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sexta-feira, 20 de março de 2015


O SEGREDO DOS MEUS (TEUS) CABELOS
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Sansão ocupa um lugar especial na memória de muitos. Ainda criança, quem não ouviu fantásticas histórias envolvendo o personagem bíblico? Todas aquelas proezas tendo como pano de fundo sua força descomunal. Lutar contra dez ou contra cem não parecia mais difícil do que lutar contra apenas um. Rendia leões e derrubava palácios como se de isopor fossem. Arrebentava grilhões e subjugava exércitos com a destreza da criança que se diverte em meio aos soldadinhos de chumbo. Qual o segredo de tamanha e inigualável força? Os longos cabelos? Não. A resposta estava na relação que Sansão mantinha com Deus. Era ela que servia de fio condutor para as glórias do guerreiro de Israel. Os cabelos, no fundo, não passavam de um mero detalhe. Obediência, fidelidade, honestidade e disposição para servir é que, de fato, alimentavam os músculos daquele nazireu. Valores, enfim, indispensáveis num relacionamento sadio e próspero. Quantas lições podemos tirar da história de Sansão! Nós, educadores, dizem, precisamos matar um leão por dia. Incontáveis são as feras que povoam a selva em que se transformou não apenas a escola, mas a vida como um todo. Alguns procuram respostas nos “cabelos” compridos e multicoloridos sob a forma de teorias pedagógicas que, por vezes, prometem a solução tão desejada, teorias farmacológica e academicamente prontas que nada fazem além de encherem as algibeiras de alguns pedagogos – que, muito comumente, mal conseguem educar os próprios rebentos –, bem como do mercado editorial. A saída para a crise no ensino passa, primeiro e principalmente, pela relação interpessoal entre educador e educando, relação esta que precisa estar pautada no respeito, na oitiva, no olhar viajante, na humildade, na disposição para o diálogo, na autoridade e alteridade, na coerência entre o discurso e a prática. A sala de aula pode e deve ser um espaço de aprendizagem não apenas das ditas ciências exatas e sociais, mas também um privilegiado palco para o crescimento individual e coletivo. O “conteúdo” é não apenas bem-vindo como necessário, afinal é produto de um conhecimento historicamente acumulado, indispensável na formação integral do sujeito. Abrir mão da pesquisa, da produção textual, do cálculo matemático, da boa grafia soa como irresponsável e criminoso, pois priva gerações inteiras de formarem uma base sólida para o efetivo exercício da cidadania. Contudo, os famigerados “planos de aula” podem e devem estar permeados de afeto, devem ser “sanguíneos”, conquistando e encantando não apenas os neurônios, mas o coração. Há coisa mais gratificante do que ver aquele brilho no olhar do educando? O mesmo olhar que não apenas cruza com o do educador, mas misturam-se, numa espécie de sublime amálgama. Não há indisciplina que resista, nem tampouco há espaço para a indiferença. Borbulham as sinapses, enquanto o coração dilata de tal forma que ali passa a caber, também, a figura do professor. A arte de ensinar passa pela empatia, pela cumplicidade dos sonhos e pela confiança mútua entre os atores envolvidos no dito processo. Ensina-se por meio da palavra, do não dito, do gesto, do toque, do trocadilho, do lúdico, da experiência empírica. Ensinar requer compromisso com o outro, onde se mostra imprescindível uma relação pautada no amor, não o do tipo piegas, mas no amor genuíno, visceralmente comprometido, onde os cabelos sejam não mais do que um mero detalhe.  

Veja também:
http://www.institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=25620f20a23dc5bf9b4c6efa90fe636c

2 comentários:

  1. Gostei muito professor gilvan;sua reflexão tem foco e em poucas palavras,soube endagar a idéia do que é ser professor.Professor é dádiva não se pega no comercio ou em qualquer lugar.Classe esta,judiada profissionalmente,os que lutam em prol do ensino ,são guerreiros e devem ser mais remunrados;emfim,resumindo gostei muito da tua colocação..Um abraço forte profepreto...

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    1. Agradeço o comentário. Desnecessário é dizer o quanto aprendi contigo meu amigo. Abraço.

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