OUTONO
Gilvan Teixeira
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blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com
Muito tem a natureza para nos ensinar. O que para nós
é sinal de luto, para ela representa vida e esperança. Outono traz consigo a
queda das folhas. É quando as árvores ficam completamente desnudas. Para o
olhar limitado dos pobres mortais, outono traz consigo como que uma espécie de
morte, esta em seu sentido mais triste, qual seja, o “fim” absoluto de algo ou
alguém. Flagrante equívoco! Outono é vida. Não fosse o cair das folhas,
restaria comprometido o belo ciclo da vida. As folhas que hoje caem alimentam e
adubam a terra, fertilizando-a. Servem de alimento à própria raiz da árvore
que, pela engenharia de Gaia, garante ao vegetal sua permanência durante muitos
e muitos outonos, anos e anos. Outono permite, ainda, a sobrevivência de todo
um ecossistema, além de ensinar algo cada vez mais esquecido: a solidariedade e
o desapego. As folhas que hoje não servem à árvore, por sua vez são
indispensáveis e vitais a tantos outros seres. O que seria da miríade de
insetos que sobrevivem e se multiplicam a partir das folhas que, aparentemente,
não mais são úteis à árvore? O que para esta talvez pareça sobra, para outras
criaturas é sobrevivência. Somos como árvores. Em comum, a beleza, a
singularidade, a dependência dialética e recíproca. Modificamos e somos
modificados. Como elas, porém, somos mortais. Assim como árvores, nos deparamos
com toda sorte de intempérie: ventos fortes, chuva torrencial, estiagem e
granizo. Não bastasse isso, há que se lembrar da atávica agressão nascida da
escassez de valores. Árvores e pessoas sofrem com o egoísmo, a cobiça e a
ambição exacerbada. Nós e elas só fazemos sentido a partir do olhar alheio. Não
fosse o “outro”, o que seria de ambos? Os relacionamentos é que alimentam a
seiva estruturante da vida. Esta é tão rica quanto o são as relações e os
afetos. Apesar das semelhanças, nossa teimosia – como venda – impede que aprendamos
com as árvores. A lidar, como elas, com a aparente perda. Miramos a dor e o
sofrimento que o luto proporciona e deixamos de lado os instantes memoráveis
que passamos juntos. O sorriso aberto, os causos contados, o cheiro
inconfundível, o calor da presença... Parece que apagamos da memória,
preferindo conservar nela a imagem do corpo inerte e gélido. Tendemos a
substituir as festas juntas vividas pelos prantos seguidos de pêsames. O
coração, ao invés de fortalecido pelas boas e eternas lembranças, serve de
trono à tristeza e à dor que alimenta a depressão e enriquece as farmácias.
Sejamos como as árvores em outono. Façamos da morte um momento de vida, para
nós e para outrem. Aprendamos com a natureza, pois dela fazemos parte e a ela
estamos, inexoravelmente, ligados. O ciclo dela é também o nosso. Desejo que a
morte suscite, sobretudo, a saudade. Como outono, seja nosso aparente fim.
Sirva ele para fertilizar o coração e a alma, ou de pretexto para uma alegre
conversa entre amigos e entes queridos. Talvez, ainda, de inspiração para
boêmios e poetas. Viva as folhas caídas de outono!
Outono de 2012.
Claro, nunca devemos esquecer que o fim de algo sempre será o começo de outra coisa, nada vai terminar definitivamente, só que devemos ter uma visão positiva mesmo no mais escuro momento.
ResponderExcluirIgor, mais uma vez tenho que me curvar diante de tua invejável sensibilidade. Tal maturidade desafia e põe por terra a ideia de que a pouca idade é sinônimo de parca visão quanto à vida e a tudo o que a ela diz respeito. Abraço fraterno de quem muito vem aprendendo contigo. Gilvan.
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