Não eram poucos a afirmarem
serem elas uma só. Nasceram juntas, lá para as bandas do limite entre os dois
estados mais meridionais do país, contudo pertenciam a épocas distintas.
Siamesas só na formalidade cartorial, pois que na vida eram terra e mar, noite
e dia. Nena parecia jamais ter crescido, pois que eterna e teimosamente guria.
Conservava, ainda, os cachos daqueles tempos. Doda, por sua vez, transpirava
uma espécie de adolescência duradoura, mal escondendo a sexualidade à flor da
pele. Rosa, por fim, pousava de madura, em que pese os incontáveis
“escorregões” a aproximá-la das outras duas. Univitelinas, mas – por vezes –
diametralmente opostas. Nuances da feminilidade num único corpo. Incompreensível
para alguns, para elas não. Compreensível, natural e necessário. Um só
invólucro para tempos e experiências tão distantes. Amálgama de sentimentos,
memórias e desejos. Alguns deles pueris, outros nem tanto. Alguns deles
ingênuos, outros carregados de malícia. Pecaminosos ou não, aos olhos de
outrem, porém todos sinceros. Cinco, quinze ou cinquenta. Pouco importava a
cronologia humana. Sentiam-se senhoras do tempo, por ele não se deixando
subjugar. Enquanto Nena ainda brincava com a boneca de pano e, diante da chuva,
lançava nacos de sabão sobre o telhado da casa, Doda se deleitava com a leitura
dos livros desbotados e de capa dura, recheados de príncipes e princesas, fadas
e duendes, mocinhos e bandidos. Rosa, por sua vez, muito comumente ficava a se
perguntar o porquê de todas aquelas atas, ofícios, pareceres e resoluções. Às
vezes, admitia, sentia uma ponta de ciúmes e inveja da Nena e da Doda. A
maioridade tinha lá suas vantagens, é verdade. Quais? Não sabia ao certo. Por
sinal, as certezas há algum tempo deixaram de ser amigas. Veja só, mais uma vez
se via a lamentar. Nena e Doda, se por um lado gozavam da seiva jovial, por
outro, desconheciam muitos dos amores vividos, do enlace dos corpos e das
carícias trocadas. Afinal, a vida é assim mesmo, cheia de idas e vindas. Feito
as ondas do mar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário