PINÓQUIO: A MALDIÇÃO DO NARIZ
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Porto Alegre está debaixo d’água. O Sertão nordestino
vive a maior estiagem dos últimos cinquenta anos. Os serviços públicos vão de
mal a pior, comprovando a conhecida teoria de que nada pode ser tão ruim que
não possa piorar. Malversação de recursos públicos, corrupção, criminalidade,
ajeitamentos políticos, impunidade, precariedade dos hospitais e postos de
saúde, pífia qualidade do ensino (principalmente público), privatização das
riquezas nacionais e socialização dos prejuízos da iniciativa privada, corporativismo
doentio e irresponsável, falta de celeridade do Judiciário, confusão entre os
interesses público e privado, encampação político-eleitoreira dos órgãos e conselhos
de controle social, falência do transporte público, superfaturamentos,
preponderância da indicação política sobre a competência técnica para ocupação
de postos essenciais da Administração Pública, endividamento público, juros
abusivos, lucros exorbitantes de alguns poucos grupos econômicos, carga
tributária insana e sem a contraprestação mínima exigida, desmanche das
rodovias e ferrovias, falta de investimentos em fontes alternativas de energia,
flagrante especulação imobiliária... A lista, sabemos todos, não para por aqui.
É longa, cara e complexa. Todavia, não é o que noticia a propaganda oficial e
nem tampouco pregam os marqueteiros pagos a preço de ouro. Para o Estado
(Executivo, Legislativo e Judiciário), está tudo bem. Independentemente da
bandeira partidária ou do matiz ideológico – se é que este existe –, quem está
no poder (e com ele se confunde) parece desconhecer o país. Talvez se refiram a
outro Brasil. O discurso de quem é “situação” só se aproxima da ótica do homem
médio quando na condição de “oposição”. Ainda assim não convence, pois, via de
regra, se mostra incapaz de superar as próprias contradições. Condena aqui o
que opera ali adiante. Parece maldição. Faz lembrar o nariz do Pinóquio. É
mentir, o nariz cresce. Assim tem sido o Estado brasileiro. Arrota números
astronômicos, na casa dos milhões e dos bilhões, incompreensíveis para nós,
simples mortais. Tudo para tentar justificar o injustificável. O verdadeiro e
crível investimento não é o das planilhas frias dos burocratas que infestam os
corredores e gabinetes. Como Tomé, devemos acreditar no que vemos. O que vemos,
quase nada tem de bom. Políticas públicas dizem respeito às ações concretas que
se materializam em forma de serviços de boa qualidade. O resto é balela,
conversa para boi dormir. Talvez, por isso, sejamos tratados como gado, prontos
para o matadouro. O Estado arranca nossa pele e suga nosso sangue. Triste e
inaceitável sina. Nascemos e morremos de forma quase igual, nos corredores
apertados e sujos que nem de perto lembram um hospital, onde a morfina – quando
não em falta –, tal qual o arcabouço jurídico, pouco mais faz do que engambelar
a dor. O discurso estatal, em todas as esferas e em todos os “Poderes”
constituídos, se mostra dissociado do mundo real. Não por acaso, o nariz do
boneco de madeira segue crescendo, crescendo, crescendo... Incômoda e
desconfortável a situação do Estado. Até mesmo a velha “política do pão e circo”
parece falhar. A Copa do Mundo de 2014, por exemplo, tem deixado, cada vez mais,
de ser uma “expectativa” para se tornar uma enorme frustração e grande dor de
cabeça. O nariz de Pinóquio, ao que parece, cresceu em demasia. As fissuras,
dia após dia, crescem. Os movimentos populares, a indignação vindo das ruas, o
crescimento da intolerância (não seria da impaciência?) são, muito
provavelmente, emblemáticos sinais de que o nariz está com seus dias contados. O
Brasil que se quer não é o dos discursos vazios e oportunistas, nem tampouco
das cifras a preencherem incontáveis casas. O país que se quer é um Brasil onde
o Estado exista para servir e não ser servido, um país onde saúde, educação,
segurança, transporte e saneamento básico, por exemplo, venham ao encontro da
qualidade que cada um e todos merecemos. Queremos um Estado de verdade, real, capaz
de promover a justiça social e de restabelecer a esperança há muito tempo perdida
(já a tivemos?). Desejamos um país onde Pinóquio seja tão somente o eterno
menino de Gepeto.
Veja também:
http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=a84312163e3268edb94fb621f51757f0
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