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terça-feira, 16 de outubro de 2012

PRESENTE !



PRESENTE!
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br

                Sempre ouvi dizer que o melhor amigo do homem é o cão. Tenho lá minhas dúvidas. Sempre presente, nos acompanha desde que nascemos. É duvidar, já se manifestava quando ainda estávamos no ventre e éramos não muito mais do que um embrião. Presente desde o raiar até o ocaso do sol. Manifestando-se na calada da madrugada, faça frio ou não. Sob os lençóis da mais fina seda ou coberto por acolchoados feitos de remendos, lá está ele, sempre presente. No banheiro, na cozinha, na sala, na varanda, enfim, em qualquer lugar. Mostra-se inseparável. Às vezes, discreto, outras nem tanto. Vez por outra, dá o ar – literalmente... – da graça nos locais mais impróprios. Na hora e local erradas. Para nós, é claro! Ele, ao contrário, é todinho indiferença. Todo lugar é lugar e toda hora é hora. Pouco liga para o que pensamos ou pensam sobre nós. Quer, isto sim, é espraiar-se. Azedo, doce ou agridoce, o fato é que sempre vem ao encontro de todos os gostos. Revela, ao menos em parte, o que somos. É a nossa “cara”. Traduz um tanto de nossa personalidade. Talvez, por isso, alguns preferem escondê-lo. Tentativa nem sempre recheada de sucesso... Aí sim a emenda fica pior do que o soneto. É, por vezes, aí que mostra toda sua força, verdadeiro turbilhão de sons e cheiros. Não adianta, lutar contra ele é tarefa por demais ingrata. Melhor é não resistir. Na pior das hipóteses, tentar negociar. Tipo assim... “liberdade com responsabilidade”. Soltá-lo aos poucos, a conta-gotas, sob a condição de não se tornar público. Até porque, jamais fica famoso. No máximo, “conhecido”. Daí os apelidos e alcunhas que alguns lhe atribuem: silencioso, zangado, preguiçoso e tantos outros. Podem acusá-lo de tudo, todavia não se pode negar sua originalidade. Pesquisassem, certamente identificariam nele uma espécie de DNA. Único, revelador dos traços de quem lhe tem. Diga-se de passagem, um relacionamento um tanto que avassalador, por vezes. Senhor e servo são, nessa relação, papéis que se confundem. Feito casamento. Quando menos se espera, lá se vai o antigo companheiro. Sem carta, aceno ou sequer uma olhadela para trás. Ele sai da “vida” (corpo) para entrar na história. Não incomum é, quando da despedida, nos deixar em maus lençóis. Escancara para meio mundo o fim da relação. Ficamos com cara de coitados. Não bastasse, ele ainda deixa marcas. Não eternas, é verdade, mas profundas o suficiente para demandar duas ou três de mãos, além de muito sabão em pó. Por outro lado, há de se dizer que ele instiga a discórdia, mas também a cumplicidade conjugal. Passada meia-dúzia de anos, ele corre solto entre o casal. Todo pudor fica de lado. A vergonha de outrora dá lugar a verdadeira explosão de flatulências das mais diversas. Multicoloridas, com ou sem “cheirinho”, etecetera e tal. O que antes era feito às escondidas, com o passar do tempo, assume tamanha naturalidade que a simples falta dele passa a ser visto com desconfiança. “Não me quer mais!”. O que é o anel preso ao dedo perto da aliança gerada por entre os odores que só o amor, a partilha e a confiança são capazes de produzir? Ele passa a ser visto como sinal de intimidade doméstica. Feito segredo de cofre ou senha bancária, é algo a ser dividido apenas e tão-somente entre os cônjuges. No máximo, também entre os filhos. Fora de casa, nem pensar. Vira escândalo. “Quem foi?”. Como sempre, ninguém se acusa. Todos desconfiam do cunhado, aquele mais gordinho, espremido no canto da sala. Ah, aquela cara séria a ninguém engana. É, de certo, só uma coisa: todos têm uma história de PUM para contar. 

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