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sexta-feira, 18 de maio de 2012

SIMPLESMENTE LINDA


SIMPLESMENTE LINDA
Gilvan


Não a conheço. Contudo, é como a conhecesse, pois não tem aula que a jovem mãe não fale da Maria Eduarda. Mãe é assim mesmo, boba, coruja, baba pela prole. A Maria Eduarda, assim como muitas outras crianças, parece crescer feliz. Sim, feliz porque amada. O amor desperta não apenas o sorriso, mas acalenta a alma e faz brotar por sobre a Terra homens e mulheres de bem. Saudáveis emocionalmente. Equilibrados psicologicamente. Num país marcado pelo descaso, pelo abandono, pela bastardia, onde seres nascem sem a oportunidade de serem, de fato, crianças, ser amado ou amada, por certo, constitui-se num privilégio. É a Maria Eduarda, mas poderia ser Thaíse, Marcelly, Matheus, Thamires, Samuel ou Leonardo. Crianças felizes. No lugar de cestos de vime, um aconchegante berço. Ao invés de sacos plásticos, boiando sobre a água, a envolver o corpo inocente, mantas e roupas quentinhas a cobrir-lhes o corpo. No lugar do choro desesperado nascido da dor e do gélido frio, o choromingo manhoso de quem almeja pelo colo materno. Filhos não das pedras, mas do amor. Obras não do acaso, como se acidentes fossem, mas sim frutos de um sentimento muito maior, sem fim, imensurável... A voz da mãe ao pronunciar o nome da Maria Eduarda soa como voz de arauto a anunciar um anjo. Como ser diferente? Ah, se pais e mães soubessem o poder das palavras, jamais amaldiçoariam seus filhos. Palavras doces, nem por isso destituídas de firmeza, fertilizam o terreno das emoções e fazem brotar lindos botões e formosas flores. Palavras ofensivas e expressões de desprezo espezinham o coração e machucam a alma, quase sempre, de maneira indelével. Trazem sérias consequências e ignóbeis marcas, às vezes eternas, sobre a vida. Gerações perdidas são aquelas, simples e irresponsavelmente paridas. Seres que nascem do excesso do álcool ou de outras tantas drogas que entorpecem. Contudo, no olhar de crianças como o da Maria Eduarda renasce a teimosa e sempre bem-vinda esperança de que, quiçá um dia, vivamos cercados de crianças lindas, simplesmente lindas...

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