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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O FIM DO MUNDO



O FIM DO MUNDO
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br


                Passado o prazo para o fim do mundo, em vinte e um de dezembro de dois mil e doze, sobra um misto de sentimento de alívio e de decepção. Alívio porque, mesmo para os mais céticos, sempre há margem para dúvida: vai que a profecia de um punhado de malucos visionários se confirmasse. Decepção porque não era incomum perceber um ar de vingança no ar: é a hora da natureza dar o troco, hora de pôr fim à corrupção, à fome, à mesquinhez humana, etecetera e tal... O fato é que o mundo não acabou. Ao menos para os que estão aqui, vivos, lendo esta porcaria de texto. Talvez sequer para os “do além” o mundo tenha acabado. Sabe-se lá o que se passa do outro lado do... “muro”, “portal” ou coisa parecida. Talvez, ainda, estejamos todos mortos e não saibamos... Eu, você, o Sarney... Este não! É imortal. Como negar que o legítimo dono daquele inconfundível bigode esteja vivo? Dizem que coisa ruim não morre. Ora, se o eterno político maranhense (ou será amapaense, conforme lhe convém?), segue a lambuzar o risível bigode, mamando nas tetas da República, é porque está vivo, não é mesmo? Ele e nós (eu e tu meu amigo ou minha amiga...). Uma questão de silogismo, como já ensinavam os gregos. Definitivamente, o mundo não acabou. Seguem os dias, a rotina de levantar cedo para trabalhar ou procurar trabalho (exceto os “amigos do alheio”, gigolôs, vagabundos, senadores, deputados, vereadores...), as contas (intermináveis...) para pagar, a violência e carnificina das ruas, o caos no trânsito, as quilométricas filas nos bancos, a falta de leitos nos hospitais, o saldo negativo na conta corrente. O nome não poderia ser mais apropriado. Feito corrente com uma esfera de ferro numa extremidade, presa ao tornozelo do pobre coitado na outra, é uma conta que mais faz lembrar Prometeu sendo diária e friamente torturado pelo corvo em meio à rocha. Tormento sem fim. O “limite” cedido pelo banco, feito vinagre oferecido na cruz, é triste engodo. O mundo não terminou. Assim como a “Mega da Virada”, um grande golpe publicitário. A mídia precisa disso. Necessita alimentar sonhos. Não fosse isso, a fúria dos homens – centenas, milhares, milhões deles – seria canalizada de outra forma. Um risco à (pseudo)democracia, à ordem “natural” das coisas e à (in)segurança jurídica. A velha “política do pão e circo” precisa ser mantida, mesmo que aparentemente reinventada. Ontem gladiadores sob o olhar de César e outros imperadores, hoje as caricaturas sob o olhar do Faustão, do Bial e da Regina Casé. Muita coisa em comum, em especial nós: os bobos! O mundo não acabou. Erro do calendário maia? Absolutamente! O erro é nosso. Não soubemos interpretá-lo. Pudera! Como fazer a “leitura” de algo tão distante e complexo se somos incapazes de resolver continhas de adição e subtração? O orgulho “canarinho” e verde-amarelo só é menor do que nossa estupidez. O olhar prepotente de quem se vangloria do tamanho da bunda das mulatas e da imponência dos carros alegóricos arrefece a criticidade e afugenta qualquer iniciativa de verdadeira, profunda e duradoura mudança. O fim do mundo não chegou. Poder haver fim sem começo? Somos um país sem início. Um país que, na tentativa de ser tudo, acaba por ser quase nada. Um país do “futuro”, jamais do presente. Futuro incerto e impreciso. Muito provavelmente, um futuro tomado de infortúnio. Apesar de singelo, um trocadilho carregado de atávica maldição. Não lusitana, como tentam alguns fazerem acreditar, mas uma sina construída no quotidiano, nas relações, nas opções, nas decisões... Uma maldição transferida de pai para filho. Fazemos, ao que parece, questão de comermos uva verde. Embotam os dentes e o cérebro. Esvai-se o senso crítico. Resta uma só impressão: é o fim do mundo!

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