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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

SESSE OU FOSSE?


SESSE OU FOSSE?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Quem tem filhos sabe: como esquecer aquela fase onde nosso pimpolho ou pimpolha (ou ambos...) troca o “fosse” pelo “sesse”? “Se amanhã sesse domingo...”, ou “se sesse a mãe, ela deixaria...”. Para alguns pais, boas e engraçadas lembranças. Para outros, situações do presente. Passado ou não, há algo em comum entre os pais de hoje e os de ontem: lá estávamos (ou estamos!) nós, os chatos, a corrigirmos a criança. “Pela milésima vez, não é ‘sesse’, é ‘fosse’”. A pobrezinha para, aparenta entender a lição mas, logo ali, está novamente a trocar as expressões. Um ou outro, é verdade, o faz só para caçoar do marmanjão. A maioria, contudo, é tão-somente coisa da idade. Vá entender gente grande, devem pensar os pequerruchos. Hora são só gargalhadas, hora condenam os pequenos. Hora se dão até ao trabalho de gravarem os escorregões gramaticais. É duvidar, ainda postam nas redes sociais. Contudo, logo ali adiante são capazes de ralharem com o rebento. Ao que parece, não sabemos nós, os adultos, o valor do “sesse”. Tempos bons. O “sesse” diz respeito ao universo infantil, onde as conjugações verbais se dão de forma distinta da nossa. O tempo para criança tem outra dimensão que não esta que adotamos depois de adultos. O tempo da criança é lúdico, multicolorido, sem muito compromisso com a ideia de início, meio e fim. O nosso, ao contrário, o tempo do “fosse”, nos amordaça, entorpece e escraviza. O “sesse” soa como devir. Mais parece a “casa da mãe Joana” (ou seria “coração de mãe”, pois tem espaço para todos?), onde pretérito, presente e futuro – quase nunca nesta ordem... – se misturam, feito maçaroca no cabelo. O “fosse”, por sua vez, é pobre em conjugações. Limita e atrofia os sonhos. Mais parece criação demoníaca de um Capitalismo doentio, vazio e frio. Mais do que triste rima, tais adjetivos são fruto (artificial, apesar – por vezes – da boa aparência) de um maquiavélico e funesto modelo. O “fosse” tem o pé no abismo. Talvez, por isso, mesmo que inconscientemente, o “sesse” represente uma ameaça, pois que o último denota vida, luz e magia. Ah, tem a alegria, a correria, o trava-línguas... Nos finais de semana tem, ainda, a casa da tia. Repararam? Também rima. Não nos enganemos, contudo, pois é de uma outra espécie, distinta da rima do “fosse”. A deste não tem graça, é – quase sempre – só desgraça. A rima do “sesse” faz chorar, mas é de tanto rir. Mijar de rir. Há quanto tempo nós adultos não “mijamos” de tanto rir? Acho que desde quando optamos pelo “fosse”. Sinceramente, se eu “sesse” vocês pensaria sobre o assunto... 

Veja também:
http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=1654239d6d0604d640f01192ce885f21

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