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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

FOI NO VINTE DE SETEMBRO?



FOI NO VINTE DE SETEMBRO?
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com

                Gaúcho que sou, não há como negar que, vez por outra, me deixo levar por aquele sentimento bairrista, vislumbrando um Rio Grande independente. Acompanhando tal sentimento, certa dose de prepotência frente aos demais estados federados. É como se não compartilhasse com eles dos mesmos ideais, sonhos e dissabores. Tamanha indiferença diante do infortúnio alheio, se por um lado, marca certa autonomia destas terras, por outro dificulta qualquer tentativa de se buscar, em conjunto com as demais “estrelas” desta constelação chamada Brasil, saídas efetivas para os históricos e crassos problemas que afligem a esmagadora (esmagada!) maioria dos brasileiros.

                O sentimento nativista deve ser cultivado por cada gaúcho e cada gaúcha. O resgate da história e o respeito às tradições são como chamas a serem mantidas acesas, pois que servem de farol em meio a um mar cada vez mais tenebroso, um mundo que – em nome do deus mercado – homogeniza gostos e costumes. Os tempos ditos pós-modernos (?) contribuem para o descarte de todos e de tudo, inclusive das culturas outrora consideradas sólidas, forjadas ao longo de muitas gerações.

                A chamada Revolução Farroupilha (1835-1845) pode ser vista a partir de vários ângulos. Foi um movimento elitista ao trazer para o centro das discussões, principalmente, os interesses dos estancieiros gaúchos prejudicados pela política econômica do governo central em relação, por exemplo, ao charque. Por outro lado, o movimento farrapo contribuiu para escancarar algumas contradições do Império, entre elas a escravidão. Muitos negros passaram a ver a Revolução como meio de romper com a organização social até então reinante. Como todo o movimento de grandes proporções, a Revolução Farroupilha por certo fugiu de seus objetivos inicialmente traçados.

                O Vinte de Setembro – presente no hino de nosso estado – deve ser reverenciado pelo simbolismo que representa. Deseja-se que os ideais da fugaz República Rio-Grandense – em tempo idos, largamente defendidos (ao menos na oratória) pelos revoltosos – superem os parcos limites do mero discurso. Ora, que a igualdade de oportunidades possa ser geradora de melhor distribuição de renda. O paternalismo e assistencialismo doentios, de fundo politiqueiro, devem ser enterrados. Os males por eles provocados são inúmeros. São frutos de uma política equivocada assentada em práticas coronelistas que transformam zonas eleitorais em verdadeiros currais de votos direcionados. Deseja-se que a fraternidade nasça das relações interpessoais sadias, fundadas na ética e no compromisso com o coletivo. Sonha-se com uma verdadeira liberdade, alicerçada numa “paz social” e alinhada à justiça. Sim, uma liberdade que não deite à cama com o poder econômico, a impunidade, a omissão, o descaso ou a indiferença.

                Assim, no fundo, a verdadeira Revolução – enquanto transformação das perversas estruturas sociais, políticas e econômicas – não “foi”, jamais aconteceu. Contudo, ela pode “ser”. Depende de cada gaúcho e de cada gaúcha. Depende de cada brasileiro, gaudério ou não, apreciador da erva-mate ou do tereré, torcedor da dupla grenal ou do Bragantino, adepto da bombacha ou da roupa típica do Sertão, comedor de churrasco ou simpático ao peixe extraído do Solimões. Sirva o Vinte de Setembro para reflexão crítica e, acima de tudo, para tomada de posição. Estes páreos, mais do que ximangos ou maragatos, precisam sobretudo de verdadeiros cidadãos! Boa Semana Farroupilha a todos!

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