PARTIDOS E PORNOGRAFIA
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Desde já, perdão pela analogia. Bem sei que ninguém
gosta de ser comparado à classe política que ronda os espaços públicos deste
país. Contudo, é inevitável lembrar, quando dos discursos político-partidários,
dos filmes pornôs. O que ambos têm em comum? A absoluta e total falta de
criatividade. São sempre as mesmas falas. Por vezes, nos filmes pornôs, o que
dá uma mudadinha é o cenário, a cama redonda é substituída pela retangular ou,
então, o parceiro deixa de ser um homem para ser um cavalo. Nada que altere a “alma
artística” da obra. Nos discursos partidários, da mesma forma. Muda a bandeira,
a legenda, mas – como diria uma velha propaganda – a “voz” continua a mesma. O
discurso ou é centrado na defesa do injustificável ou, no caso da oposição de
ocasião, é pautado na crítica cega e hipócrita à gestão adversária. Neste
último caso, condena o que ainda ontem fizera ou logo ali adiante o fará. Adora
atirar pedra, esquecendo a fragilidade da própria casa. Partidos e filmes
pornôs, como se vê, têm muito em comum. É bem verdade que se diga, para que se
faça justiça, que os filmes pornôs são mais respeitosos do que os partidos.
Estes, sequer respeitam o horário nobre da televisão, ao contrário dos
primeiros. Sem falar, é claro, no vocabulário. Enquanto os pornôs são
monossilábicos, os partidos políticos ofendem o bom português. Quanto ao
elenco, os filmes pornôs não o esconde, o põe desnudo por completo. Nada
encobrem, nem mesmo – quem sabe – o que deveriam. Já os partidos, tomados de um
cinismo mal disfarçado, parecem brincar de esconde-esconde. Trazem a público
apenas parte de seus “quadros”, enquanto a outra parte – formada, muitas vezes,
por uma interminável lista de larápios, quadrilheiros, fraudulentos,
mentirosos, ímprobos, sonegadores, etc. – fica à sombra, feito ratos a
infestarem os porões da República. A impressão causada pelos partidos neste
país é inigualável. Os filmes pornôs, comparados às agremiações partidárias,
mais parecem arte sacra. Enquanto na pornografia em questão prepondera o prazer
mundano, mas aceitável, na prática partidária vigora a perdulária lógica da
tirania travestida de democracia. Os filmes pornôs são prazerosos para quem os
faz e para quem os assiste. Os discursos político-partidários são, por sua vez,
verdadeiro atentado à inteligência e paciência de quem os vê e escuta. Talvez,
por isso, “obrigatórios”, pois que do contrário poucos se renderiam à lábia (ou
falta dela!) enganosa e frágil, por vezes mal ensaiada, daquela gente. Mais
convencem os gemidos “cinematográficos” dos filmes pornôs do que as “belas” palavras
dos nobres legisladores, gestores e aspirantes. Sereia por sereia, é preferível
o canto das peladas ao das trajadas, pois que o primeiro soa mais real,
verdadeiro e humano.
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