MENDICÂNCIA PEDAGÓGICA
Prof. Gilvan
Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Ser professor é tarefa árdua. Ser professor de escola
pública, mais ainda. Ser professor de escola pública estadual do Rio Grande do
Sul é quase uma tragédia, quando não caso de polícia. O que estão fazendo com
os educadores? A situação é para lá de desesperadora. Salários aviltantes
(abaixo dos já parcos valores garantidos em lei), condições de trabalho aquém
do razoável, jornadas de trabalho extenuantes, estruturas físicas das escolas
deterioradas, alunos desestimulados, pais cada vez mais omissos... As exceções
só comprovam a regra. Frente ao dantesco quadro, o que se vê é um governo
absoluta e perigosamente perdido. Discursos e promessas não faltam. A práxis,
contudo, é escassa. Incompetência, inoperância e ineficácia se misturam nesse
triste caldeirão da desesperança. O professorado acaba por ser penalizado
várias vezes. O é quando se depara com os valores pífios trazidos no
contracheque, quando tem sua imagem maculada frente à dita “opinião pública”,
sendo taxado de “chorão” e avesso ao trabalho. É penalizado, ainda, quando
precisa assumir a responsabilidade pelo cumprimento de um calendário repleto de
horas e dias letivos, sem a mínima garantia de qualidade. Fica o professor
entre a cruz e o punhal. A estratégia dos “donos do poder”, ao que parece, tem surtido
efeito. Desmobilizou a classe. Paralisar ou ter que trabalhar nos meses
costumeiramente tidos como de férias? Criou-se no educador a síndrome da
vítima. Esta, ironicamente, ao mesmo tempo em que sofre nas mãos do algoz,
sente-se culpada. O servidor, ao mesmo tempo em que é “violentado” pelo Estado,
sente-se culpado em desejar gozar momentos de prazer e alegria nos meses de
verão. Pérfida e diabólica ironia. Há muito, neste país – e de forma muito
particular neste Rio Grande – tem se criado e recrudescido uma espécie de
autocomiseração por parte dos professores. Hora nos menosprezamos, hora nos
menosprezam. Ser mediocrizado – e os valores pagos atestam de maneira
inequívoca o desprezo pela classe – soa como “natural”, aceitável e plausível.
Grande engodo. Por que não dispensar tratamento pecuniário similar (e
vergonhoso!) a juízes, desembargadores, procuradores, médicos... Funções e rubricas
orçamentárias diferentes? Sim, é verdade. Ainda assim, injustificável a
oceânica diferença salarial em desfavor do magistério. A recomposição salarial
dos professores é urgente e necessária. Sem ela, resta comprometida e
impossível a busca da qualidade no ensino. Ninguém dá o que não tem. Como
trabalhar conceitos como o da dignidade sem vivenciá-los? A situação do
educador gaúcho é vexatória, degradante e desumana. Atenta contra a dignidade
da pessoa humana e, portanto, contra diversos diplomas legais, nacionais ou
não. Representa um tapa no futuro e lança por terra muitos dos sonhos e
utopias. A mendicância pedagógica marginaliza não apenas o professor, mas todos
os que dele dependem. Marginaliza a família do educador (sim, senhores
governantes, o professor tem família!), assim como põe à margem, também, a
comunidade escolar como um todo. Não por acaso, o ensino público vai de mal a
pior. Pouco e mal se aprende. A flagrante mediocridade intelectual dos
educandos é, por certo, resultante – em grande parte – da mendicância que
assola o professor. É passada a hora de uma verdadeira, profunda e emergencial
transformação no ensino destes páreos, mudança esta que passa, necessária e
obrigatoriamente, pela real valorização profissional do magistério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário