OS
TRÊS PATETAS
Gilvan
Teixeira
e-mail:
profpreto@gmail.com
Blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
A
comédia pastelão das décadas de 1960 e 70, quando eu ainda não
passava de um guri, parece mais viva do que nunca. Menos engraçada,
é claro, a versão tupiniquim criada na republiqueta verde-amarela
não deixa de guardar algumas semelhanças com aquela encenada por
Moe, Larry e Curly. As
patetices destes últimos são um nada frente àquelas promovidas
pelo Executivo, Legislativo e Judiciário de nosso vergonhoso país.
A comicidade da arte
pretérita dá lugar ao patético papel desempenhado por aqueles que,
sob seus ternos e togas, não conseguem disfarçar o azedume que
brota da ética putrefata e da arrogância abjeta.
Batem cabeça os Patetas da
República, fazendo lembrar baratas que, em fuga, esquivam-se da luz,
pois que acostumadas aos ambientes escuros e fétidos dos porões das
Câmaras, Assembleias, Prefeituras, Palácios e Tribunais de toda
ordem. É falar em
transparência, enlouquecem. É pensar em controle social,
endoidecem. É cogitar em equidade, desfalecem. Não
por acaso, o Brasil mais parece um enorme móvel tomado de cupins.
Por fora, aparenta – por vezes – certa normalidade, não fossem
os “farelos” em forma de violência urbana, escolas e hospitais
sucateados, desemprego, desigualdade social, carga
tributária insana, falta de saneamento básico, corrupção
generalizada, precarização dos direitos trabalhistas e
previdenciários, disseminação do ódio em relação às minorias…
Farelos que vão sendo
varridos para baixo do tapete, escondidos sob as cuecas, justificados
por meio de sentenças, legitimados através de dispositivos legais,
tornados palatáveis pela irracionalidade da propaganda. Enquanto
isso, as estruturas da famigerada República e do falacioso Estado de
Direito definham sob o ataque voraz das
pragas. Quanta patetice! O
equilíbrio sugerido por Montesquieu jamais existiu por estas bandas.
Enquanto o país mais parece um ébrio a enrolar as pernas, pois que
frágeis os membros que deveriam sustentá-lo, os Poderes batem
cabeça. Fazem lembrar
a Hidra de Lerna depois de uma grande “cheirada”. Falta um norte,
sobra palermice. Quem
sofre é a “plateia” que –
a preço de ouro – , sentada sobre o piso frio e úmido, sustenta
o bizarro espetáculo. No
picadeiro, o que se vê são os Três Patetas num ridículo
improviso, indiferentes à
qualidade do espetáculo, confiantes talvez no
conforto modorrento de seus cargos. Frases
prontas, chavões e citações em latim tentam engambelar o
espectador, que, a mexer-se no assento duro, já demonstra certa
impaciência. Vez por outra,
a velha e carcomida, mas ainda eficiente, política do “pão e
circo” sofre algumas
turbulências. Apela-se
então para a “mudança”, pois que trata-se da melhor forma de
deixar tudo como está. Os
Patetas mudam uma fala aqui outra acolá, trocam seis por meia dúzia,
invertem uma ou outra peça do baralho e pronto! Segue o espetáculo.
À plateia, pode haver
momento mais jocoso do que aquele em que os Patetas batem um no
outro? É quando, então, o que era “público” torna-se “turba”,
saindo em defesa deste ou daquele Pateta, na
vã esperança de deixar a insignificância do anonimato para ser
protagonista. Quem ri, agora,
são os Patetas. Sim, riem de nós, de
nossa imbecilidade e
tendência a ver no algoz um
amigo, ainda que Pateta.
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