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sexta-feira, 1 de junho de 2012

OUTONO


OUTONO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com




                Muito tem a natureza para nos ensinar. O que para nós é sinal de luto, para ela representa vida e esperança. Outono traz consigo a queda das folhas. É quando as árvores ficam completamente desnudas. Para o olhar limitado dos pobres mortais, outono traz consigo como que uma espécie de morte, esta em seu sentido mais triste, qual seja, o “fim” absoluto de algo ou alguém. Flagrante equívoco! Outono é vida. Não fosse o cair das folhas, restaria comprometido o belo ciclo da vida. As folhas que hoje caem alimentam e adubam a terra, fertilizando-a. Servem de alimento à própria raiz da árvore que, pela engenharia de Gaia, garante ao vegetal sua permanência durante muitos e muitos outonos, anos e anos. Outono permite, ainda, a sobrevivência de todo um ecossistema, além de ensinar algo cada vez mais esquecido: a solidariedade e o desapego. As folhas que hoje não servem à árvore, por sua vez são indispensáveis e vitais a tantos outros seres. O que seria da miríade de insetos que sobrevivem e se multiplicam a partir das folhas que, aparentemente, não mais são úteis à árvore? O que para esta talvez pareça sobra, para outras criaturas é sobrevivência. Somos como árvores. Em comum, a beleza, a singularidade, a dependência dialética e recíproca. Modificamos e somos modificados. Como elas, porém, somos mortais. Assim como árvores, nos deparamos com toda sorte de intempérie: ventos fortes, chuva torrencial, estiagem e granizo. Não bastasse isso, há que se lembrar da atávica agressão nascida da escassez de valores. Árvores e pessoas sofrem com o egoísmo, a cobiça e a ambição exacerbada. Nós e elas só fazemos sentido a partir do olhar alheio. Não fosse o “outro”, o que seria de ambos? Os relacionamentos é que alimentam a seiva estruturante da vida. Esta é tão rica quanto o são as relações e os afetos. Apesar das semelhanças, nossa teimosia – como venda – impede que aprendamos com as árvores. A lidar, como elas, com a aparente perda. Miramos a dor e o sofrimento que o luto proporciona e deixamos de lado os instantes memoráveis que passamos juntos. O sorriso aberto, os causos contados, o cheiro inconfundível, o calor da presença... Parece que apagamos da memória, preferindo conservar nela a imagem do corpo inerte e gélido. Tendemos a substituir as festas juntas vividas pelos prantos seguidos de pêsames. O coração, ao invés de fortalecido pelas boas e eternas lembranças, serve de trono à tristeza e à dor que alimenta a depressão e enriquece as farmácias. Sejamos como as árvores em outono. Façamos da morte um momento de vida, para nós e para outrem. Aprendamos com a natureza, pois dela fazemos parte e a ela estamos, inexoravelmente, ligados. O ciclo dela é também o nosso. Desejo que a morte suscite, sobretudo, a saudade. Como outono, seja nosso aparente fim. Sirva ele para fertilizar o coração e a alma, ou de pretexto para uma alegre conversa entre amigos e entes queridos. Talvez, ainda, de inspiração para boêmios e poetas. Viva as folhas caídas de outono!

Outono de 2012.

2 comentários:

  1. Claro, nunca devemos esquecer que o fim de algo sempre será o começo de outra coisa, nada vai terminar definitivamente, só que devemos ter uma visão positiva mesmo no mais escuro momento.

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  2. Igor, mais uma vez tenho que me curvar diante de tua invejável sensibilidade. Tal maturidade desafia e põe por terra a ideia de que a pouca idade é sinônimo de parca visão quanto à vida e a tudo o que a ela diz respeito. Abraço fraterno de quem muito vem aprendendo contigo. Gilvan.

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