APERTEM OS CINTOS, O DINHEIRO SUMIU
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Nada original, não é mesmo? Apesar do título carecer
de brilhantismo, a ideia por detrás do mesmo é, no mínimo, provocante.
Finalmente, parece termos encontrado o “elo perdido” que distanciava as
trajetórias nacional e regional. Vale lembrar que, enquanto o país reelegia o
mesmo “projeto” dos últimos doze anos, o Rio Grande do Sul, por sua vez,
mandava para as cucuias o alinhamento das estrelas, fazendo brotar das urnas
sabe-se lá o quê. Contudo, o raiar do novo ano e dos novos mandatos trouxe algo
em comum entre nós (os “farrapos”) e eles (o “resto” do país): estamos todos,
do Oiapoque ao Chuí, atolados na merda! Não sou eu quem digo, mas sim os novos –
e os antigos – mandatários que, aberta e categoricamente, deixam transparecer
um misto de resignação e desespero quanto às finanças públicas. A mensagem não
deixa dúvidas: apertem os cintos, o dinheiro sumiu. Não há recursos, tanto em
nível federal quanto estadual, para dar conta das necessidades mínimas ligadas
à saúde, educação e segurança, por exemplo. A economia vai de mal a pior, o
espectro da inflação voltou a rondar e o mau uso do dinheiro público segue
ocupando – há muito – as primeiras páginas dos jornais. Um verdadeiro caos,
onde o que se vislumbra ali adiante em nada deixa a desejar às previsões apocalípticas
de Nostradamus. Menos mal que, assim como as baratas, nós professores estamos
acostumados e adaptados às hecatombes que marcam a vergonhosa história deste
país. Todos esses anos de barriga vazia, pindaíba financeira e diuturna luta
para sobreviver, em meio à falta de prestígio e abundância de promessas jamais
cumpridas, criaram em nós como que uma espécie de resistência, “anticorpos” a
protegerem o que de nós sobrou, ainda que pouco. Carestia, por exemplo, apesar
de ser um verbete para lá de ultrapassado no vocabulário das elites, é uma das
primeiras palavras balbuciadas pelos “filhos do magistério”. Inadimplência,
insolvência, penúria, reumatismo, tendinite, depressão... A quantidade de
sílabas em nada se compara à complexidade kafkiana da sobrevivência docente. Acostumamo-nos
ao perigo de uma viajem sem piloto, onde a promessa era de alçarmos voo em meio
às nuvens de glória. Hoje, mais nos parecemos com o personagem de Cervantes,
envolto numa armadura velha, pesada e anacrônica, ocupado em fustigar dragões
imaginários. A crise avassaladora que aí está, atinge a todos, mas
especialmente aos menos favorecidos, os mesmos que, como moscas, vegetam no
estrume em que se transformaram os serviços públicos. Atinge, ainda, a famigerada
classe média, acostumada ao consumo de penduricalhos que, aparentemente (e só
aparentemente...), a aproximam dos mais afortunados. É, pelo jeito, inexiste
outro caminho que não o da parcimônia e austeridade. Foi-se o tempo das vacas
gordas. Sorte delas, das baratas, acostumadas às vicissitudes da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário