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domingo, 6 de abril de 2014

PRÍNCIPES E PRINCESAS


PRÍNCIPES E PRINCESAS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Comum tem sido encontrarmos verdadeiros castelos encravados no meio da cidade, do bairro, da rua, de nossa (nossa?) própria casa. Castelos cercados por extensas e largas muralhas, aparentemente intransponíveis, formadas por enormes blocos que, ano após ano, foram sendo ali colocados, mesmo que de forma não intencional. Blocos pesados, infames e mal cheirosos. Blocos marcados por uma espécie de inscrição. Omissão, negligência, indiferença, falta de tempo, permissividade, mentira, medo, tirania, vergonha... Muitos nomes. Incontáveis. Feito os corais, tais blocos foram sedimentando. Diferentemente daqueles que ocupam os oceanos, as pétreas muralhas dos castelos abrigam a morte e a falta de esperança. Afundam sonhos e fazem naufragar o amor, o respeito, a ética e a saudável autoridade. Por detrás de todo castelo tem um príncipe ou uma princesa. Quem sabe, ambos. Os castelos urbanos, ditos modernos, convivem com a síndrome – que, quando não tratada a tempo, se transforma em “maldição” – da coroa. Herdeiros e herdeiras do trono que, desde muito cedo, intentam contra o Rei e sua companheira. Trazem uma teimosa inclinação ao despotismo. Nas masmorras por vezes encobertas pelo véu da aparente modernidade, torturam a memória e a tradição dos anciãos. Príncipes e princesas que não pedem, exigem! Não se desculpam, criam subterfúgios para esconder o erro e, se duvidar, ainda viram a mesa, passando de algozes a vítimas. Príncipes e princesas que dizem o que querem, na hora que querem e para quem querem. O olhar omisso, condescendente e, por vezes, envergonhado do rei e da rainha, feito lenha seca em meio às chamas, só faz inflamar o ego dos pequenos. Príncipes e princesas que vestem e falam como se reis e rainhas fossem. O cetro, desde muito cedo, tomaram para si. O que parecia simples brincadeira “engraçadinha”, toma proporções alarmantes. A insígnia real, nas mãos dos rebentos, torna-se víbora peçonhenta, destilando veneno para todos os lados. A língua “hiperativa” e sem controle desses príncipes e princesas ofende, fere, entristece, envergonha não apenas a própria estirpe, mas as famílias para além-muros do castelo. Tão cruel quanto às palavras, mais parecendo açoites à moral e à ética, são as ações desregradas e desmedidas dos príncipes e princesas que desconhecem os limites da razão e do bom senso. A tal ponto chegam seus disparates que nem as questionáveis amarras “ritalínicas” prescritas pelos doutos do reino são capazes de dar-lhes um basta. Não há fórmulas e nem tampouco farmacologia capazes de preencherem o espaço reservado à autoridade que deveria acompanhar todo rei e rainha. Ascendência real, justa e legítima se conquista e se constrói, não se compra e nem se terceiriza. Príncipes e princesas necessitam ser amados. Amor pressupõe, também, diálogo, respeito e limites. Príncipes e princesas merecem brincar, dar asas à imaginação, sonhar... Príncipes e princesas devem reinar, mas tão-somente nos castelos que brotam da fantasia lúdica. Príncipes e princesas devem aprender que a verdadeira realeza nasce do respeito ao outro, da alteridade e da solidariedade. É o amor quem, de fato, nos investe de brilho e distinção, não a do tipo midiático e superficial, mas duradoura, daquele tipo que acompanha os verdadeiros príncipes e princesas, futuros reis e rainhas a governarem seus castelos, onde as muralhas dão lugar a campos e jardins a perderem de vista.   

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http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=5226a55cbb5abe36b3c5405572836a0e




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