A BALA
Gilvan Teixeira
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blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
O Natal se aproxima. Mais um. Existem motivos para
comemorar? Para muitos sim, por vezes embasbacados pelas lantejoulas do
mercado. Contudo, para um significativo número de famílias, a data só faz
aumentar a dor, a tristeza, a saudade, a decepção e a profunda sensação de
impunidade. Quisera existissem balas “perdidas”. Para quem? Não para o pai,
para a mãe, para o filho ou para o irmão... Bala certeira isto sim, capaz de
ceifar a vida e a esperança. Poderoso e funesto calibre a rasgar a alma dos
entes que ficam. Dor incurável, indescritível, irrecuperável. Sofrimento que a
incapacidade, omissão e letargia do Estado só faz aumentar. Ironicamente, a
data traz consigo o indulto natalino. Perdão para quem? A quem caberia mesmo “perdoar”?
Indulto que revolta e faz sangrar a ferida de quem é vítima. O mesmo Estado que
contribui – com sua fragilidade institucional e permissividade jurídica – para
a violência, é o Estado que “perdoa”. Baseado em quê? Alega critérios que, é
sabido, são desencontrados e nada convincentes. Bandidos e criminosos de toda
sorte, de roldão, ganham as ruas. Voltam, quase sempre, a delinquir. Ao Estado,
resta o escárnio e a merecida imagem de fraco. O gigantismo e a obesidade –
alimentados pela extorsão tributária institucionalizada sobre o contribuinte –
não se travestem em força. Ao contrário. Feito espantalho, o ente público se
põe imóvel, ao sabor do vento. Não por acaso, feito corvos, magistrados
enfiados em suas vestes escuras, não apenas comem o milho, como o estocam em
quantidade, enquanto os pobres mortais, hipnotizados pela ideia de um Eldorado
inexistente, se contorcem famintos em meio ao estrume da saúde, (in)segurança e
ensino precárias. Aos corvos, juntam-se os abutres – classe política acostumada
à carniça resultante das partilhas e jogos de interesse –, e outras aves de
rapina. Espreitam o ambiente, quase sempre favorável, à espera do melhor
momento para encherem as cuecas, as meias e algibeiras. Ao que parece, a bala
que mata o inocente não os assusta. Vivem noutro mundo, o dos carros blindados
e jatos particulares. Têm o corpo são, apesar de toda nojeira que representam. Desconhecem
filas. Quanto às fichas, só conhecem as da jogatina nos paraísos fiscais, pagas
com dinheiro público. A bala, ao que parece, é seletiva. Mata trabalhadores,
pobres, desabrigados, velhos, jovens, mulheres... Pudesse, democratizaria a
bala. Estenderia seu poder de fogo, também, aos bem “apessoados”, togados e
engravatados. Já que se auto intitulam “do povo”, nada mais coerente que
sofrerem das mesmas chagas. Talvez, aí sim, o país mude. Quem sabe, então,
tenhamos um bom motivo para comemorarmos o Natal.
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