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sábado, 26 de abril de 2014

(IN)FELIZ ANIVERSÁRIO!


(IN)FELIZ ANIVERSÁRIO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                O último dia vinte e dois de abril, quando da passagem pelos quinhentos e quatorze anos do chamado “descobrimento” do Brasil, fez-me lembrar de uma mulher[1] avassaladora, mas fútil. Exuberante, porém vulgar. Corpanzuda, entretanto moral e eticamente mesquinha. Maria-chuteira embalada pela preguiça regada a sonhos de um casamento bem sucedido. Daquele tipo que posa no face com “biquinho” e tudo – não suporta estar à margem do que entende ser moda –, metida em roupas tidas por sensuais, enquanto o quarto, propositadamente às escondidas do foco da webcam, mais parece um entulho de lixo. A aparência, segundo ela, é o que importa. O fétido cheiro advindo do chorume que impregna a casa inteira, desde que não flagrado pelo vizinho, é apenas um detalhe. Uma mulher que apesar dos anos, segue imatura, entregue a devaneios e desejos muito além de suas posses. Doentiamente, segue acreditando num futuro que não chega. Tola e imbecilmente, teima em dar ouvidos às promessas de mal-intencionados que, após se deleitarem com o corpo dela, dão-lhe as costas e se voltam para seus próprios umbigos. Uma mulher que serve caviar às visitas, especialmente aquelas de além-mar, mas que aos filhos nada mais dá do que migalhas. Uma mulher que para preservar as “amizades” – feito cisternas rotas –, relativiza todos os seus valores, perdendo por completo sua individualidade. Promíscua, não perde tempo em lançar-se nos braços de quem acene com algum instante de prazer, mesmo que tênue e meteórico, já que a dor e a frustração causam-lhe pânico. Talvez por isso, a espera, a paciência, o planejamento a médio e longo prazos, o esforço, o trabalho árduo, a pesquisa e qualquer outra espécie de esforço físico ou mental soam-lhe tormentosas. À mulher, servem de modelo as “amigas” do Velho Mundo e a eterna “senhoria” do Norte, na maneira de vestir, comer e nos trejeitos de caça-homem, desde que o aprendizado não requeira renúncia à indolência e ao ócio infértil. Uma mulher pidona e sovina. Por um lado, extorque todos a quem pode, mediante promessas e, quando estas não convencem, apela para ameaças e intimidações. Por outro lado, é uma mulher que resiste em dividir o que tem com aqueles que, por direito, são os verdadeiros herdeiros de um Eldorado mal conhecido. Uma mulher que vive de apostas, que se acostumou aos “puxadinhos” e gambiarras só para inglês ver. Uma mulher dada ao vício e ao torpor nauseante que resseca as narinas e embrutece o cérebro. Vidrada nas teledramaturgias e reality shows, mostra-se incapaz de separar alhos e bugalhos. Para ela, virtual, real e ideal são sinônimos. Recusa-se a discutir política e faz desta última a grande algoz de seus dissabores. Faz da urna sua latrina, assim como do livro seu mouse pad, viajando pela “rede” e, ironicamente, nela se emaranhando. Mulher a escamotear, por meio de maquilagens pagas a preço de ouro, uma depressão que parece não ter fim, amedrontada pela violência que alimenta a insônia. O batom avermelhado ou em verde-amarelo lambuzando a boca só agrava a triste figura da mulher. Para ela, as mais de quinhentas velinhas apontam, ao mesmo tempo, para um passado inglório e para um futuro incerto.
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=1423c72e086083cccf565767ec7e0d20





[1] Não me entendam mal as mulheres, não se trata aqui de “gênero”, mas tão-somente de uma “adaptação” textual. 

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