PARECE QUE FOI ONTEM
Gilvan
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Ainda ontem era uma criança. Seis ou sete anos,
talvez. Nascia o Parque Madepinho e, com ele, a concretização do sonho de muitas
famílias como a minha, o sonho da casa própria! Morava na Rua “D”, número
quarenta e cinco. Por vizinhos, gurizada como o Lísio (acho que o verdadeiro nome
era Aloísio...) e o Ângelo. Tinha, ainda, a “casa da esquina”, uma das mais
bonitas, onde íamos tomar banho de piscina nos dias quentes de verão. Tempos
bons aqueles. Quem sabe, por serem tempos que ficaram para trás. A saudade é
assim mesmo. Colore, por vezes, tempos idos que, no fundo, eram um tanto que
opacos. A memória dos tempos de criança é como que graça divina. Mesmo as dores,
privações e sofrimentos assumem com alguma frequência um ar de doce melancolia.
Aquelas noites de São João, onde pulávamos a fogueira. O Bar do Ventura, com
suas promoções de Páscoa. As brincadeiras de bexiguinha. Os passeios na Praça.
Bons tempos... Ainda trago viva na memória a lembrança da época em estudei no
São Francisco. Cinco anos. Meia década como aluno da Escola onde hoje trabalho.
Lembro de alguns professores, das orações no início da manhã, do aperto de mãos
estampado no uniforme, das Gincanas e caminhadas que movimentavam a região. Ainda
ouço o minuano soprando no inverno, encarangando até os ossos, quando eu e meus
irmãos andávamos o que parecia um eito para chegarmos até o São Chico. Por
vezes, nas noites mais frias, dormíamos já uniformizados, sem que o Tonico, meu
já falecido pai, e Dona Geci, soubessem, é claro. Foi assim que começou minha
história de amor pela Escola. No decorrer dos cinco anos em que estudei no São
Francisco, mudei do Madepinho para próximo ao Parque dos Maias. Coube a meu avô
construir a casa. Era de madeira. Enquanto construía, por vezes, eu e alguns
amigos brincávamos de carrinho de lomba. As rodinhas de rolimã iam na mesma
velocidade de nossos sonhos. Não demorou, mudamos novamente. Agora para
Cachoeirinha. Fui transferido de escola. O tempo passou, pois que não para e
nem tampouco dá trégua. Cada um seguiu o próprio caminho. Eu e o São Chico.
Crescemos ambos. A separação – feito dois eternos amantes compromissados por
juras de amor – só fez aguçar, ainda mais, o respeito e admiração. Após
formado, fui convidado por uma ex-colega de universidade a lecionar na Escola
de minha infância. Iniciava-se uma nova década (1992). Com ela, um misto de
tristeza e esperança. Meu pai sofrera um “derrame”, debilitando-o para o resto
da vida. A dor aos poucos foi sendo superada com trabalho e o apoio de amigos e
familiares. Entraram e saíram presidentes – alguns pela “porta” dos fundos –,
governadores e prefeitos. Muitos foram os alunos que me deram a oportunidade
de, com eles, aprender. Compartilhamos, juntos, muitas alegrias e algumas
tristezas. Estas, por vezes, personificadas na perda de professores e alunos.
Quantas Gincanas e campeonatos? Quantas caminhadas e festivais? Quantas missas
e ações sociais? Quantos Conselhos de Classe e formações de professores?
Quantos Retiros e encontros com a comunidade? Quantas entregas de boletins e
confraternizações? Quantas Páscoas e Natais? Aulas? Inúmeras. Atendimento aos alunos
e pais? Incontáveis. Vinte anos de São Francisco. Quase metade da linha de
tempo da própria Escola. Nessas duas décadas, casei, nasceram meus três amados
filhos, perdi meu pai, troquei de casa poucas vezes e de carro algumas... O que
não mudou foi a convicção de que é através da educação que se constrói uma
sociedade mais justa e fraterna. A certeza de que o processo
ensino-aprendizagem requer, acima de tudo, amor. Sim, um amor fundado na
paciência, mas na exigência. Um amor pautado no diálogo, mas no respeito à
autoridade. Um amor alicerçado na liberdade, mas de mão dadas com os limites
claros e necessários. Um amor voltado à paz, mas avesso à injustiça. Assim, o
Jubileu da Rede de Escolas São Francisco é, para este humilde servo, um momento
ímpar, pois que a história do velho São Chico está íntima e umbilicalmente
ligada à minha própria história. Parabéns a todos nós!
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