ESPINHOS QUE FALAM
Gilvan
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Gosto de falar sobre rosas. Elas espinham, mas
principalmente encantam. São singulares e nobres. Acima de tudo belas. Tamanha
beleza nasce, talvez, da altivez própria das rosas. Altivas, mas sem
prepotência, sem arrogância. Espinham, porém não espezinham. Machucam a carne,
mas envaidecem o espírito. São espinhos de um tipo único, especial. Espinhos
que falam direto à alma, ao coração. Dispensam palavras, textos bem elaborados
ou vocábulos pedantes. Falam por si só. Falam direta e abertamente. Envoltos em
silêncio ou permeados por música, os espinhos das rosas são como notas musicais.
Perfeitos, completos. Basta um pouco de poesia e de sensibilidade e as notas (digo,
espinhos!), de per si, tratam de fazer o resto, como que por encanto. Na
simplicidade dos espinhos descansa parte, talvez toda, beleza das rosas. Espinhos
que ensinam, que admoestam, que nos fazem lembrar o quanto, ainda, somos
humanos. Uma vez que nos espetam, desencadeiam reações das mais díspares e
adversas. Reações visceralmente humanas. Vão da raiva ao amor e da dor ao
êxtase. Reações contraditórias? Absolutamente. Apenas humanas. Os espinhos das
rosas nos despertam para nossa inafastável carnalidade. Por isso somos
especiais. É o que nos aproxima, nos familiariza. O sangue que brota da ação
dos espinhos nos traz para realidade, nem que por ínfimo instante. Breve, mas
rico momento. Lapso de tempo onde flui a humildade, mesmo que forçada. Faz
lembrar nossa temporalidade e transitoriedade. Aniquila nossa espiritualidade?
Nada disso, a reforça. Os espinhos das rosas são, portanto, proféticos. Falam
de dias vindouros. São o limite entre o que somos e o que desejamos ser. Entre
nossos vícios e nossos desejos. Nossas deficiências e nossas utopias. Os
espinhos das rosas trazem o poder da subversão, da mudança, da reação. Trazem,
também, o DNA da esperança. Os espinhos, na sua aparente rudeza, denotam a proteção
das rosas. O que seria destas sem seus espinhos? O que seria de nós sem as
rosas?
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