DROGAS, QUE DROGA DE MUNDO É ESTE?
Gilvan
e-mail: profpreto@gmail.com
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Às vezes, me pego a invejar o velho Juca, meu avô há
muito falecido. Não sabe ele do quanto a ida para a eternidade o livrou. Deixou
este mundo numa época em que a palavra ainda valia alguma coisa. Numa época em
que ainda se podia sair à rua depois do cair do sol. Numa época em que o homicídio,
o roubo, o sequestro e a explosão de caixas eletrônicos (nem existiam...) não
eram banalizados e, portanto, despertavam a atenção. Partiu para melhor
(acredito!) numa época em que os partidos políticos – mesmo que sob o ranço da
ditadura – diziam alguma coisa. Numa época em que o prazer vinha do contato dos
corpos, do “dedinho” de canha, da vitória do time no grenal... Deixou este
mundo numa época em que maconha era “porcaria” e quem a fumava, o fazia às
escondidas.
É... os tempos são outros. A vergonha parece já não
dar as caras por aqui há muito tempo. Os limites, se é que existem, são demasiada
e perigosamente largos e tênues. Pais e filhos, muito comumente, se confundem
na aparência, nas funções, no vocabulário, na postura... Os primeiros são
excessivamente imaturos, enquanto os últimos desafiadoramente prepotentes. O
relativismo doentio se perde em meio a devaneios que não levam a nada.
Discursos mal articulados e profundamente vazios. Na tentativa de se enquadrar
no “politicamente correto”, esvaem-se convicções, princípios e valores. Se a
moda é o lilás, todos de lilás. Se a onda é o arco-íris, ai de quem se posiciona
de forma contrária. Teme-se parecer “ultrapassado”. Vive-se num tempo em que a
horizontalização das relações põe em xeque a hierarquia. Com esta, tende à
extinção o respeito e o próprio sentido da família, por exemplo. Mentiras são
postas como verdades nos mais diversos meios de comunicação. Ontem,
inaceitáveis, hoje vistas com bons olhos.
Como cidadão, pai e educador que sou, me vejo na
obrigação moral e ética de anunciar de maneira inconteste minha posição
contrária a qualquer tentativa de legalização ou – para os que se acovardam em
deixar clara sua posição – regulamentação no uso da maconha. Sou contrário,
ainda, a qualquer iniciativa que vise atenuar as sanções aplicáveis ao tráfico
de drogas, independentemente de quem nele esteja envolvido, menor ou não. Triste
e pérfida tendência é a que se vê prosperar por aqui. O Estado (todos os
poderes e esferas) tem, historicamente, buscado esconder sua inoperância,
ineficiência e incompetência por detrás de iniciativas aparentemente alinhadas
aos “ventos” pretensamente modernos oriundos do Velho Mundo. O Judiciário, por
exemplo, sob o olhar complacente dos outros poderes, “resolve” o problema da
superlotação dos presídios impedindo novas prisões e/ou “relaxando” a prisão dos
até então trancafiados. O Executivo, por sua vez, leva o problema com a
barriga, fazendo puxadinho aqui, outro acolá, sem mexer na questão estrutural
do sistema prisional. Este segue “pós-graduando” criminosos, os bestializando e
os segregando cada vez mais. Além de caro, é um modelo (que modelo?)
comprovadamente equivocado. O Legislativo, como é sabido, não enxerga além do
próprio umbigo, afundado que está em escândalos e embebido em meio a discursos
que tem as moscas por única plateia.
Convive-se, no Brasil de hoje, com um “garantismo”
penal que, não raras vezes, mostra-se permissivo frente às práticas delituosas.
No afã de sair em defesa dos famigerados “direitos humanos”, se comete
exageros. Há como que uma inversão de valores, onde o criminoso se torna
vítima. O resultado não podia ser diferente: aumento da insegurança e do
sentimento de impunidade. O Estado faz lembrar um cachorro correndo atrás do
próprio rabo. Seria cômico, não fosse o elevado custo social, político e
econômico que tamanha insanidade representa. A liberação/regulamentação no uso
da maconha, assim como a atenuação em relação às sanções contra os que
traficam, especialmente os “menores”, em nada contribui seja para a diminuição,
seja para a solução do problema da criminalidade como um todo ou da drogadição
de maneira particular. Ao contrário, o afrouxamento no que tange a tais
ilícitos tende a aguçá-los ainda mais. É sabido o que significam o tráfico e o
consumo de entorpecentes – o primeiro não vive sem o segundo – para a sociedade
que está a cheirar mal, dado a violência e o desregramento existentes.
A droga faz mal. Não apenas entorpece e faz delirar,
mas embrutece. Desumaniza e corrói o tecido social. Destrói famílias e
relações. Compromete a produção e põe a perder qualquer tentativa de superação.
Afugenta a esperança e anuvia o futuro. Alimenta o crime e subnutre a alma. Cria
falsas sensações e rouba o sentido do real. Ludibria o cérebro e faz perder a
confiança no ser humano. Faz chorar o pai, e entristece o coração da mãe.
Extorque a infância e faz brotar, precocemente, o cheiro da morte. Assim, o uso
de entorpecentes e o tráfico de drogas devem ser combatidos. Quem trafica deve
ser severa e exemplarmente punido. Quem usa, deve ser urgente e prontamente
socorrido e tratado. Soa como irresponsável, doentia e profundamente diabólica
qualquer intenção de tornar o consumo da maconha algo “natural” e aceitável.
Não se pode, em nome de um prazer fugaz, colocar sob risco a vida e a saúde
física e mental de pessoas.
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