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terça-feira, 12 de novembro de 2013

PINÓQUIO: A MALDIÇÃO DO NARIZ


PINÓQUIO: A MALDIÇÃO DO NARIZ
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Porto Alegre está debaixo d’água. O Sertão nordestino vive a maior estiagem dos últimos cinquenta anos. Os serviços públicos vão de mal a pior, comprovando a conhecida teoria de que nada pode ser tão ruim que não possa piorar. Malversação de recursos públicos, corrupção, criminalidade, ajeitamentos políticos, impunidade, precariedade dos hospitais e postos de saúde, pífia qualidade do ensino (principalmente público), privatização das riquezas nacionais e socialização dos prejuízos da iniciativa privada, corporativismo doentio e irresponsável, falta de celeridade do Judiciário, confusão entre os interesses público e privado, encampação político-eleitoreira dos órgãos e conselhos de controle social, falência do transporte público, superfaturamentos, preponderância da indicação política sobre a competência técnica para ocupação de postos essenciais da Administração Pública, endividamento público, juros abusivos, lucros exorbitantes de alguns poucos grupos econômicos, carga tributária insana e sem a contraprestação mínima exigida, desmanche das rodovias e ferrovias, falta de investimentos em fontes alternativas de energia, flagrante especulação imobiliária... A lista, sabemos todos, não para por aqui. É longa, cara e complexa. Todavia, não é o que noticia a propaganda oficial e nem tampouco pregam os marqueteiros pagos a preço de ouro. Para o Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), está tudo bem. Independentemente da bandeira partidária ou do matiz ideológico – se é que este existe –, quem está no poder (e com ele se confunde) parece desconhecer o país. Talvez se refiram a outro Brasil. O discurso de quem é “situação” só se aproxima da ótica do homem médio quando na condição de “oposição”. Ainda assim não convence, pois, via de regra, se mostra incapaz de superar as próprias contradições. Condena aqui o que opera ali adiante. Parece maldição. Faz lembrar o nariz do Pinóquio. É mentir, o nariz cresce. Assim tem sido o Estado brasileiro. Arrota números astronômicos, na casa dos milhões e dos bilhões, incompreensíveis para nós, simples mortais. Tudo para tentar justificar o injustificável. O verdadeiro e crível investimento não é o das planilhas frias dos burocratas que infestam os corredores e gabinetes. Como Tomé, devemos acreditar no que vemos. O que vemos, quase nada tem de bom. Políticas públicas dizem respeito às ações concretas que se materializam em forma de serviços de boa qualidade. O resto é balela, conversa para boi dormir. Talvez, por isso, sejamos tratados como gado, prontos para o matadouro. O Estado arranca nossa pele e suga nosso sangue. Triste e inaceitável sina. Nascemos e morremos de forma quase igual, nos corredores apertados e sujos que nem de perto lembram um hospital, onde a morfina – quando não em falta –, tal qual o arcabouço jurídico, pouco mais faz do que engambelar a dor. O discurso estatal, em todas as esferas e em todos os “Poderes” constituídos, se mostra dissociado do mundo real. Não por acaso, o nariz do boneco de madeira segue crescendo, crescendo, crescendo... Incômoda e desconfortável a situação do Estado. Até mesmo a velha “política do pão e circo” parece falhar. A Copa do Mundo de 2014, por exemplo, tem deixado, cada vez mais, de ser uma “expectativa” para se tornar uma enorme frustração e grande dor de cabeça. O nariz de Pinóquio, ao que parece, cresceu em demasia. As fissuras, dia após dia, crescem. Os movimentos populares, a indignação vindo das ruas, o crescimento da intolerância (não seria da impaciência?) são, muito provavelmente, emblemáticos sinais de que o nariz está com seus dias contados. O Brasil que se quer não é o dos discursos vazios e oportunistas, nem tampouco das cifras a preencherem incontáveis casas. O país que se quer é um Brasil onde o Estado exista para servir e não ser servido, um país onde saúde, educação, segurança, transporte e saneamento básico, por exemplo, venham ao encontro da qualidade que cada um e todos merecemos. Queremos um Estado de verdade, real, capaz de promover a justiça social e de restabelecer a esperança há muito tempo perdida (já a tivemos?). Desejamos um país onde Pinóquio seja tão somente o eterno menino de Gepeto. 

Veja também:
http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=a84312163e3268edb94fb621f51757f0

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