O MAR E A PISCINA
Gilvan
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Estive na praia de Ingleses, em Florianópolis, há
alguns dias. Fiquei – juntamente com minha família e alguns amigos – oito dias.
Tempo suficiente para perceber a diferença entre dois mundos: o do mar e o da
piscina. Enquanto o primeiro como que socializa os abismos sociais e
econômicos, o último os escancara. À beira do mar, pouco ou nada se sabe acerca
da origem – salvo alguns claros sinais da presença castelhana na orla –,
profissão, classe social, renda, preferência sexual, conta bancária, etc., dos
que se escondem sob os guarda-sóis ou sob os chapéus de largas abas. O vai e
vem das ondas é feito o movimento do apagador do mestre. Quando muito restam
alguns pequenos e quase sempre indecifráveis vestígios do que antes existia. O
mar mostra toda sua imensa sabedoria ao aproximar homens e mulheres, pequenos e
grandes, ricos e pobres, negros e brancos, crentes e agnósticos, letrados e
analfabetos, nativos e estrangeiros... A piscina, ao contrário, privatiza o
lazer, tornando-o por um lado asceta, por outro, sem graça. Aproxima apenas
alguns poucos, os da própria tribo, porém recrudesce o fosso entre uma minoria
e o “resto”, a maioria. O mar tem cheiro de povo. A piscina, de cloro. O sal do
mar é terapêutico, cicatrizante, na quantidade exata da necessidade de cada um.
A piscina tem, quando muito, ao seu redor, o sal que tempera a carne do
churrasco e aumenta a pressão arterial. Sem ciúme ou disputa de beleza, o mar
convive com a presença das montanhas, do verde, das dunas, dos braços de
rios... Jurerê, Costão do Santinho, Armação, Praia Brava, Daniela, Joaquina...
Tantos nomes para uma só maravilha! Sem qualquer espécie de maquilagem. Sem os
penduricalhos nascidos de laboratórios e indústrias de cosméticos. Simples,
natural e belo. Assim é o mar. Este, apesar de sua imensidão, acolhe a todos e
a cada um. Nada pede em troca. Nem tostão, nem troca de favores, nem mesmo um
elogio. Sua grandeza é tamanha que ao nele adentrar, os corpos se desnudam,
como que a reverenciá-lo. O mar a todos nivela. Aos mais desavisados e
descuidados, por vezes, traga. A piscina carece de vida. É estéril. O mar, ao
contrário, confunde-se com a própria gênese de todos os seres. Perfeita
simbiose. Daí seu encanto. Daniela e suas águas tranquilas ou a Praia Brava com
todas aquelas ondas a chicotearem, com força, as rochas. Inúmeras e belas faces
de uma mesma moeda. A piscina, apesar de toda languidez, peca pela falta de
desafio. O mar, ao contrário – talvez embalado pelo canto de suas sereias –, é
instigante. Mexe com os brios do exímio nadador e atrai o olhar dos que ainda
se apaixonam. Saudade do mar e dos amigos...
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