Translate

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

NENA, DODA E ROSA


NENA, DODA E ROSA
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Eram três. Inseparáveis. Não eram poucos a afirmarem serem elas uma só. Nasceram juntas, lá para as bandas do limite entre os dois estados mais meridionais do país, contudo pertenciam a épocas distintas. Siamesas só na formalidade cartorial, pois que na vida eram terra e mar, noite e dia. Nena parecia jamais ter crescido, pois que eterna e teimosamente guria. Conservava, ainda, os cachos daqueles tempos. Doda, por sua vez, transpirava uma espécie de adolescência duradoura, mal escondendo a sexualidade à flor da pele. Rosa, por fim, pousava de madura, em que pese os incontáveis “escorregões” a aproximá-la das outras duas. Univitelinas, mas – por vezes – diametralmente opostas. Nuances da feminilidade num único corpo. Incompreensível para alguns, para elas não. Compreensível, natural e necessário. Um só invólucro para tempos e experiências tão distantes. Amálgama de sentimentos, memórias e desejos. Alguns deles pueris, outros nem tanto. Alguns deles ingênuos, outros carregados de malícia. Pecaminosos ou não, aos olhos de outrem, porém todos sinceros. Cinco, quinze ou cinquenta. Pouco importava a cronologia humana. Sentiam-se senhoras do tempo, por ele não se deixando subjugar. Enquanto Nena ainda brincava com a boneca de pano e, diante da chuva, lançava nacos de sabão sobre o telhado da casa, Doda se deleitava com a leitura dos livros desbotados e de capa dura, recheados de príncipes e princesas, fadas e duendes, mocinhos e bandidos. Rosa, por sua vez, muito comumente ficava a se perguntar o porquê de todas aquelas atas, ofícios, pareceres e resoluções. Às vezes, admitia, sentia uma ponta de ciúmes e inveja da Nena e da Doda. A maioridade tinha lá suas vantagens, é verdade. Quais? Não sabia ao certo. Por sinal, as certezas há algum tempo deixaram de ser amigas. Veja só, mais uma vez se via a lamentar. Nena e Doda, se por um lado gozavam da seiva jovial, por outro, desconheciam muitos dos amores vividos, do enlace dos corpos e das carícias trocadas. Afinal, a vida é assim mesmo, cheia de idas e vindas. Feito as ondas do mar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário