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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

LAMBENDO SABÃO



LAMBENDO SABÃO
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Dia desses, flagrei uma amiga usando a expressão “lamber sabão”. Desacostumado a esta, inquiri o significado. Disse que a usara como sinônimo de liberdade de opinião: “cada um tem a sua!”. Intrigado, apelei para a internet e logo encontrei uma significativa quantidade de explicações para a referida expressão. Muito antiga, ela normalmente vem sendo usada como reprimenda a algum incauto de “boca-suja”, familiarizado ao uso de palavras de baixo calão.

                A alegada “pós-modernidade”, por estas bandas, tem engendrado uma interminável quantidade de mudanças na forma de vestir, de andar, de cultuar, de se portar, de falar... Mudanças quantitativas e qualitativas. Superficiais e profundas. Específicas e genéricas. Muitas mudanças. Não é incomum, jovens usarem de expressões verbais chulas e, segundo os mais “velhos”, ofensivas e desrespeitosas. O que noutros tempos era agressivo, hoje por vezes é sinônimo de amizade e cumplicidade. O mesmo “foda-se” que ofende é, noutro contexto, sinal de pertencimento à tribo. Vá entender! Tudo depende de quem fala, para quem fala e por que fala! Depende, também, vez por outra, de quando e onde fala. Noutras palavras, o problema, aparentemente, não está na palavra em si, mas na relação que se estabelece entre os sujeitos que falam. Será?

                O velho Juca já dizia – parafraseando as Santas Escrituras – que a boca diz aquilo que está cheio o coração. Assim, palavras duras denunciam um coração rancoroso, enquanto palavras dóceis refletem um coração cheio de amor. É o que dizia meu avô. Exageros à parte, é inegável que as gerações mais novas – em grande parte – parecem desconhecer mais do que uma ou duas dezenas de expressões. Além de excessivamente limitado, o vocabulário se mostra absurdamente tosco. Coisa de causar espanto até no mais distante neandertal. O “uga-uga” deu lugar ao “pô meu!”. Acrescenta-se ao vocabulário um “caralho”, um “merda”, um “porra” e um “saca só”, e pronto! Temos um glossário quase completo do linguajar ultramoderno. É de doer. Pior então, é quando a gurizada inventa de escrever. Aí as “expressões” acima ficam mais “simples” ainda. Viram um “kct”, um “mrda”, um “pqp” e por aí vai. Mal ou bem (quase sempre, muito bem...), os jovens se entendem. Nós, os mais velhos, é que não os entendemos.

                Falso moralismo de lado, preocupa a lastimável miséria do vocabulário hodierno de nossa juventude. Pobreza não apenas de letras, mas de sentimentos. A palavra é como o invólucro destes últimos. Grandes sentimentos não cabem em expressões de tamanha irrelevância. Joias preciosas (e os sentimentos o são) devem ser guardadas em locais apropriados, da mesma forma que vinhos bons devem ocupar odres novos. A carestia, hoje, é tanto dos bons vinhos e preciosas joias, quanto dos odres novos e porta-joias adequados. Carece-se também de sentimentos nobres e palavras boas. Mais do que nunca, urge que muitos lambam sabão. Haja sabão, é verdade! Mais difícil, contudo, é achar pessoas dispostas a mandar seus filhos, amigos e alunos lamberem sabão. Complexo e desafiador exercício de autoridade. É nadar contra a maré, pois que politicamente incorreto. Não é fácil dar a cara ao tapa, ainda mais quando tanto a cara quanto o tapa se propagam na velocidade da luz por meio das redes sociais. Apesar do risco, alguém precisa dizer aos jovens (e não jovens...): vão lamber sabão!   


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