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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013



O MAR E A PISCINA
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Estive na praia de Ingleses, em Florianópolis, há alguns dias. Fiquei – juntamente com minha família e alguns amigos – oito dias. Tempo suficiente para perceber a diferença entre dois mundos: o do mar e o da piscina. Enquanto o primeiro como que socializa os abismos sociais e econômicos, o último os escancara. À beira do mar, pouco ou nada se sabe acerca da origem – salvo alguns claros sinais da presença castelhana na orla –, profissão, classe social, renda, preferência sexual, conta bancária, etc., dos que se escondem sob os guarda-sóis ou sob os chapéus de largas abas. O vai e vem das ondas é feito o movimento do apagador do mestre. Quando muito restam alguns pequenos e quase sempre indecifráveis vestígios do que antes existia. O mar mostra toda sua imensa sabedoria ao aproximar homens e mulheres, pequenos e grandes, ricos e pobres, negros e brancos, crentes e agnósticos, letrados e analfabetos, nativos e estrangeiros... A piscina, ao contrário, privatiza o lazer, tornando-o por um lado asceta, por outro, sem graça. Aproxima apenas alguns poucos, os da própria tribo, porém recrudesce o fosso entre uma minoria e o “resto”, a maioria. O mar tem cheiro de povo. A piscina, de cloro. O sal do mar é terapêutico, cicatrizante, na quantidade exata da necessidade de cada um. A piscina tem, quando muito, ao seu redor, o sal que tempera a carne do churrasco e aumenta a pressão arterial. Sem ciúme ou disputa de beleza, o mar convive com a presença das montanhas, do verde, das dunas, dos braços de rios... Jurerê, Costão do Santinho, Armação, Praia Brava, Daniela, Joaquina... Tantos nomes para uma só maravilha! Sem qualquer espécie de maquilagem. Sem os penduricalhos nascidos de laboratórios e indústrias de cosméticos. Simples, natural e belo. Assim é o mar. Este, apesar de sua imensidão, acolhe a todos e a cada um. Nada pede em troca. Nem tostão, nem troca de favores, nem mesmo um elogio. Sua grandeza é tamanha que ao nele adentrar, os corpos se desnudam, como que a reverenciá-lo. O mar a todos nivela. Aos mais desavisados e descuidados, por vezes, traga. A piscina carece de vida. É estéril. O mar, ao contrário, confunde-se com a própria gênese de todos os seres. Perfeita simbiose. Daí seu encanto. Daniela e suas águas tranquilas ou a Praia Brava com todas aquelas ondas a chicotearem, com força, as rochas. Inúmeras e belas faces de uma mesma moeda. A piscina, apesar de toda languidez, peca pela falta de desafio. O mar, ao contrário – talvez embalado pelo canto de suas sereias –, é instigante. Mexe com os brios do exímio nadador e atrai o olhar dos que ainda se apaixonam. Saudade do mar e dos amigos... 

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