Translate

quinta-feira, 2 de abril de 2015

PROFESSOR, LEVANTA-TE


PROFESSOR, LEVANTA-TE!
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Feito Lázaro inerte, encoberto por ataduras, assim tem se mostrado um incontável número de educadores. Prostrados e cabisbaixos, seguem em sua vidinha profissional modorrenta, imersos em lamúrias e memórias de um passado que, pensam, ter existido. Soterrados em dívidas, veem o limite do cartão estourar, enquanto a algibeira mais parece o Sertão. Pressionados por alguns pais, alunos e hierarquia laboral, titubeiam em suas iniciativas e decisões. Nervosismo, insegurança e medo são apenas alguns dos ingredientes a levedarem a massa do desânimo e do derrotismo. Assolados pelo crescente descrédito social, poucos não são os professores que chutam o balde, desistindo de suas carreiras ou, o que é pior, insistindo num faz de conta que ensina. Acabam por desaguar no aluno a própria insatisfação. Neste último caso, mostram-se azedos e com cara de poucos amigos. Gazeiam o trabalho, sabotam as mais elementares regras profissionais e pouco ou nada fazem para construção de um ensino de qualidade. Cria-se um triste círculo vicioso, onde o professor não é valorizado porque não faz a diferença, enquanto não faz a diferença porque não é valorizado. Pérfida e vil ciranda precisa ser quebrada. O professor precisa (re)conquistar seu espaço, ser autor de sua história, deixando de lado o papel secundário e quase desprezível hoje assumido. O verdadeiro protagonismo não nasce de uma normativa legal ou de uma campanha publicitária cunhada a peso de ouro. Nasce, sobretudo, da luta arduamente travada no dia-a-dia. A baixa remuneração é tão somente a ponta de um complexo iceberg solidamente construído ao longo de muitos anos. Tal qual vítima do sequestrador, o professor aparenta ter se afeiçoado ao agressor numa espécie de síndrome de Estocolmo. Faz o jogo do inimigo, apesar do discurso por vezes moralista recheado de chavões e palavras-de-ordem. Opta pelo caminho aparentemente mais cômodo, ganhando um pouquinho mais aqui ou acolá, por meio de reposições, triênios, promoções por merecimento, incorporações de funções gratificadas, etecetera e tal. Preocupa-se, como se vê, apenas com a cereja do bolo, sem mexer naquilo que é essencial e estruturante, a saber, sua função social. Vale lembrar que o professor precede o médico, o advogado, o engenheiro e o juiz, por exemplo. Por que então a abissal diferença remuneratória em desfavor do educador? Formação? Absolutamente! Tamanha desvalorização foi sendo construída, também, por meio da ação/omissão dos próprios professores. Como? Ao acomunar-se com os “jeitinhos” comumente aceitos, apesar de reprováveis sob o ponto de vista ético. Ao acomodar-se intelectualmente abrindo mão da permanente e indispensável pesquisa. Ao fechar os olhos às profundas mudanças sociais e tecnológicas. Ao entregar seu destino nas mãos de organizações sindicais eivadas de vícios e interesses espúrios, sem delas efetivamente participar. Ao dobrar-se ante o assédio de pais inescrupulosos que entronizam seus rebentos como se reis fossem. Ao dizer amém às mantenedoras e patrões que, muito comumente, atropelam os limites mínimos garantidores da dignidade profissional do educador. O fato é que os professores foram se acostumando às esmolas e sobras. Não por acaso, a maioria das escolas (principalmente públicas...) vegeta na mais profunda e vergonhosa carência de tudo, contrastando com a suntuosidade dos tribunais, câmaras e assembleias legislativas. Mais do que simbólico, tamanhas aberrações são a prova cabal e inconteste do “espaço” reservado ao ensino neste país. Portanto, professor, levanta-te! Digas não à intromissão indevida de alunos, pais, diretores, secretários, promotores, juízes e legisladores. Digas não à perpetuação das inadmissíveis e gritantes disparidades salariais entre tu e aqueles a quem ensinaste, ainda que reconhecidos doutores. Digas não ao peleguismo sindical que pouco faz por ti. Digas não à opacidade social à qual foste relegado e te deixaste relegar. Professor, rompas as ataduras e mordaças e, assim como Lázaro, levanta-te e sai para fora. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário