LEI JOÃO DÁ PENA
Gilvan Teixeira
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Nasci numa época em que homem só casava com mulher e
esta com homem. Numa época em que os pais se portavam como tal. Eram tempos em
que cabia ao marido tomar as rédeas da casa, restando à esposa zelar para que
as regras e vontades do senhorio fossem seguidas à risca. Hoje, dispensável é
dizer, o mundo (ocidental!) mudou. Não sei se para melhor, mas que já não é
o mesmo da minha época de criança, isso não é. Saímos de uma realidade
fortemente machista e patriarcal para uma meleca a que alguns chamam de
democracia. Inflacionou-se a legislação dita protetiva sem que isso tenha
redundado, em absoluto, na melhoria das relações humanas. Nunca houve tanto
desrespeito ao outro. Feito cachorro perdido correndo atrás do próprio rabo,
vamos criando textos legais estéreis que pouco ou nada contribuem para
qualificar e fortalecer a dita teia social. Mesmo as novas tecnologias e
penduricalhos produzidos em larga escala pelo Capitalismo doentio se mostram
incapazes de disfarçar o mau cheiro desta realidade decrépita que desova na
sarjeta um incontável número de viciados e depressivos. Uma realidade onde boa
parte da juventude não vislumbra ali na frente mais do que um baseado, um par
de tênis da Nike ou um smartphone. As selfies, feito lago de Narciso, soam, muitas vezes, como eufemismo
para um hedonismo mal disfarçado. A inversão (perversão) de valores é tamanha
que, ao sair do oito para o oitenta, acaba por produzir algumas situações,
também, hilárias. Qual o marido, por exemplo, que já não se defrontou com a tão
temida “lista” pendurada, estrategicamente, na geladeira? Sim, aquela enorme e maldita
“lista” escrita à mão de ferro pela impaciente companheira que, diuturnamente,
faz questão de inquirir se a grama já foi cortada, a janela consertada ou o pinga-pinga
da torneira estancado. Mais severa do que a cobrança divina em relação aos
mandamentos trazidos do cume do Sinai, a esposa faz da dita “lista” a Lei do
Talião. A mulher escreveu e o marido não leu, o pau comeu... Nessas horas, onde
estão os Direitos Humanos? Mais fácil achar guarida na legislação que protege a
bicharada do que numa eventual defesa em prol do marido desassistido. Daí, quem
sabe, o esposo aguardar, quase desesperado, o fim das férias e o retorno ao
trabalho, uma saída protelatória, mas interessante, para escapar da cobrança
doméstica. Apelar para quem? Verdadeiro mato sem cachorro, beco sem saída. Propugnar,
talvez, por uma espécie de “Lei João Dá Pena”, em contraposição à Lei que
protege a mulher frente à violência doméstica e familiar. Quem sabe um diploma
legal que traga, dentre outros artigos, incisos, alíneas e parágrafos, uma
expressa vedação às “listas” produzidas por mulheres sem coração que escravizam
e atormentam os pobres maridos. Estes merecem respeito, um lugar ao sol, de
preferência acompanhados de um bom prato de petiscos regado à cerveja bem
gelada. Abaixo as “listas” e bom verão a todos os meus amigos!