A DITADURA E A ESQUERDA NO BRASIL
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
A Ditadura Militar no Brasil, que se estendeu entre
1964 e 1985 – na prática, contudo, só voltamos a eleger (errado!) o presidente
em 1989 –, esteve marcada pelo significativo crescimento da economia, mas,
também, pelo cerceamento de importantes direitos, como o da liberdade de
expressão. Tempos difíceis? Para quem? Por certo, para alguns, sim. À época, a
participação política restava prejudicada, por exemplo, pelo bipartidarismo. A
verdadeira oposição se dava à margem do sistema partidário. A dita “esquerda”
no Brasil vivenciou momentos delicados, onde não foram incomuns a perseguição,
a tortura e o ostracismo. O discurso combativo ao regime militar vinha ao
encontro de importantes segmentos da sociedade. Parte desta, contudo, é bom que
se diga, se mostrava simpática ao sistema implantado em 1964. Inexistia
unanimidade de parte a parte. O tempo escoou e muitos dos antigos militantes de
esquerda – após a chamada “redemocratização” – assumiram postos importantes em
todas as esferas de poder, postos estes conquistados ou pelo voto ou pela
“proximidade” com os donos do poder. Multiplicaram-se os cargos de confiança e
funções gratificadas na mesma proporção que se deterioraram os já precários
serviços públicos. Ao que parece, a memória dos equívocos tão condenados pela
esquerda durante os “anos de chumbo” ficou perdida em meio às páginas
amareladas dos livros de história. O discurso revolucionário de transformação
das estruturas socioeconômicas esfarelou-se. Os descaminhos e práticas
condenáveis do passado ditatorial seguem de vento em popa. Não menos comuns são
a política de apadrinhamento, a compra de votos, as negociatas e os lobbies dos grupos econômicos junto ao
Estado como um todo. Independência do Judiciário? Autonomia do Legislativo?
Eficácia do Executivo? Apenas balela. O Estado brasileiro do pós-Ditadura guarda
mais semelhanças do que diferenças em relação ao passado. Apesar da
multiplicidade de bandeiras partidárias, a prática é – salvo honrosas exceções
– a mesma de outrora. Jogo de interesses, troca de benesses e muita, muita
mesmo, encenação! Os “mocinhos” da Ditadura, muitos deles, se transformaram em
vilões. Os vícios horrendos por eles condenados se transformaram em práticas
corriqueiras em meio aos corredores de palácios, prefeituras, tribunais,
câmaras e assembleias. Vale mais um antigo militante corrupto do que um
torturador do DOPS? Imensurável é o dano causado por ambos ao “patrimônio”,
principalmente, social e ético do país. Fazem acreditar que “direita”,
“esquerda” e “centro” apontam para o mesmo lado, lado este diametralmente
oposto ao interesse da maioria. Reforçam a desconfiança em relação ao pretenso
Estado Democrático de Direito, exacerbam a apatia política, dilaceram e
soterram sonhos e utopias. Crime por deveras hediondo, pois contra o mais
precioso e caro bem de um povo: a esperança!
Nenhum comentário:
Postar um comentário