SUPERPOPULAÇÃO: MITO OU VERDADE?
Prof. Gilvan
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com
e-mail: profpreto@gmail.com
Não tem sido incomum os meios de comunicação, em
especial o televisivo, trazerem à luz a questão relativa ao tema aqui proposto.
Iniciativa esta positiva, não fosse a forma muitas vezes equivocada com que o
assunto tem sido abordado. A Terra, hoje, possui de fato uma superpopulação a ponto
de ser associada a uma “estação lotada”? Apesar da forte tendência de muitos
responderem afirmativamente, defende-se aqui, no mínimo, o espaço ao
contraponto. Ora, primeiro deve restar claro que a preocupação com uma eventual
“explosão” demográfica não é nova. No final do século XVIII e início do XIX,
por exemplo, teóricos como Malthus – fundados em princípios deterministas, o
que era comum à época – já anunciavam em tom profético que a humanidade estaria
fadada à fome, não fossem algumas catástrofes e guerras que faziam às vezes de
uma espécie de “seleção natural”. A teoria malthusiana estava baseada na ideia
de que há um descompasso entre o crescimento da população e a produção de
alimentos. Segundo ele, enquanto o primeiro cresceria de forma geométrica
(2,4,8,16,32...), o segundo cresceria de maneira aritmética (2,4,6,8,10...).
Ora, ao que tudo indica, Malthus desprezou um fator significativo, qual seja, a
capacidade do homem em criar e produzir novas tecnologias. Prova cabal da
falibilidade teórica malthusiana é que hoje, mesmo diante de uma população que
ultrapassa a casa dos sete bilhões, a capacidade produtiva, segundo indicam
muitos estudos, daria conta de alimentar mais de nove bilhões de pessoas.
Assim, o que falta não é comida mas, isto sim, condições econômicas por parte
de grande parcela da população mundial, alijando-a do acesso a uma dieta
alimentar satisfatória do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Logo após
a Segunda Guerra Mundial (1939-45), surgiu uma nova (não tão nova...) teoria, a
“neomalthusiana”. Esta, por sua vez, alegava que a prevalência da população
jovem nos países subdesenvolvidos seria a principal causa para as agruras
socioeconômicas desses povos. Segundo o neomalthusianismo, tal perfil ensejaria
gastos estrondosos em saúde e educação, por exemplo, acarretando na falta de
recursos para investimentos na produção. Na mesma época, meados da década de
1940, surgiu também a teoria demográfica-reformista. Segundo ela, o
subdesenvolvimento e a fome são resultantes, principalmente, da má distribuição
da renda e da consequente desigualdade social.
Se por um lado, há de se ter cuidado com as teorias
que demonizam a natalidade nos países subdesenvolvidos, por outro há de se
reconhecer que o contingente populacional hoje existente põe em risco os
recursos naturais do planeta, muito mais em função da escassez de uma “cultura”
voltada à sustentabilidade (inclusive nos países mais desenvolvidos) do que
propriamente em decorrência do número de pessoas sobre a face terrestre.
Preocupante é, também, o fato de que cerca de 40% da população mundial segue
atrelada às formas ultrapassadas de produção, especialmente associadas a
algumas atividades do setor primário, como a silvicultura e a pesca. Somado a
isso, é vergonhoso o número de seres humanos que vegetam na fome, no
analfabetismo, na falta de trabalho e de renda. Parcelas imensas da população
mundial seguem à margem das novas tecnologias e das melhorias há muito
vivenciadas pelos países desenvolvidos.
Conclui-se, portanto, que a famigerada
“superpopulação” deve ser vista com ressalvas. Certo é que soa como
irresponsável a tentativa de atribuir ao contingente populacional dessa ou
daquela família, desse ou daquele país, a principal causa da fome ou do
subdesenvolvimento. Elevadas taxas de natalidade, por exemplo, antes de serem
causa são sobretudo resultado da distribuição desigual das riquezas, seja em
nível nacional ou internacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário