ALGUÉM VIU A LEITURA?
Gilvan
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blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com
Há muito que sumida, alguém viu a leitura? Quiçá
perdida por aí, sem eira e nem beira. Jogada sobre algum banco de praça,
coberta por jornais dormidos. Esquecida e faminta, a perambular pelas ruas e
vielas úmidas e escuras. Maltrapilha, mal cheirosa e descalça. Dela, a maioria
quer distância. Por ela se passa de largo, sequer merecendo um breve olhar
piedoso ou um singelo aceno. Nada. Total e absoluta indiferença. Logo ela que,
noutros tempos, era companheira inseparável dos doutores e letrados. Antes,
sinônimo de deferência e respeito. Agora, associada a um passado longínquo,
empoeirado e insosso. Noutros tempos, amada e desejada. Hoje, jogada às traças
e tripudiada. A antiga altivez deu lugar ao olhar cabisbaixo, enquanto os
holofotes foram substituídos pela penumbra das prateleiras há muito não
visitadas. Antes, o brilho. Agora, sequer motivo de um elogio ou de um afago.
Bons tempos aqueles em que era levada para cama, a dormir junto a príncipes,
princesas e até mesmo plebeus. Os lençóis de seda deram lugar à aspereza das caixas
de papelão, quando não às chamas de uma fogueira improvisada. Foi-se o tempo em
que era o centro das atenções. Hoje, violentada, desrespeitada e agredida. Já
não lhe chamam pelo nome, quando muito pelo apelido. Comum mesmo é lhe podarem
letras, sílabas, palavras e até frases inteiras. O zelo pela boa escrita,
matéria-prima de uma prazerosa leitura, há muito foi abandonada. Hoje pouco se
escreve, quando muito se balbucia. Encurta-se não apenas vocábulos, mas sonhos.
Por onde anda a leitura? Saudades do tempo em que dava asas à imaginação. Tempo
em que excitava os sentidos, só abandonada quando vencida pelo sono. Tempo em
que afazeres outros eram preteridos em seu favor. Saudades do tempo em que unia
gerações, aproximava pessoas. Ah, bons tempos aqueles em que o pequerrucho se aninhava
junto ao corpo do pai ou da mãe para ouvir histórias. Contos que pareciam
brotar daquelas páginas coloridas realçadas pela voz doce de quem os narrava. Alguém
viu a leitura? É duvidar, está por aí brincando de pega-pega ou jogando bolita com
o peão, a peteca e o bambolê. Saudades do papel, de seu cheiro e densidade.
Insuperável é o prazer que nasce ao virar cada página. A expectativa do porvir,
a curiosidade acerca do destino de cada personagem. Uma trama envolvente é como
sexo da melhor qualidade, indescritível... Só lendo para saber. Por onde anda a
leitura? Antes, arauto de novidades, descobertas e invenções. Verdadeira
depositária de tradições milenares reveladas através de mitos, contos,
parábolas, romances, poesias, notas musicais... Às vezes mais, às vezes menos
complexas. Simples ou herméticas, era capaz de encantar, fazer sorrir ou
chorar. Leitura, onde estás? Não imaginas a falta que fazes. Por mais que se
tente achar quem te substitua, te mostras imprescindível. Saudade arrebatadora,
dor desesperadora. Procura-se a leitura. Há muito que sumida, alguém a viu?
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu não diria que sumiu, ela apenas transformou-se. A leitura deixou de ser tão demorada e passou para algo mais dinâmico, por exemplo: livros de 300 páginas tornaram-se filmes, textos que são representados por imagens. Claro, isso retira a competência da imaginação, tornando as histórias limitadas àquilo que vemos. Mas não acredito que a leitura tenha sumido, acredito que até tenha se fortificado pois as informações estão cada vez mais rápidas, sendo possível acessar notícias por celular, também não desconsidero as redes sociais, pois, de certa forma, mantem grupos atualizados acerca de seus acontecimentos. Por isso, acredito que a leitura não tenha sumido, mas o material em que ela é divulgada.
ResponderExcluirFico feliz por teres lido meu singelo texto. Infelizmente, pouco se lê neste país. És uma exceção. Abraço de quem te admira. Gilvan.
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