DEPOIS DOS QUARENTA
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Mais uma primavera. Passada a barreira dos quarenta,
a gente meio que se perde na idade. Acho que são quarenta e cinco. Sou de
sessenta e oito. Tirem suas próprias conclusões. Sabem como é, a idade avança
de maneira inversamente proporcional à capacidade da memória em gravar datas,
nomes, trajetos... Há exceções, claro. Não sou uma delas. Dizem que me encontro
na “idade do lobo”. Tolice. Dele, não tenho a astúcia, a destreza, a capacidade
de caça... Por que então a analogia? Talvez, na melhor das hipóteses, possa me
equiparar a um lobo solitário, faminto, capenga e sem dentes. Para piorar, com
o paladar e olfato comprometidos pela idade. Um lobo a causar mais dó do que
medo. Mais asco do que admiração. Lobo, só de nome. É assim, neste estado, que
cheguei aos quarenta e cinco (?). Mais para lá do que para cá. A luz a
chamar-me no final do túnel, só não a vejo por conta da miopia. Para meu consolo,
inúmeras têm sido as manifestações de carinho pela passagem de meu aniversário.
Parentes, amigos, colegas, ex-alunos... Preferível hoje que depois. Amanhã,
quem sabe, serei pouco mais do que uma lembrança, ainda que boa, entre tantas
outras. Somos, no fundo, “substituíveis”, pois efêmeros e transitórios. Daí ser
vã toda arrogância e prepotência. Corre-se o risco de garantirmos sequer a boa
lembrança a nosso respeito. Nossa casa é um bom termômetro, talvez o melhor.
Como minha esposa e meus filhos de mim lembrarão ali adiante, depois de passar
o fosso que nos separa do além? Espero ter semeado e seguir semeando – até quando?
– coisas boas. Por vezes, não tenho dúvidas, vacilo enquanto pai e companheiro.
Equivoco-me, ainda, enquanto professor, amigo, colega de trabalho. Ainda assim,
ao que parece, toleram-me. Tamanha paciência e condescendência frente às minhas
fraquezas, só faz crescer minha admiração pelo ser humano. Como cobrar deste
mais do que eu mesmo sou capaz de dar? Como
projetar nele o que jamais fui, sem deixar de ser coerente ou verdadeiro? Por
isso, ao chegar aos quarenta e tantos anos, pouco tenho a reclamar. Devo, isto
sim, é agradecer pelas imensuráveis dádivas recebidas, a começar pelos meus
pais, irmãos, esposa, filhos, amigos, ex-alunos, colegas... Miríades e miríades
de crianças, jovens, homens e mulheres de todas as etnias, crenças e idades
que, ao passarem pela minha vida, mesmo que de maneira rápida e aparentemente
discreta, deixaram marcas. Sou, em parte, reflexo de cada um e de cada uma.
Verdadeiro amálgama, inegável dialética forjadora deste lobo capenga e sem
dentes, porém feliz! Muito obrigado pelas mensagens de carinho pela passagem do
meu aniversário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário