OS PUXADINHOS DA ESCOLA
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Não fosse trágico, seria cômico. As escolas neste
país, principalmente (mas não somente...) as públicas, convivem com a síndrome
dos “puxadinhos”. Lida-se com elas como se fossem um fusca velho. Remenda-se
uma correia aqui, aperta-se um parafuso ali, dá-se uma martelada acolá e
toca-se o barco adiante, ainda que aos trancos e barrancos. Sobra amadorismo,
enquanto falta competência por parte do Estado para imprimir ao ensino a
importância historicamente deixada de lado. Não apenas competência, mas faltam
ao gestor público seriedade e compromisso com a “coisa” pública. Enquanto as
secretarias municipais e estaduais de ensino, assim como o Ministério da
Educação, seguem loteadas por interesses político-partidários espúrios e
mesquinhos, as escolas definham, mais fazendo lembrar um amontoado de ossos secos
sob a indisfarçável pele da indiferença. Salas de aula imundas e mal pintadas,
bibliotecas e laboratórios sucateados, pátios nada convidativos, refeitórios
onde o que menos se vê é uma alimentação equilibrada e de qualidade, banheiros depredados
e mal cheirosos a despertarem a saudade das velhas patentes de tempos
pretéritos... Sobejam problemas na mesma medida que escasseiam soluções
efetivas. Discursos e chavões é que não faltam, assim como as velhas e
desgastadas promessas jamais cumpridas. Enquanto a acessibilidade passa de
largo, a comunidade escolar vai driblando as dificuldades do terreno irregular,
das escadarias mal projetadas e dos acessos por vezes intransponíveis. O mesmo
ente público que tece e fiscaliza os regramentos, não os cumpre, numa
insofismável demonstração de incoerência e criminosa irresponsabilidade. Ao
exercício do magistério sonega-se não apenas o salário minimamente razoável,
mas também as ferramentas indispensáveis no processo ensino-aprendizagem. É
duvidar, falta inclusive o giz, restando quiçá o cuspe a um profissional
aviltado em seu bolso e extorquido em seus sonhos. Quanto ao aluno, segue
alimentado por quimeras e palavras vazias acerca de um futuro que jamais chega.
Fora os parcos instantes sob os flashes das
fotos onde pousa ao lado do prefeito, governador ou presidente, o que prevalece
é o breu de uma vida desassistida e fadada à pobreza. A escola, antes do que
tábua da salvação, há muito vem sendo trampolim para interesses que não vão além
do umbigo de alguns inescrupulosos. O quadro-verde esburacado, os ventiladores
estragados, o telhado mais parecendo um queijo suíço, os jurássicos equipamentos
de uma tecnologia para lá de ultrapassada são apenas a triste ponta de um
vergonhoso iceberg. A esquálida
figura da escola é nada mais do que o retrato do atávico descaso com que o
ensino vem sendo tratado por estes páreos. A real qualidade é preterida em nome
das aparências. Confeccionam-se gráficos multicoloridos que, no frigir dos
ovos, buscam escamotear um contexto sombrio e preocupante. Maquila-se a evasão
com o jogo de palavras e trocadilho de conceitos, assim como “resolve-se” o
problema da repetência com a invenção de fórmulas mágicas. Como de costume,
joga-se para debaixo do tapete toda a fétida sujeira que impede que nossos
educandos, de fato, aprendam. Pactua-se com o politicamente correto passando
panos quentes sobre a incompetência de alguns pseudo-educadores e quase
absoluta inabilidade de muitos gestores. Trata-se, muito comumente, o aluno e
sua família como bestas, como se não fossem eles os que dão sentido à escola. Inexiste
servidor público sem o contribuinte que o sustente. O educando é imprescindível
ao profissional da educação. O primeiro precede o último, dando-lhe razão de
ser. A escola merece respeito! Escola jamais deveria rimar com esmola, mas
carece, isto sim, é de ser entronizada como única resposta para superação do
subdesenvolvimento.
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