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terça-feira, 2 de outubro de 2012

PARECE QUE FOI ONTEM



PARECE QUE FOI ONTEM
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com

                Ainda ontem era uma criança. Seis ou sete anos, talvez. Nascia o Parque Madepinho e, com ele, a concretização do sonho de muitas famílias como a minha, o sonho da casa própria! Morava na Rua “D”, número quarenta e cinco. Por vizinhos, gurizada como o Lísio (acho que o verdadeiro nome era Aloísio...) e o Ângelo. Tinha, ainda, a “casa da esquina”, uma das mais bonitas, onde íamos tomar banho de piscina nos dias quentes de verão. Tempos bons aqueles. Quem sabe, por serem tempos que ficaram para trás. A saudade é assim mesmo. Colore, por vezes, tempos idos que, no fundo, eram um tanto que opacos. A memória dos tempos de criança é como que graça divina. Mesmo as dores, privações e sofrimentos assumem com alguma frequência um ar de doce melancolia. Aquelas noites de São João, onde pulávamos a fogueira. O Bar do Ventura, com suas promoções de Páscoa. As brincadeiras de bexiguinha. Os passeios na Praça. Bons tempos... Ainda trago viva na memória a lembrança da época em estudei no São Francisco. Cinco anos. Meia década como aluno da Escola onde hoje trabalho. Lembro de alguns professores, das orações no início da manhã, do aperto de mãos estampado no uniforme, das Gincanas e caminhadas que movimentavam a região. Ainda ouço o minuano soprando no inverno, encarangando até os ossos, quando eu e meus irmãos andávamos o que parecia um eito para chegarmos até o São Chico. Por vezes, nas noites mais frias, dormíamos já uniformizados, sem que o Tonico, meu já falecido pai, e Dona Geci, soubessem, é claro. Foi assim que começou minha história de amor pela Escola. No decorrer dos cinco anos em que estudei no São Francisco, mudei do Madepinho para próximo ao Parque dos Maias. Coube a meu avô construir a casa. Era de madeira. Enquanto construía, por vezes, eu e alguns amigos brincávamos de carrinho de lomba. As rodinhas de rolimã iam na mesma velocidade de nossos sonhos. Não demorou, mudamos novamente. Agora para Cachoeirinha. Fui transferido de escola. O tempo passou, pois que não para e nem tampouco dá trégua. Cada um seguiu o próprio caminho. Eu e o São Chico. Crescemos ambos. A separação – feito dois eternos amantes compromissados por juras de amor – só fez aguçar, ainda mais, o respeito e admiração. Após formado, fui convidado por uma ex-colega de universidade a lecionar na Escola de minha infância. Iniciava-se uma nova década (1992). Com ela, um misto de tristeza e esperança. Meu pai sofrera um “derrame”, debilitando-o para o resto da vida. A dor aos poucos foi sendo superada com trabalho e o apoio de amigos e familiares. Entraram e saíram presidentes – alguns pela “porta” dos fundos –, governadores e prefeitos. Muitos foram os alunos que me deram a oportunidade de, com eles, aprender. Compartilhamos, juntos, muitas alegrias e algumas tristezas. Estas, por vezes, personificadas na perda de professores e alunos. Quantas Gincanas e campeonatos? Quantas caminhadas e festivais? Quantas missas e ações sociais? Quantos Conselhos de Classe e formações de professores? Quantos Retiros e encontros com a comunidade? Quantas entregas de boletins e confraternizações? Quantas Páscoas e Natais? Aulas? Inúmeras. Atendimento aos alunos e pais? Incontáveis. Vinte anos de São Francisco. Quase metade da linha de tempo da própria Escola. Nessas duas décadas, casei, nasceram meus três amados filhos, perdi meu pai, troquei de casa poucas vezes e de carro algumas... O que não mudou foi a convicção de que é através da educação que se constrói uma sociedade mais justa e fraterna. A certeza de que o processo ensino-aprendizagem requer, acima de tudo, amor. Sim, um amor fundado na paciência, mas na exigência. Um amor pautado no diálogo, mas no respeito à autoridade. Um amor alicerçado na liberdade, mas de mão dadas com os limites claros e necessários. Um amor voltado à paz, mas avesso à injustiça. Assim, o Jubileu da Rede de Escolas São Francisco é, para este humilde servo, um momento ímpar, pois que a história do velho São Chico está íntima e umbilicalmente ligada à minha própria história. Parabéns a todos nós!

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