SIMPLESMENTE
LINDA
Gilvan
Não a
conheço. Contudo, é como a conhecesse, pois não tem aula que a
jovem mãe não fale da Maria Eduarda. Mãe é assim mesmo, boba,
coruja, baba pela prole. A Maria Eduarda, assim como muitas outras
crianças, parece crescer feliz. Sim, feliz porque amada. O amor
desperta não apenas o sorriso, mas acalenta a alma e faz brotar por
sobre a Terra homens e mulheres de bem. Saudáveis emocionalmente.
Equilibrados psicologicamente. Num país marcado pelo descaso, pelo
abandono, pela bastardia, onde seres nascem sem a oportunidade de
serem, de fato, crianças, ser amado ou amada, por certo,
constitui-se num privilégio. É a Maria Eduarda, mas poderia ser
Thaíse, Marcelly, Matheus, Thamires, Samuel ou Leonardo. Crianças
felizes. No lugar de cestos de vime, um aconchegante berço. Ao invés
de sacos plásticos, boiando sobre a água, a envolver o corpo
inocente, mantas e roupas quentinhas a cobrir-lhes o corpo. No lugar
do choro desesperado nascido da dor e do gélido frio, o choromingo
manhoso de quem almeja pelo colo materno. Filhos não das pedras, mas
do amor. Obras não do acaso, como se acidentes fossem, mas sim
frutos de um sentimento muito maior, sem fim, imensurável... A voz
da mãe ao pronunciar o nome da Maria Eduarda soa como voz de arauto
a anunciar um anjo. Como ser diferente? Ah, se pais e mães soubessem
o poder das palavras, jamais amaldiçoariam seus filhos. Palavras
doces, nem por isso destituídas de firmeza, fertilizam o terreno das
emoções e fazem brotar lindos botões e formosas flores. Palavras
ofensivas e expressões de desprezo espezinham o coração e machucam
a alma, quase sempre, de maneira indelével. Trazem sérias
consequências e ignóbeis marcas, às vezes eternas, sobre a vida.
Gerações perdidas são aquelas, simples e irresponsavelmente
paridas. Seres que nascem do excesso do álcool ou de outras tantas
drogas que entorpecem. Contudo, no olhar de crianças como o da Maria
Eduarda renasce a teimosa e sempre bem-vinda esperança de que, quiçá
um dia, vivamos cercados de crianças lindas, simplesmente lindas...
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