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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

DEPOIS DOS QUARENTA


DEPOIS DOS QUARENTA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                Mais uma primavera. Passada a barreira dos quarenta, a gente meio que se perde na idade. Acho que são quarenta e cinco. Sou de sessenta e oito. Tirem suas próprias conclusões. Sabem como é, a idade avança de maneira inversamente proporcional à capacidade da memória em gravar datas, nomes, trajetos... Há exceções, claro. Não sou uma delas. Dizem que me encontro na “idade do lobo”. Tolice. Dele, não tenho a astúcia, a destreza, a capacidade de caça... Por que então a analogia? Talvez, na melhor das hipóteses, possa me equiparar a um lobo solitário, faminto, capenga e sem dentes. Para piorar, com o paladar e olfato comprometidos pela idade. Um lobo a causar mais dó do que medo. Mais asco do que admiração. Lobo, só de nome. É assim, neste estado, que cheguei aos quarenta e cinco (?). Mais para lá do que para cá. A luz a chamar-me no final do túnel, só não a vejo por conta da miopia. Para meu consolo, inúmeras têm sido as manifestações de carinho pela passagem de meu aniversário. Parentes, amigos, colegas, ex-alunos... Preferível hoje que depois. Amanhã, quem sabe, serei pouco mais do que uma lembrança, ainda que boa, entre tantas outras. Somos, no fundo, “substituíveis”, pois efêmeros e transitórios. Daí ser vã toda arrogância e prepotência. Corre-se o risco de garantirmos sequer a boa lembrança a nosso respeito. Nossa casa é um bom termômetro, talvez o melhor. Como minha esposa e meus filhos de mim lembrarão ali adiante, depois de passar o fosso que nos separa do além? Espero ter semeado e seguir semeando – até quando? – coisas boas. Por vezes, não tenho dúvidas, vacilo enquanto pai e companheiro. Equivoco-me, ainda, enquanto professor, amigo, colega de trabalho. Ainda assim, ao que parece, toleram-me. Tamanha paciência e condescendência frente às minhas fraquezas, só faz crescer minha admiração pelo ser humano. Como cobrar deste mais do que eu mesmo sou capaz de dar?  Como projetar nele o que jamais fui, sem deixar de ser coerente ou verdadeiro? Por isso, ao chegar aos quarenta e tantos anos, pouco tenho a reclamar. Devo, isto sim, é agradecer pelas imensuráveis dádivas recebidas, a começar pelos meus pais, irmãos, esposa, filhos, amigos, ex-alunos, colegas... Miríades e miríades de crianças, jovens, homens e mulheres de todas as etnias, crenças e idades que, ao passarem pela minha vida, mesmo que de maneira rápida e aparentemente discreta, deixaram marcas. Sou, em parte, reflexo de cada um e de cada uma. Verdadeiro amálgama, inegável dialética forjadora deste lobo capenga e sem dentes, porém feliz! Muito obrigado pelas mensagens de carinho pela passagem do meu aniversário. 

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