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domingo, 1 de setembro de 2013

CONAN (OU SERÁ CONAE?), O BÁRBARO


CONAN (OU SERÁ CONAE?), O BÁRBARO
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Saudade dos tempos de herói. Como esquecer daquelas batalhas homéricas, das lutas corpo a corpo tendo à mão a espada forjada pela tradição dos antepassados? Poucas não foram as histórias onde, por um triz, sobrevivera. Só em menor número do que os inimigos mortos. Sem dó e nem piedade. Parecia sentir, ainda, o cheiro do sangue em meio às intermináveis pradarias. Não lhe saía da memória os olhos esbugalhados do infeliz atravessado pela navalha. Era temido, de norte a sul, do ocidente ao lado que nasce o Sol. Conan, o Bárbaro. Tema de filmes, trilhas sonoras. Povoara a imaginação libidinosa de mulheres, servira de modelo aos homens. Músculos e mais músculos. Derrubava, naqueles tempos, dois touros de uma só vez. Certa feita, rasgara a boca de um leão. Coisa de causar inveja a Sansão e Golias. O que era Hércules comparado a ele? Quanta saudade daqueles tempos... Agora, quem diria, todos passavam de largo diante dele. Ser desprezível, anônimo, comum. Enfiado ali, no terceiro andar daquele prédio de Cachoeirinha City, era nada mais do que um singelo servidor público a esperar a minguada aposentadoria. O olhar agudo e assustador de outrora há muito cedera lugar às lentes a lhe corrigir a miopia. Sem autógrafos, sem reconhecimento. Sequer um aceno de cabeça. Quanto às mulheres, ou chamavam-lhe de “tio”, ou cediam a ele o lugar no elevador. Deprimente. Conan? Quem? Esquecido em meio à poeira do passado. Os poucos que o conheciam, o chamavam, isto sim, era de Conae. Por quê? Ninguém sabia ao certo. A origem do nome, nem ele próprio sabia. Nome não, alcunha! Alguns diziam que era produto de um surto psicótico que o infeliz tivera após um esgotamento nervoso. Ao que parece, teria sido em decorrência de uma conferência ocorrida há alguns anos, onde coubera a ele parte da sistematização dos ditos “eixos”. Não podia nem ouvir falar neles. Causavam-lhe arrepios. Segundo diziam, o coitado, por dias a fio, não parava de balbuciar “três, três, três...”, enquanto batia a cabeça contra a mesa. Era querer vê-lo nervoso, bastava convidá-lo a visitar Sapiranga, Santa Maria, Taquara... São Sebastião do Caí, então... Durante muito tempo, não dizia coisa com coisa. Chegara ao ponto de quase se lançar pela janela. Não fosse os conselhos da Índia – que, nas horas vagas, vendia pães –, teria passado desta para melhor. Algumas lendas foram se formando em torno do pobre homem. Os mais maldosos teriam, inclusive, espalhado a falsa notícia de que Conae assassinara suas colegas de trabalho e escondido os corpos sob o sanitário. Pura invencionice. Era incapaz de fazer mal a uma mosca. Vivia só. Ele e a saudade dos tempos de herói.

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