A EJA E O PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: DESAFIOS
Prof. Gilvan
Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Mais um Plano
Municipal de Educação (PME) e, com ele, uma torrente de sentimentos que vão
da tímida esperança à escancarada desconfiança. Não por acaso, afinal a
história recente deste município (do estado e do país...) vem reforçando os
atávicos problemas que dizem respeito à educação. Esta, há muito maltratada e vilipendiada,
segue no plano da etérea esperança, onde abundam discursos e promessas,
enquanto faltam ações efetivas capazes de alavancarem o único caminho para o
desenvolvimento social, a saber, o ensino de qualidade. Apesar do pessimismo e
descrédito reinantes, o PME – a reboque do “novo” Plano Nacional de Educação
(PNE), tardiamente aprovado em 2014 –, indiscutivelmente, é um importante
documento, importância esta que nasce da construção coletiva dos atores direta
ou indiretamente ligados à educação: professores e demais funcionários das
instituições de ensino (públicas e privadas), alunos, pais, sindicatos,
mantenedora (Executivo), Legislativo, etc.. O grande desafio, ao que parece, é
transformar o texto produzido (inicialmente, não mais do que letra morta) em
realidade, desafio que passa, necessária e obrigatoriamente, pelo tensionamento
do Estado (aqui compreendido em seu sentido lato
sensu) pela sociedade organizada.
A Educação de
Jovens e Adultos (EJA), no município de Cachoeirinha, há alguns anos vem
agonizando, envolta em inúmeros e graves problemas. O fechamento dessa modalidade
em muitas escolas públicas municipais é apenas a ponta de um triste e
preocupante iceberg, onde a
verdadeira frieza nasce do absoluto descaso do Estado (produto, no frigir dos
ovos, da ação e/ou omissão da sociedade como um todo...) em relação ao ensino,
postura associada ainda à incompetência, inépcia, malversação de recursos,
falta de planejamento a médio e longo prazos, confusão entre público e privado,
processos licitatórios suspeitos, sobreposição de interesses espúrios em
detrimento da coletividade, política salarial aviltantemente pífia e muito
aquém do razoável levando ao desestímulo dos profissionais da educação, dentre
outros. A evasão – principal causa alegada para o fechamento da EJA – não é
obra do acaso, mas produto de uma série de fatores, quase sempre conjugados:
descaracterização do público atendido pela modalidade (hoje, em sua maioria,
adolescentes “vomitados” pelo dia, em decorrência da indisciplina e multirrepetência,
por exemplo), despreparo docente (às vezes, consequência da rotatividade dos
profissionais da EJA, muitos deles vendo na modalidade não mais do que a
oportunidade de aumentar seus vencimentos), estruturas física e pedagógica
precárias (falta de acessibilidade, currículos descolados da realidade
discente, falta de equipamentos), etc.. Portanto, motivos temos de sobra para
discutirmos a EJA. A revisão do PME soa como uma boa oportunidade para
revisitá-lo e, ao fazê-lo, apontarmos eventuais avanços (eles existem, por
certo) e falhas de percurso, denunciando e cobrando do Estado aquilo que lhe
diz respeito, além é claro de jamais deixarmos de lado a sempre bem-vinda e
salutar autocrítica enquanto gestores, professores, alunos, pais,
representantes de Conselhos de Direitos, etc.
A EJA da EMEF
Fidel Zanchetta vem buscando romper com a perversa lógica do ciclo acima
descrito, onde o Poder Público fecha a modalidade porque não tem aluno e não
tem aluno porque o Poder Público nem de perto cumpre com seu papel
constitucional. A opção pelo Ensino à
Distância (EAD) Semipresencial é a prova cabal da intenção da comunidade
escolar em perfectibilizar um direito assegurado nos principais diplomas legais
nacionais ou não. Abre-se com ele (EAD-Semipresencial) uma importante
oportunidade para os jovens e adultos trabalhadores finalizarem o Ensino
Fundamental. A flexibilização de horários (duas noites presenciais e as demais
à distância, por meio da Plataforma
Moodle), a possibilidade de contato com os educadores a qualquer hora, a
apropriação e familiarização com a linguagem digital são apenas algumas das virtudes
do Ensino à Distância praticado pela EJA na referida Escola. Os frutos vêm
aparecendo! Objetiva-se com o EAD-Semipresencial não apenas mitigar a evasão e
repetência, mas sobretudo aprofundar a inclusão social, onde o exercício da
cidadania extrapole os limites do discurso e se transforme em práxis
modificadora do cotidiano. A ferramenta, ao contrário do que muitos pensavam,
veio contribuir na humanização do processo ensino-aprendizagem.
Apesar de todos os avanços, a EMEF Fidel Zanchetta
(EAD-Semipresencial) ainda se debate com muitos dos infortúnios de outras
instituições de ensino que ofertam a modalidade EJA. Urge, por exemplo, significativos
investimentos no Laboratório de Informática (LI), afinal dito espaço passou a
ser uma das espinhas dorsais da EJA. Poucos não são os alunos que dependem dos
equipamentos à disposição na Escola. A falta e/ou a precariedade dos
computadores, por exemplo, fere um importante direito do educando e compromete
o próprio Projeto da Instituição. O PME, a ser discutido ao longo dos próximos
meses, pode e deve contribuir na louvável intenção da comunidade escolar da EJA
Fidel Zanchetta em garantir e aprofundar o atendimento. Para tanto, é
imprescindível a efetiva participação de todos, opinando, criticando,
propugnando por ações concretas que viabilizem uma escola de qualidade.
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