SIMPLES ASSIM!
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Por que complicar o que é fácil? Eis aí flagrante retórica
daqueles que se apoderaram[1]
do Estado brasileiro. Por vezes, deveríamos pedir que nos belisquem[2],
tamanho o mar de fantasias criado por marqueteiros muito bem pagos. O Brasil
que nos vendem nas propagandas, nem de perto parece com aquele que conhecemos. “Anões”
não faltam para contar a história. Assim como não faltam cuecas recheadas de
dinheiro, vultosas aposentadorias compulsórias de magistrados corruptos, viagens
particulares custeadas pelo dinheiro do contribuinte, malversação de recursos
públicos, privilégios corporativistas legitimados por imorais planos de
carreira, entre tantos outros tristes ingredientes que fazem deste país uma
enorme e cara pocilga. Apesar de tamanhos e graves problemas, ao que parece, o
Estado brasileiro – capitaneado por Brasília – já tem a solução. Simples assim!
Como um passe de mágica. Para o caos na saúde pública (e privada também...),
importa-se médicos. O resto é só “o resto”. Falta de leitos, precariedade
física dos hospitais e postos de saúde, jornadas de trabalho desumanas e mal
remuneradas dos profissionais da saúde, má gestão do erário público, lucro
exorbitante de empresas que veem na saúde apenas uma máquina de fazer dinheiro...
São apenas “detalhes”. Para o caos no ensino público, algumas outras soluções
mágicas. Simples assim! Falta de escolas? Mete-se as crianças em containers. Universaliza-se o acesso à
Educação Básica na mesma proporção em que se universaliza a mediocridade do
saber. O resultado não poderia ser pior. Feito cão em torno do próprio rabo,
fica o país a dar voltas em torno de problemas como a evasão, a repetência e a
desvalorização do magistério[3].
Quanto às injustiças étnico-sociais criadas ao longo do tempo, o Estado
brasileiro também achou a solução, através das famigeradas “políticas
afirmativas”[4].
Simples assim! Enfia goela abaixo das universidades todos os que se declaram pobres,
negros, pardos ou índios, e pronto! Quanto aos outros, são só os “outros”. No
que tange à (in)segurança pública, não é diferente. Tudo tem solução.
Converte-se, por exemplo, o dito regime semi-aberto em “prisão domiciliar” e, adivinhem, resolvido
o problema da superlotação dos presídios. Simples assim! Ah, sem falar nos
indultos natalinos (onde o presunto somos nós...), na progressão de regime sem
critérios, entre outras maravilhas jurídicas. “Garantismo”, há muito vem sendo
sinônimo de absoluta, vergonhosa e perigosa impunidade. O Estado, contudo,
segue no seu faz-de-conta. Quando o “berço esplêndido” se torna um tanto que
incômodo e boa parte do “povo” ganha as ruas, o Poder Público logo apresenta a
solução: plebiscito, referendo, Constituinte... Simples assim! Triste engodo.
Já assistimos essa história. Plebiscito para escolha da forma de governo
(República ou Monarquia), referendo para o desarmamento, Constituinte para
mudança da Constituição... Melhoramos? Seguem as mazelas, a corrupção corrói a
cada dia as estruturas do Estado, a violência fugiu ao controle, os serviços
públicos estão aquém do irrisório e aceitável. Quem era lobo, segue lobo. Nós,
a maioria dos contribuintes, seguimos feito cordeiros. Sendo tosquiados a não
dar mais. Talvez estejamos exagerando, fazendo tempestade em copo d’água.
Quiçá, a solução seja, de fato, simples: acabar de vez com o Estado. Simples
assim!
[1]
Alguns, através do voto é verdade...
[2]
O Analista de Bagé optaria por um joelhaço no vivente (ver Luís Fernando
Veríssimo).
[3]
Muitos são os lugares neste país em que inexiste a qualificação mínima
necessária para lecionar. Curiosamente, não se aventou a possibilidade de também
importar professores de outros lugares... Pudera, com o que se paga... nem os
cubanos topariam.
[4]
Muitas de tais “políticas” têm se mostrado questionáveis, tanto do ponto de
vista legal, quanto ético. As desigualdades sociais, econômicas e de qualquer outra
natureza são complexas e, como tal, exigem soluções que passam,
obrigatoriamente, pela refundação do Estado. Este último segue assentado no
clientelismo, na confusão entre público e privado e na hegemonia do poder e do interesse
do capital.
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