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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A BALA


A BALA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                O Natal se aproxima. Mais um. Existem motivos para comemorar? Para muitos sim, por vezes embasbacados pelas lantejoulas do mercado. Contudo, para um significativo número de famílias, a data só faz aumentar a dor, a tristeza, a saudade, a decepção e a profunda sensação de impunidade. Quisera existissem balas “perdidas”. Para quem? Não para o pai, para a mãe, para o filho ou para o irmão... Bala certeira isto sim, capaz de ceifar a vida e a esperança. Poderoso e funesto calibre a rasgar a alma dos entes que ficam. Dor incurável, indescritível, irrecuperável. Sofrimento que a incapacidade, omissão e letargia do Estado só faz aumentar. Ironicamente, a data traz consigo o indulto natalino. Perdão para quem? A quem caberia mesmo “perdoar”? Indulto que revolta e faz sangrar a ferida de quem é vítima. O mesmo Estado que contribui – com sua fragilidade institucional e permissividade jurídica – para a violência, é o Estado que “perdoa”. Baseado em quê? Alega critérios que, é sabido, são desencontrados e nada convincentes. Bandidos e criminosos de toda sorte, de roldão, ganham as ruas. Voltam, quase sempre, a delinquir. Ao Estado, resta o escárnio e a merecida imagem de fraco. O gigantismo e a obesidade – alimentados pela extorsão tributária institucionalizada sobre o contribuinte – não se travestem em força. Ao contrário. Feito espantalho, o ente público se põe imóvel, ao sabor do vento. Não por acaso, feito corvos, magistrados enfiados em suas vestes escuras, não apenas comem o milho, como o estocam em quantidade, enquanto os pobres mortais, hipnotizados pela ideia de um Eldorado inexistente, se contorcem famintos em meio ao estrume da saúde, (in)segurança e ensino precárias. Aos corvos, juntam-se os abutres – classe política acostumada à carniça resultante das partilhas e jogos de interesse –, e outras aves de rapina. Espreitam o ambiente, quase sempre favorável, à espera do melhor momento para encherem as cuecas, as meias e algibeiras. Ao que parece, a bala que mata o inocente não os assusta. Vivem noutro mundo, o dos carros blindados e jatos particulares. Têm o corpo são, apesar de toda nojeira que representam. Desconhecem filas. Quanto às fichas, só conhecem as da jogatina nos paraísos fiscais, pagas com dinheiro público. A bala, ao que parece, é seletiva. Mata trabalhadores, pobres, desabrigados, velhos, jovens, mulheres... Pudesse, democratizaria a bala. Estenderia seu poder de fogo, também, aos bem “apessoados”, togados e engravatados. Já que se auto intitulam “do povo”, nada mais coerente que sofrerem das mesmas chagas. Talvez, aí sim, o país mude. Quem sabe, então, tenhamos um bom motivo para comemorarmos o Natal.


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