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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

TERRA NOVA



TERRA NOVA
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                A que ponto chegamos! Ainda ontem, usei parte de meu tempo para assistir, no “plim-plim”, a abertura do Terra Nova. Como todo início de série, fiquei um tanto que confuso, tentando entender a trama do filme. A série criada por Kelly Marcel e Craig Silverstein, ao menos em seu primeiro episódio, não chega a impressionar. Não fossem aqueles animais gigantes – produtos da tecnologia hollywoodiana –, inseridos num cenário Cretáceo, o filme passaria completamente despercebido. O que, talvez, tenha realmente chamado minha atenção foi, digamos..., a mensagem trazida na tela. Um planeta já deteriorado, de um lado, quedado pelas mazelas humanas. Por outro lado, um novo lugar, uma Terra Nova, representando a possibilidade do recomeço. Aparentemente salutar a intenção, não fosse um detalhe. O homem que habita os dois “mundos” (o de 2149 e o pré-histórico) é o mesmo! Apenas transpôs o “portal”. Percebe-se, portanto, como que um “ato-falho” intrínseco ao filme, típico do modus operandi ou american way of life, qual seja, a “cultura do descarte”. Descarta-se o antigo (o lapso temporal para definir o “velho” é cada vez menor) em prol do novo. Mexe-se na aparência, sem que se toque na essência. Olha-se para “fora”, para o “exterior”, em detrimento de um olhar introspectivo. É, como de costume, uma “solução” comprada, não construída. Incólume fica a reflexão ética acerca do indivíduo e das relações que este traça quanto a si e quanto ao “outro”. Trata-se de uma saída indolor. Onerosa (nada que um punhado, ou mesmo uma montanha, de dólares não possa pagar...), mas sem dor. É a solução sonhada pelos que têm crise de nervos só em pensar em temas como sustentabilidade, desarmamento, distribuição de renda, reformas agrária e urbana, igualdade, oxigenação do poder, entre outros.  O Terra Nova vem ao encontro do imaginário capitalista, consumista e egocêntrico. É um olhar incapaz de transpor os limites do próprio umbigo. Denota preguiça mental e indiferença social. É uma retomada de Alice no País das Maravilhas ou, mais contemporaneamente, de uma das tantas histórias da Barbie. Um mundo de sonhos, quase sempre muito caros, anos-luz de distância do poder de compra da esmagadora (e esmagada!) maioria dos mortais. Sonhos sem utopia. Sonhos vazios. Sonhos que são sonhados sozinhos. Uma Terra Nova, salvo no plano etéreo e espiritual, ou é produto cinematográfico ou, então, resultado de uma digestão mal feita. Há de se pensar, isto sim, é no sujeito que habita estes páreos. Urge, eu e você, refletirmos nossas ações (cada uma delas), nossas relações, nossas opções... Alimentar a ideia de uma Terra Nova é acreditar ser possível remendar roupa, já espuída e deteriorada, com pedaços de tecido novo. Vã tentativa.  


Um comentário:

  1. Pois é... talvez por isto a série não tenha sobrevivido, nem nos Estados Unidos. Mesmo com um pistolão como Spielberg na produção, a novelinha não vai seguir a diante, sendo encerrada nesta temporada.

    Andei lendo algumas coisas sobre a série, porque não acreditava que pudesse ser algo tão superficial (com exceção dos efeitos especiais muito legais, como de praxe). Havia para as "temporadas futuras" a ideia de trazer debate político, como o interesse de grandes corporações em escolher a dedo as pessoas que voltariam no tempo, blá, blá, blá... mas não houve tempo. A audiência matou os dinossauros e os viajantes do tempo.

    No mais, abraço grande, meu amigo.

    Leandro

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