CONVERSA PARA BOI DORMIR
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Não fosse trágico, nosso país seria o paraíso da
comédia e das cenas hilariantes. Quem não tem acompanhado, através de uma
imprensa muitas vezes sensacionalista, a “indignação” do governo brasileiro
face à pretensa espionagem do Tio Sam?
Reação, ao que parece, teatral, cênica, conversa para boi dormir. Como se fosse
novidade a espionagem, seja ela nas próprias entranhas do país, seja a do tipo
alegada pelo nosso (?) governo. Internamente, grampo telefônico, venda de dados
pessoais, espionagem industrial são como pé carregado de chuchu.
Internacionalmente, não é diferente. Tão antiga quanto o homem. A espionagem
antecede o advento do Estado Moderno. Está aí, por exemplo, a Literatura para
nos dar algumas amostras das intrigas palacianas. Assim, a espionagem perpassa
todas as Idades e tempos da história. Não poupa qualquer civilização, por mais
estranha que nos soe a cultura. Por que seria diferente hoje? Ora bolas, o
avanço tecnológico, cada vez mais, cria novas ferramentas de bisbilhotagem alheia. Talvez nem precisasse, afinal – feito peixes
– morremos pela boca (virtual!), ou seria pelos dedos? Fornecemos,
irresponsável mas voluntariamente, para o mundo nosso “perfil” completo. A
bandidagem agradece! Nossa nudez, que antes ficava entre quatro paredes,
tornou-se pública. Ainda assim, por vezes, seguimos num discurso pudico e
hipócrita. Portanto, conversa para boi dormir. O governo brasileiro reclama do
quê mesmo? Dá publicidade ao que é banal, apesar de não dito. Tão banal quanto
a corrupção, malversação de recursos, violência, precariedade dos serviços públicos,
marginalização de enormes parcelas da população, descontrole orçamentário...
Haja boi para fazer dormir diante de tamanho barulho. Não por acaso, os
marqueteiros do governo, com alguma frequência, mudam o tamanho, a cor ou o
nome do boi: Carnaval, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas, Mega
Sena da Virada. Uma boiada! O boi da vez é a espionagem americana. No fundo, a
tentativa de desviar os holofotes (ou parte deles) para outras questões que não
a da incapacidade do Estado brasileiro em cumprir com suas obrigações
constitucionais. Estratégia tão antiga quanto o próprio boi. É verdade que, às
vezes, a artimanha governamental não funciona e o boi vai para o brejo. Salve-se
quem puder. A merda, até então disfarçada pelo cheiro da perfumaria do Estado,
fede como nunca. É quando, então, muitos tomam as ruas e praças a procura de ar
fresco. Rolam cabeças (a corda costuma arrebentar do lado mais fraco), enquanto
sobram discursos e promessas. Apressam-se os porta-vozes do ente público em
acharem explicações para o injustificável. Ante o estrondo e o cheiro fétido
(que faz lembrar o ar dos corredores de hospitais e presídios) busca-se uma boa
história, mesmo que de além-mar ou da parte rica da América (santo de casa não
faz milagre!): conversa para boi dormir.
Excelente, Gilvan! Brilhante mais uma vez! Vou compartilhar!
ResponderExcluirMais triste do que brilhante (ah, ah, ah). É sempre bom saber que pessoas especiais usam parte do tempo para lerem o que escrevo. Gratificante. Abraço deste eterno amigo. Gilvan.
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