Translate

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

APERTEM OS CINTOS, O DINHEIRO SUMIU


APERTEM OS CINTOS, O DINHEIRO SUMIU
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br




                Nada original, não é mesmo? Apesar do título carecer de brilhantismo, a ideia por detrás do mesmo é, no mínimo, provocante. Finalmente, parece termos encontrado o “elo perdido” que distanciava as trajetórias nacional e regional. Vale lembrar que, enquanto o país reelegia o mesmo “projeto” dos últimos doze anos, o Rio Grande do Sul, por sua vez, mandava para as cucuias o alinhamento das estrelas, fazendo brotar das urnas sabe-se lá o quê. Contudo, o raiar do novo ano e dos novos mandatos trouxe algo em comum entre nós (os “farrapos”) e eles (o “resto” do país): estamos todos, do Oiapoque ao Chuí, atolados na merda! Não sou eu quem digo, mas sim os novos – e os antigos – mandatários que, aberta e categoricamente, deixam transparecer um misto de resignação e desespero quanto às finanças públicas. A mensagem não deixa dúvidas: apertem os cintos, o dinheiro sumiu. Não há recursos, tanto em nível federal quanto estadual, para dar conta das necessidades mínimas ligadas à saúde, educação e segurança, por exemplo. A economia vai de mal a pior, o espectro da inflação voltou a rondar e o mau uso do dinheiro público segue ocupando – há muito – as primeiras páginas dos jornais. Um verdadeiro caos, onde o que se vislumbra ali adiante em nada deixa a desejar às previsões apocalípticas de Nostradamus. Menos mal que, assim como as baratas, nós professores estamos acostumados e adaptados às hecatombes que marcam a vergonhosa história deste país. Todos esses anos de barriga vazia, pindaíba financeira e diuturna luta para sobreviver, em meio à falta de prestígio e abundância de promessas jamais cumpridas, criaram em nós como que uma espécie de resistência, “anticorpos” a protegerem o que de nós sobrou, ainda que pouco. Carestia, por exemplo, apesar de ser um verbete para lá de ultrapassado no vocabulário das elites, é uma das primeiras palavras balbuciadas pelos “filhos do magistério”. Inadimplência, insolvência, penúria, reumatismo, tendinite, depressão... A quantidade de sílabas em nada se compara à complexidade kafkiana da sobrevivência docente. Acostumamo-nos ao perigo de uma viajem sem piloto, onde a promessa era de alçarmos voo em meio às nuvens de glória. Hoje, mais nos parecemos com o personagem de Cervantes, envolto numa armadura velha, pesada e anacrônica, ocupado em fustigar dragões imaginários. A crise avassaladora que aí está, atinge a todos, mas especialmente aos menos favorecidos, os mesmos que, como moscas, vegetam no estrume em que se transformaram os serviços públicos. Atinge, ainda, a famigerada classe média, acostumada ao consumo de penduricalhos que, aparentemente (e só aparentemente...), a aproximam dos mais afortunados. É, pelo jeito, inexiste outro caminho que não o da parcimônia e austeridade. Foi-se o tempo das vacas gordas. Sorte delas, das baratas, acostumadas às vicissitudes da vida.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário