EAD: DESUMANIZAÇÃO OU NOVAS POSSIBILIDADES?
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Alguns têm condenado o chamado Ensino à Distância (EAD)
sob o argumento de que o mesmo leva, necessária e obrigatoriamente, à desumanização
das relações entre, por exemplo, professor e educando. Colocam-se contra o que
consideram uma espécie de educação in
vitro, onde os conflitos humanos típicos e compreensíveis são postos de
lado. Soaria como um processo de “eugenia” social, colocando para fora dos
muros da escola boa parte dos alunos e alunas indesejados ou, no mínimo,
restringindo-lhes significativamente o tempo de permanência na instituição. Confesso
que tenho como que um “pé atrás” no que tange ao Ensino à Distância, pois sou
um ferrenho defensor da necessidade do vínculo no processo ensino-aprendizagem.
Preciso sentir o cheiro de gente, olhar no fundo dos olhos, captar cada gesto
ou até mesmo compreender a falta dele. A simples troca do ensino presencial
pela modalidade EAD parece-me um equívoco, como já dito em outras oportunidades[1].
Acredito, isto sim, que a substituição só é aceitável diante de situações e
públicos específicas. Por outro lado, os argumentos de que se valem alguns
críticos – tomados de uma flagrante cegueira analítica – do EAD merecem uma boa
dose de reflexão.
No final da década de 1990, as telas exibiram o
“Homem Bicentenário[2]”,
onde um robô doméstico (representado por Robin Williams) chamado de Andrew
começou a desenvolver, digamos..., “sensibilidade humana” para assuntos como
perdão e compaixão, ultrapassando, de longe, suas “funções” originais, como as
tarefas tipicamente domésticas. Genial o filme. Quantas lições dele se pode
extrair! Pincelo uma delas, a saber, o tapa com luvas de pelica que nos é dado.
Uma máquina com grau de “humanidade” muito maior do que o de nossa espécie. Não
muito diferente é o que tenho visto em relação à escola. Professores, não são
poucos, que mantêm uma distância estratosférica, fria, impessoal e indiferente
em relação ao educando. Resistem a elogiar, insistem em diminuir, ainda mais, a
autoestima de quem a vida já privou de tantas coisas. Presentes, só os corpos
de tais “educadores”, pois a cumplicidade com os desejos, sonhos e dificuldades
dos alunos e alunas passa de largo. Homens e mulheres tidos por “profissionais”,
que fazem do giz não um pincel pronto a dar vida e sentido aos textos, fórmulas
e rabiscos que zingam o quadro-verde. Parece, isto sim, é fazerem uso de um
bisturi às portas de uma lobotomia da alma. O olhar viajante há muito se fora,
se é que algum dia se fizera presente. Usam velhos chavões para realidades e
contextos completamente novas. Amarelados não são apenas os “planos de aula”,
mas o próprio senso crítico parece tomado pelo zinabre da mesmice pedagógica. Os
incontáveis títulos e certificados, exceto trazerem algumas moedas a mais na
algibeira dos parcos salários, servem tão-somente como adorno à sala ou aos
sorrateiros “cafofos” do ego.
O que desumaniza não é a máquina. O que distancia o
educando da escola e de tudo o que ela representa não é a ferramenta. O que
lança para fora o aluno são as relações que se estabelecem no ambiente escolar.
Seja qual for a proposta metodológica ou a modalidade adotadas pela instituição
de ensino, inexistindo atenção e fortalecimento dos vínculos, o fracasso é
certo, mesmo que tardio. Máquinas são apenas máquinas! Não passam de um
amontoado de parafusos a nosso serviço. As relações, ao contrário, pressupõem
uma engenharia infinitamente mais complexa. São estas últimas que dão (re)significado
à própria vida. É na relação com o “outro” que eu cresço e aprendo. É na
relação com o “outro” que me torno, de fato, sujeito da minha e da nossa
história. É na relação com o “outro” que dou sentido ao que outrora não passava
de mera teoria. É na relação com o “outro” que sedimento e frutifico os nobres
valores éticos, imprescindíveis à teia social. Quem é o “outro”? Por que não
nós os educadores? Assumamos um papel de protagonistas na vida e no processo
ensino-aprendizagem dos educandos. Somos, por natureza, insubstituíveis. Urge,
entretanto, que tomemos posse do lugar para nós reservado, sob o risco de vê-lo
ocupado pela sombra dos penduricalhos por nós mesmos criados.
Veja também:
Veja também:
http://educacao.cachoeirinha.rs.gov.br/index.php/39-noticias/educacao-a-distancia/183-ead-desumanizacao-ou-novas-possibilidades.html
http://projetosdadiversidade.blogspot.com.br/2014/04/ead-desumanizacao-ou-novas.html
http://projetosdadiversidade.blogspot.com.br/2014/04/ead-desumanizacao-ou-novas.html
[1]
Ver texto “EAD na EJA” no blog profgilvanteixeira.blogspot.com.br. Existe
em Cachoeirinha (RS), na Escola
Municipal de Ensino Fundamental Fidel Zanchetta, uma modalidade EAD Semipresencial na Educação de
Jovens e Adultos. A iniciativa soa como interessante, pois ao mesmo tempo que
mantém o contato direto (presencial) com o educando, abre um leque de possibilidades
através da chamada Plataforma Moodle, mitigando quiçá o sério
problema da evasão escolar.
[2]
Bicentennial Man. Produção de 1999.
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