CONAN (OU SERÁ CONAE?), O BÁRBARO
Gilvan
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Saudade
dos tempos de herói. Como esquecer daquelas batalhas homéricas, das lutas corpo
a corpo tendo à mão a espada forjada pela tradição dos antepassados? Poucas não
foram as histórias onde, por um triz, sobrevivera. Só em menor número do que os
inimigos mortos. Sem dó e nem piedade. Parecia sentir, ainda, o cheiro do
sangue em meio às intermináveis pradarias. Não lhe saía da memória os olhos
esbugalhados do infeliz atravessado pela navalha. Era temido, de norte a sul,
do ocidente ao lado que nasce o Sol. Conan, o Bárbaro. Tema de filmes, trilhas
sonoras. Povoara a imaginação libidinosa de mulheres, servira de modelo aos
homens. Músculos e mais músculos. Derrubava, naqueles tempos, dois touros de
uma só vez. Certa feita, rasgara a boca de um leão. Coisa de causar inveja a
Sansão e Golias. O que era Hércules comparado a ele? Quanta saudade daqueles
tempos... Agora, quem diria, todos passavam de largo diante dele. Ser
desprezível, anônimo, comum. Enfiado ali, no terceiro andar daquele prédio de
Cachoeirinha City, era nada mais do que um singelo servidor público a esperar a
minguada aposentadoria. O olhar agudo e assustador de outrora há muito cedera
lugar às lentes a lhe corrigir a miopia. Sem autógrafos, sem reconhecimento.
Sequer um aceno de cabeça. Quanto às mulheres, ou chamavam-lhe de “tio”, ou
cediam a ele o lugar no elevador. Deprimente. Conan? Quem? Esquecido em meio à
poeira do passado. Os poucos que o conheciam, o chamavam, isto sim, era de
Conae. Por quê? Ninguém sabia ao certo. A origem do nome, nem ele próprio sabia.
Nome não, alcunha! Alguns diziam que era produto de um surto psicótico que o
infeliz tivera após um esgotamento nervoso. Ao que parece, teria sido em
decorrência de uma conferência ocorrida há alguns anos, onde coubera a ele
parte da sistematização dos ditos “eixos”. Não podia nem ouvir falar neles.
Causavam-lhe arrepios. Segundo diziam, o coitado, por dias a fio, não parava de
balbuciar “três, três, três...”, enquanto batia a cabeça contra a mesa. Era
querer vê-lo nervoso, bastava convidá-lo a visitar Sapiranga, Santa Maria, Taquara...
São Sebastião do Caí, então... Durante muito tempo, não dizia coisa com coisa.
Chegara ao ponto de quase se lançar pela janela. Não fosse os conselhos da
Índia – que, nas horas vagas, vendia pães –, teria passado desta para melhor. Algumas
lendas foram se formando em torno do pobre homem. Os mais maldosos teriam,
inclusive, espalhado a falsa notícia de que Conae assassinara suas colegas de
trabalho e escondido os corpos sob o sanitário. Pura invencionice. Era incapaz
de fazer mal a uma mosca. Vivia só. Ele e a saudade dos tempos de herói.
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