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sábado, 16 de novembro de 2013

PARTIDOS E PORNOGRAFIA


PARTIDOS E PORNOGRAFIA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Desde já, perdão pela analogia. Bem sei que ninguém gosta de ser comparado à classe política que ronda os espaços públicos deste país. Contudo, é inevitável lembrar, quando dos discursos político-partidários, dos filmes pornôs. O que ambos têm em comum? A absoluta e total falta de criatividade. São sempre as mesmas falas. Por vezes, nos filmes pornôs, o que dá uma mudadinha é o cenário, a cama redonda é substituída pela retangular ou, então, o parceiro deixa de ser um homem para ser um cavalo. Nada que altere a “alma artística” da obra. Nos discursos partidários, da mesma forma. Muda a bandeira, a legenda, mas – como diria uma velha propaganda – a “voz” continua a mesma. O discurso ou é centrado na defesa do injustificável ou, no caso da oposição de ocasião, é pautado na crítica cega e hipócrita à gestão adversária. Neste último caso, condena o que ainda ontem fizera ou logo ali adiante o fará. Adora atirar pedra, esquecendo a fragilidade da própria casa. Partidos e filmes pornôs, como se vê, têm muito em comum. É bem verdade que se diga, para que se faça justiça, que os filmes pornôs são mais respeitosos do que os partidos. Estes, sequer respeitam o horário nobre da televisão, ao contrário dos primeiros. Sem falar, é claro, no vocabulário. Enquanto os pornôs são monossilábicos, os partidos políticos ofendem o bom português. Quanto ao elenco, os filmes pornôs não o esconde, o põe desnudo por completo. Nada encobrem, nem mesmo – quem sabe – o que deveriam. Já os partidos, tomados de um cinismo mal disfarçado, parecem brincar de esconde-esconde. Trazem a público apenas parte de seus “quadros”, enquanto a outra parte – formada, muitas vezes, por uma interminável lista de larápios, quadrilheiros, fraudulentos, mentirosos, ímprobos, sonegadores, etc. – fica à sombra, feito ratos a infestarem os porões da República. A impressão causada pelos partidos neste país é inigualável. Os filmes pornôs, comparados às agremiações partidárias, mais parecem arte sacra. Enquanto na pornografia em questão prepondera o prazer mundano, mas aceitável, na prática partidária vigora a perdulária lógica da tirania travestida de democracia. Os filmes pornôs são prazerosos para quem os faz e para quem os assiste. Os discursos político-partidários são, por sua vez, verdadeiro atentado à inteligência e paciência de quem os vê e escuta. Talvez, por isso, “obrigatórios”, pois que do contrário poucos se renderiam à lábia (ou falta dela!) enganosa e frágil, por vezes mal ensaiada, daquela gente. Mais convencem os gemidos “cinematográficos” dos filmes pornôs do que as “belas” palavras dos nobres legisladores, gestores e aspirantes. Sereia por sereia, é preferível o canto das peladas ao das trajadas, pois que o primeiro soa mais real, verdadeiro e humano.


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