EDUCAÇÃO: O PODER DO VÍNCULO
Prof. Gilvan
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A escola de hoje é um deserto. Nela, salvo uma ou
outra exceção, prospera a aridez nas relações. O afeto é arredio e o carinho
apenas vez por outra se faz presente. Reluta-se em dar um abraço e vende-se
caro um elogio, mesmo que singelo. O afeto há muito virou título empoeirado nas
estantes das parcas bibliotecas. O semblante amarrado do professor, feito
carranca às avessas, espanta não apenas os bons espíritos (pois que os maus
permanecem e se multiplicam...), mas também as crianças. A crise é de tal monta
que a até a “sala dos professores” mais parece uma trincheira de guerra. Do
lado de cá os professores, enquanto do outro, legiões inimigas formadas por
hordas de crianças e adolescentes sedentos pelo sangue docente. O recreio, ao
invés de momento de integração e de encontro entre os mestres e seus pupilos,
há muito é tido como efêmero refúgio de corpos aniquilados pelo cansaço do
corpo e da alma. É, ainda, espaço de escambo, comércio e fofoca, muita fofoca.
Fala-se e vende-se de tudo. Lingeries de todas as cores, formas e tamanhos. Compotas, perfumes e até mesmo
pacotes de viagem. A criatividade só é menor do que a necessidade de compensar
os aviltantes números a preencherem os contracheques. Aproveita-se, ainda – e
quando o tempo o permite – para traçar algumas estratégias para a próxima
batalha, pois que toda aula mais parece um campo de luta. Conselhos não faltam:
“manda para Direção”; “suspende”; “chama os pais”; “faz ata”; “manda embora”;
“chama a patrulha escolar ou o Conselho Tutelar”, etecetera e tal. No canto,
não é incomum, uma professora a soluçar e reclamar da sorte. Onde fora se
meter! Maldita a hora que resolvera ser professora. É duvidar, sai direto dali
para o RH. A mesma ameaça de ontem, de anteontem, do ano passado... Amanhã, por
certo, estará ali, naquela mesma sala, afagando ou sendo afagada. Em nome de
uma missão que não acredita, segue ela em sua vida modorrenta. Não vê a hora
das férias ou do próximo feriado. Ah, de preferência prolongado. Por entre
pacotes de biscoito Maria e copos sujos de café, folhas e mais folhas. Ditado, Redação,
“Pesquisa”, contas intermináveis de toda espécie. Um monte de letras e símbolos
vazios. Cópias destituídas de qualquer significado. Certeza, uma só: mais
trabalho para o fim de semana! Triste sina. Espera-se a aposentadoria e, de
preferência bem depois, a morte. É como se as cortinas do teatro da vida
baixassem antes do grand finale, deixando o espectador confuso, quando não decepcionado ou irritado
por sentir-se lesado. A escola, hoje, é o verdadeiro quadro da dor. Inferno
dantesco, tomado de lamúrias e queixas. Solução? Existe sim. Ela passa,
necessária e obrigatoriamente, pela construção de vínculos. Vínculos entre
docentes e comunidade, entre professores e seus pares, entre mestres e seus
alunos. Principalmente estes últimos! O exercício do magistério não exige
vocação. Requer, isto sim, profissionalismo e amor. O educador deve ter amor
por ele mesmo, pelos colegas, pelos alunos e pela comunidade onde atua. Tentar
educar sem amor é tarefa fadada ao fracasso. O professor deve apaixonar-se por
seu papel. Encantar-se pelo outro. Acreditar no ser humano. Esperar que o
educando seja capaz de aprender. Apostar no sucesso do aluno. A formação de
vínculos fundados no amor é pressuposto para uma boa aprendizagem, além de um
poderoso antídoto no combate à indisciplina escolar. A construção do vínculo
requer respeito, alteridade, honestidade, verdade, coerência, convicção,
limite, cobrança, sanção. O verdadeiro vínculo confunde-se com o amor exigente.
Andam juntos, imbricam-se, fundem-se. A formação do vínculo exige um olhar
viajante do educador. Este precisa ser um decifrador de almas. O professor que
adentra no coração do educando dá imensurável passo no processo
ensino-aprendizagem. Entra, mas não invade. Quem educa acaba por se tornar
cúmplice de quem aprende. Condescendência profícua, necessária e bem-vinda. Ambos,
educador e educando, crescem e se fortalecem. Constituem-se como sujeitos,
diferentes mas interdependentes. Indispensáveis um para o outro. A necessária e
salutar hierarquia supera a tirania, seja do aluno, seja do professor. A
verticalização passa a não mais denotar repressão, mas libertação. As
idiossincrasias e distinção de papéis deixam de ser empecilho e passam a ser
matéria-prima para o crescimento de todos. A escola precisa ser um espaço
privilegiado para formação, resgate e aprofundamento dos vínculos. O educador
deve ser, acima de tudo, um pescador de almas, pois que só a partir do amor e de
seus frutos é que se dá uma aprendizagem prazerosa, significativa e duradoura.
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