FOI NO VINTE DE SETEMBRO?
Prof. Gilvan
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blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com
Gaúcho que sou, não há como negar que, vez por outra,
me deixo levar por aquele sentimento bairrista, vislumbrando um Rio Grande
independente. Acompanhando tal sentimento, certa dose de prepotência frente aos
demais estados federados. É como se não compartilhasse com eles dos mesmos
ideais, sonhos e dissabores. Tamanha indiferença diante do infortúnio alheio,
se por um lado, marca certa autonomia destas terras, por outro dificulta
qualquer tentativa de se buscar, em conjunto com as demais “estrelas” desta
constelação chamada Brasil, saídas efetivas para os históricos e crassos
problemas que afligem a esmagadora (esmagada!) maioria dos brasileiros.
O sentimento nativista deve ser cultivado por cada
gaúcho e cada gaúcha. O resgate da história e o respeito às tradições são como
chamas a serem mantidas acesas, pois que servem de farol em meio a um mar cada
vez mais tenebroso, um mundo que – em nome do deus mercado – homogeniza gostos
e costumes. Os tempos ditos pós-modernos (?) contribuem para o descarte de
todos e de tudo, inclusive das culturas outrora consideradas sólidas, forjadas
ao longo de muitas gerações.
A chamada Revolução Farroupilha (1835-1845) pode ser
vista a partir de vários ângulos. Foi um movimento elitista ao trazer para o
centro das discussões, principalmente, os interesses dos estancieiros gaúchos prejudicados
pela política econômica do governo central em relação, por exemplo, ao charque.
Por outro lado, o movimento farrapo contribuiu para escancarar algumas
contradições do Império, entre elas a escravidão. Muitos negros passaram a ver
a Revolução como meio de romper com a organização social até então reinante.
Como todo o movimento de grandes proporções, a Revolução Farroupilha por certo
fugiu de seus objetivos inicialmente traçados.
O Vinte de Setembro – presente no hino de nosso
estado – deve ser reverenciado pelo simbolismo que representa. Deseja-se que os
ideais da fugaz República Rio-Grandense – em tempo idos, largamente defendidos (ao
menos na oratória) pelos revoltosos – superem os parcos limites do mero
discurso. Ora, que a igualdade de
oportunidades possa ser geradora de melhor distribuição de renda. O
paternalismo e assistencialismo doentios, de fundo politiqueiro, devem ser
enterrados. Os males por eles provocados são inúmeros. São frutos de uma
política equivocada assentada em práticas coronelistas que transformam zonas
eleitorais em verdadeiros currais de votos direcionados. Deseja-se que a fraternidade nasça das relações
interpessoais sadias, fundadas na ética e no compromisso com o coletivo. Sonha-se
com uma verdadeira liberdade,
alicerçada numa “paz social” e alinhada à justiça. Sim, uma liberdade que não
deite à cama com o poder econômico, a impunidade, a omissão, o descaso ou a indiferença.
Assim, no fundo, a verdadeira Revolução – enquanto transformação
das perversas estruturas sociais, políticas e econômicas – não “foi”, jamais
aconteceu. Contudo, ela pode “ser”. Depende de cada gaúcho e de cada gaúcha.
Depende de cada brasileiro, gaudério ou não, apreciador da erva-mate ou do
tereré, torcedor da dupla grenal ou do Bragantino, adepto da bombacha ou da
roupa típica do Sertão, comedor de churrasco ou simpático ao peixe extraído do
Solimões. Sirva o Vinte de Setembro para reflexão crítica e, acima de tudo,
para tomada de posição. Estes páreos, mais do que ximangos ou maragatos,
precisam sobretudo de verdadeiros cidadãos! Boa Semana Farroupilha a todos!
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