SESSE OU FOSSE?
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Quem tem filhos sabe: como esquecer aquela fase onde
nosso pimpolho ou pimpolha (ou ambos...) troca o “fosse” pelo “sesse”? “Se
amanhã sesse domingo...”, ou “se sesse a mãe, ela deixaria...”. Para alguns
pais, boas e engraçadas lembranças. Para outros, situações do presente. Passado
ou não, há algo em comum entre os pais de hoje e os de ontem: lá estávamos (ou
estamos!) nós, os chatos, a corrigirmos a criança. “Pela milésima vez, não é ‘sesse’,
é ‘fosse’”. A pobrezinha para, aparenta entender a lição mas, logo ali, está
novamente a trocar as expressões. Um ou outro, é verdade, o faz só para caçoar
do marmanjão. A maioria, contudo, é tão-somente coisa da idade. Vá entender
gente grande, devem pensar os pequerruchos. Hora são só gargalhadas, hora
condenam os pequenos. Hora se dão até ao trabalho de gravarem os escorregões
gramaticais. É duvidar, ainda postam nas redes sociais. Contudo, logo ali
adiante são capazes de ralharem com o rebento. Ao que parece, não sabemos nós,
os adultos, o valor do “sesse”. Tempos bons. O “sesse” diz respeito ao universo
infantil, onde as conjugações verbais se dão de forma distinta da nossa. O
tempo para criança tem outra dimensão que não esta que adotamos depois de
adultos. O tempo da criança é lúdico, multicolorido, sem muito compromisso com
a ideia de início, meio e fim. O nosso, ao contrário, o tempo do “fosse”, nos
amordaça, entorpece e escraviza. O “sesse” soa como devir. Mais parece a “casa
da mãe Joana” (ou seria “coração de mãe”, pois tem espaço para todos?), onde
pretérito, presente e futuro – quase nunca nesta ordem... – se misturam, feito
maçaroca no cabelo. O “fosse”, por sua vez, é pobre em conjugações. Limita e
atrofia os sonhos. Mais parece criação demoníaca de um Capitalismo doentio, vazio
e frio. Mais do que triste rima, tais adjetivos são fruto (artificial, apesar –
por vezes – da boa aparência) de um maquiavélico e funesto modelo. O “fosse”
tem o pé no abismo. Talvez, por isso, mesmo que inconscientemente, o “sesse”
represente uma ameaça, pois que o último denota vida, luz e magia. Ah, tem a
alegria, a correria, o trava-línguas... Nos finais de semana tem, ainda, a casa
da tia. Repararam? Também rima. Não nos enganemos, contudo, pois é de uma outra
espécie, distinta da rima do “fosse”. A deste não tem graça, é – quase sempre –
só desgraça. A rima do “sesse” faz chorar, mas é de tanto rir. Mijar de rir. Há
quanto tempo nós adultos não “mijamos” de tanto rir? Acho que desde quando
optamos pelo “fosse”. Sinceramente, se eu “sesse” vocês pensaria sobre o
assunto...
Veja também:
http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=1654239d6d0604d640f01192ce885f21
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