CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA
Prof. Gilvan
Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Não, o título não é novo, como não o é o fato. Quantos
já foram os cursos de Educação de Jovens e Adultos - EJA, em Cachoeirinha, que
tiveram suas atividades encerradas nos últimos anos? Três? Quatro? Poderia ser
pior. Não se trata da Lei de Murphy,
mas sim resultado elementar de algumas falhas de diversos “atores” envolvidos,
direta ou indiretamente, com o problema. Ano após ano, tem sido dado o sinal de
alerta para o pequeno número de alunos atendidos pelas escolas públicas
municipais que ofertam a EJA. Uma demanda irrisória se comparada ao elevado custo
que o atendimento representa para o erário público. Muito investimento para um
resultado pífio. Salas vazias, servidores se pechando pelos corredores, consumo
de energia, água, manutenção da limpeza e tantos outros “contras” para tão
poucos “prós”. O que deveria ser “investimento”, há muito vem sendo só “gasto”
sem que se vislumbre – nem de perto – os frutos pretendidos. Gestores e professores mal preparados, alunos
desmotivados. Evasão assustadora, repetência avassaladora. Tristes rimas que só
fazem crescer a desesperança na escola, robustecendo o vergonhoso e melancólico
cenário da educação, principalmente pública, por estas terras. Sobra
indisciplina, baixo rendimento, parca aprendizagem, doenças laborais. Falta
planejamento, organização, pesquisa, trabalho em equipe, gestão democrática. A
EJA tem sido prova cabal e inconteste de que a qualidade de ensino não passa,
necessariamente (somente!), pelo número de alunos por turma ou por educador.
Apesar do Saara existente, viceja a já conhecida dificuldade de fazer com que o
aluno aprenda. A mesma falta de vínculo tão característica no dito ensino “regular”
prospera na EJA. Há escassez não apenas de público, mas de afeto, de
compromisso e de cumplicidade com o sentimento alheio. O triste vazio das
escolas de EJA dá lugar às moscas e à frieza nas relações. Por vezes, criam-se
guetos e “corporações de ofício” hermeticamente fechadas, incapazes de
receberem não apenas o “outro”, mas também o “ar” necessário para a própria
sobrevivência do grupo. Este morre não por inanição, mas pela falta de “emoção”.
Culpa de quem? Poder Público, servidores,
escola, família, aluno? Ora, não se trata de buscar “culpados” pelo fracasso da
EJA em Cachoeirinha, mas sim de atribuir “responsabilidades”. Trata-se de uma
responsabilidade, por assim dizer, “solidária”, onde todos perdem e ninguém
ganha. Ao Poder Público cabe, por exemplo, ter bem claras suas diretrizes para
a EJA, qualificar sua Assessoria Pedagógica, valorizar os servidores através de
um Plano de Carreira atraente e de salários condizentes à importância do
exercício do magistério. À Equipe Diretiva cabe, entre outros, fazer da gestão
democrática uma prática cotidiana e permanente, pautando sua ação no
profissionalismo e jamais no clientelismo e na “troca de favores”. Aos professores,
por sua vez, cabe um “fazer pedagógico” voltado à acolhida, à valorização e
respeito às chamadas múltiplas inteligências, desafios estes que pressupõem
muito estudo, planejamento e trabalho coletivo. As funestas práticas
corporativistas devem ceder lugar à ética, ao respeito, à necessária e
permanente qualificação do grupo. Às famílias cabe participarem ativa e
positivamente das decisões da escola, acompanhando rotineiramente o processo
ensino-aprendizagem, pois que dele fazem parte. Assim, inexistem respostas “dadas”
para os problemas enfrentados pela EJA em Cachoeirinha. As saídas (e elas
existem!) devem ser “construídas” por cada um e por todos.
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