FAZENDO O KIKO
LEVANTAR
Gilvan
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profgilvanteixeira.blogspot.com
Apesar de
aparentemente pornográfico, o título nada tem de imoral. Ao contrário. Serve,
quem sabe, de incentivo às boas ações e ao exercício de cidadania. Não faz
muito, um fato interessante – apesar de corriqueiro – suscitou minha atenção.
Uma aluna da EJA (antigo Supletivo), de uma escola encravada na periferia,
chamara atenção de um colega, mais novo, por este ter jogado papel ao chão. Irresignada
com a ação, a aluna exigiu que o colega não apenas juntasse, mas que levasse o
lixo até o local adequado para depositá-lo. Quantas lições se pode tirar de
fato tão pitoresco: a primeira delas, é de que a origem social não é
justificativa capaz de condenar ou absolver alguém de seus erros e acertos.
Nascer, crescer, trabalhar, estudar, morar, enfim, viver na periferia não
pressupõe aversão aos princípios universais de convivência. Nem tampouco
significa abrir mão da higiene, do respeito ao meio e às pessoas que nele
convivem. Escassez de recursos e falta de bom senso não precisam,
necessariamente, estar casadas. A segunda lição é a de que a cidadania se dá a
partir de pequenos gestos. Prescinde dos holofotes da mídia ou de matérias
jornalísticas. Fazer o bem e agir corretamente deveria ser a regra, jamais a
exceção. A honestidade, o respeito, a solidariedade e a ética deveriam ser tão
natural e “automático” quanto piscar ou respirar. Uma outra lição, a terceira –
se não me trai a memória –, é a de que, em princípio, sempre é tempo para
começar. Não importa a idade, nem tampouco o tempo que se perdeu. Boas ações são
sempre bem-vindas. O Kiko, como ia dizendo, foi chamado atenção pela colega.
Gesto bonito. Firme, mas educado. Sem rodeios, mas amoroso. Típico de quem quer
bem. Só “puxa a orelha” aquele que, de fato, está preocupado com o outro. Quem
ama, educa. Educar, às vezes, significa repreender. Mais tarde, o tempo dirá o
quanto este ou aquele safanão fora importante. A surpresa inicial do Kiko ao
ser repreendido, logo deu lugar – no fundo – à admiração: alguém se importou
com ele. O gesto da colega, talvez mal interpretado pelos mais desavisados, servira
de lição, não apenas para o simpático Kiko, mas para o grupo como um todo. O
mundo, o país, a cidade, a escola precisa de pessoas capazes de fazerem o “Kiko”
levantar. Homens e mulheres que não se omitam, que não titubeiem frente às
injustiças, barbáries e ofensas, especialmente aquelas que firam a ética e os
mais elementares princípios de convivência. Precisa-se de homens e mulheres
valorosos, mais preocupados com o “fazer” do que com o “dizer”. O velho e
carcomido discurso do “politicamente correto” – que, como mantra, mais nos
fazem cansar do que agir –, não raras vezes, descomprometido, deve ceder lugar
à práxis instigadora de mudanças e de transformações positivas. Parabéns para
aquela que fez o Kiko levantar.
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