“ALUNO É PARÂMETRO
DELE MESMO”
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
“O aluno é parâmetro dele mesmo!”.
Quem já não ouviu o chavão? A afirmação, revestida de uma aparente aura
acadêmica, ao que tudo indica, diz quase nada. Afinal, o que é “parâmetro”?
Conceitos acerca do vocábulo temos de sobra. Usemos, a título de exemplo, uma
das definições trazidas pelo Michaelis
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Segundo ele, “parâmetro é
aquilo que serve de base ou norma para que se proceda à avaliação de qualidade
ou quantidade”. Parâmetro pressupõe, portanto, aquilo já existente. Qual é o
“parâmetro” que o aluno possui? Qual é a distância ou diferença entre o que ele
hoje demonstra saber (habilidades e competências desenvolvidas) comparado ao
que apresentava ao iniciar o bimestre, trimestre, semestre, ano ou algo
parecido? Ao que tudo indica nem ele e nem tampouco o professor ou a escola
sabem. Buscando, consciente ou inconscientemente, responder a tão complexo
questionamento apela-se, no meio pedagógico, a teorias que nada mais são do que
evasivas a revelarem o profundo desconhecimento quanto ao processo
ensino-aprendizagem. Não apenas “desconhecimento”, mas, por vezes, despreparo,
acomodação e até mesmo certa arrogância professoral na difícil tarefa de
avaliar o educando. Talvez, ainda, temor em levar a fundo a avaliação em
relação ao “outro”, afinal isso é também “avaliar-se”, debruçar-se sobre o
próprio trabalho, correndo o risco de – muito provavelmente – precisar mexer no
planejamento já amarelado pelo tempo, repensar a metodologia há anos adotada ou
quebrar a cabeça na (re)montagem das velhas questões de prova. Tem sido comum,
ainda, educadores/escolas propugnarem pela máxima de que “os aspectos
qualitativos devem prevalecer sobre os quantitativos”, fazendo uma
interpretação equivocada, senão bizarra, da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. A Lei Federal no 9.394/96 traz:
Art. 24. A educação básica, nos níveis
fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
[...]
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,
com prevalência dos aspectos
qualitativos sobre os quantitativos e
dos resultados ao longo do período
sobre os de eventuais provas finais;
[...]
e) obrigatoriedade de estudos de
recuperação, de preferência paralelos ao
período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem
disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos;
[...]
Muitas escolas/professores traduzem
os “aspectos qualitativos” como estando relacionados à postura do educando
frente aos componentes curriculares, dando ao aluno uma “nota” (ou equivalente)
pelo comportamento, organização, pontualidade, respeito às regras da escola,
entrega de trabalhos, etc.. Ledo engano daqueles que assim procedem, pois os
referidos atributos não passam de mera obrigação (inclusive contratual) do discente,
não guardando relação direta com o “rendimento escolar”, este sim objeto do
Artigo supra. O que se vê, na prática, é um preocupante processo de
“idiotização” do aluno, onde – ao contrário do que se deveria esperar (até pelo
enorme custo que representa a escola, pública ou não) – é notória uma “involução”,
retirando dele o pouco que lhe resta da infância, como a curiosidade e o prazer
pela aprendizagem. Conseguimos tornar a escola algo pior e mais cruel do que a
caixa de Pandora, deixando esvair a própria esperança e empurrando o mancebo,
cada vez mais, para o fundo escuro e distorcido da caverna. Como forma de mascarar
tamanho fracasso, não são poucas as instituições que criam e multiplicam
“instrumentos avaliativos” (provinhas, trabalhinhos, recuperação, “recuperação
da recuperação”...) que mal conseguem disfarçar o cheiro fétido que brota da
ignorância. O resultado não poderia ser pior: alunos chegando ao término dos
Ensinos Fundamental e Médio sem os requisitos mínimos necessários. O que se
pretende, obviamente, não é retirar da escola seu caráter de socialização e
troca de experiências, mas atribuir (restituir) a ela seu principal papel, o de
ensinar, sob o risco – de não o fazendo – perder o próprio sentido de existir. A
escola não deve ser confundida com a “esquina”, a casa ou o clube que, vale
lembrar, também são espaços importantes para formação do sujeito. A “escola é
escola”, assim como “professor é professor”, redundâncias importantes mas, ao
que parece, esquecidas. Urge lutarmos por uma escola de qualidade, onde
eventuais teorias (behaviorista,
ausubeliana, vygotskyana, piagetiana,
freiriana, etc) não sejam um fim em si mesmas ou meras “armas” em
favor ou desfavor de ideologias vazias (de “esquerda”, “direita”, “centro”...),
mas referenciais teóricos capazes de contribuírem para o que mais se espera de
uma escola: a aprendizagem!
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