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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

MENDICÂNCIA PEDAGÓGICA


MENDICÂNCIA PEDAGÓGICA
Prof. Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

               

                Ser professor é tarefa árdua. Ser professor de escola pública, mais ainda. Ser professor de escola pública estadual do Rio Grande do Sul é quase uma tragédia, quando não caso de polícia. O que estão fazendo com os educadores? A situação é para lá de desesperadora. Salários aviltantes (abaixo dos já parcos valores garantidos em lei), condições de trabalho aquém do razoável, jornadas de trabalho extenuantes, estruturas físicas das escolas deterioradas, alunos desestimulados, pais cada vez mais omissos... As exceções só comprovam a regra. Frente ao dantesco quadro, o que se vê é um governo absoluta e perigosamente perdido. Discursos e promessas não faltam. A práxis, contudo, é escassa. Incompetência, inoperância e ineficácia se misturam nesse triste caldeirão da desesperança. O professorado acaba por ser penalizado várias vezes. O é quando se depara com os valores pífios trazidos no contracheque, quando tem sua imagem maculada frente à dita “opinião pública”, sendo taxado de “chorão” e avesso ao trabalho. É penalizado, ainda, quando precisa assumir a responsabilidade pelo cumprimento de um calendário repleto de horas e dias letivos, sem a mínima garantia de qualidade. Fica o professor entre a cruz e o punhal. A estratégia dos “donos do poder”, ao que parece, tem surtido efeito. Desmobilizou a classe. Paralisar ou ter que trabalhar nos meses costumeiramente tidos como de férias? Criou-se no educador a síndrome da vítima. Esta, ironicamente, ao mesmo tempo em que sofre nas mãos do algoz, sente-se culpada. O servidor, ao mesmo tempo em que é “violentado” pelo Estado, sente-se culpado em desejar gozar momentos de prazer e alegria nos meses de verão. Pérfida e diabólica ironia. Há muito, neste país – e de forma muito particular neste Rio Grande – tem se criado e recrudescido uma espécie de autocomiseração por parte dos professores. Hora nos menosprezamos, hora nos menosprezam. Ser mediocrizado – e os valores pagos atestam de maneira inequívoca o desprezo pela classe – soa como “natural”, aceitável e plausível. Grande engodo. Por que não dispensar tratamento pecuniário similar (e vergonhoso!) a juízes, desembargadores, procuradores, médicos... Funções e rubricas orçamentárias diferentes? Sim, é verdade. Ainda assim, injustificável a oceânica diferença salarial em desfavor do magistério. A recomposição salarial dos professores é urgente e necessária. Sem ela, resta comprometida e impossível a busca da qualidade no ensino. Ninguém dá o que não tem. Como trabalhar conceitos como o da dignidade sem vivenciá-los? A situação do educador gaúcho é vexatória, degradante e desumana. Atenta contra a dignidade da pessoa humana e, portanto, contra diversos diplomas legais, nacionais ou não. Representa um tapa no futuro e lança por terra muitos dos sonhos e utopias. A mendicância pedagógica marginaliza não apenas o professor, mas todos os que dele dependem. Marginaliza a família do educador (sim, senhores governantes, o professor tem família!), assim como põe à margem, também, a comunidade escolar como um todo. Não por acaso, o ensino público vai de mal a pior. Pouco e mal se aprende. A flagrante mediocridade intelectual dos educandos é, por certo, resultante – em grande parte – da mendicância que assola o professor. É passada a hora de uma verdadeira, profunda e emergencial transformação no ensino destes páreos, mudança esta que passa, necessária e obrigatoriamente, pela real valorização profissional do magistério.   

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