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quarta-feira, 16 de maio de 2012


FAZENDO O KIKO LEVANTAR
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com



Apesar de aparentemente pornográfico, o título nada tem de imoral. Ao contrário. Serve, quem sabe, de incentivo às boas ações e ao exercício de cidadania. Não faz muito, um fato interessante – apesar de corriqueiro – suscitou minha atenção. Uma aluna da EJA (antigo Supletivo), de uma escola encravada na periferia, chamara atenção de um colega, mais novo, por este ter jogado papel ao chão. Irresignada com a ação, a aluna exigiu que o colega não apenas juntasse, mas que levasse o lixo até o local adequado para depositá-lo. Quantas lições se pode tirar de fato tão pitoresco: a primeira delas, é de que a origem social não é justificativa capaz de condenar ou absolver alguém de seus erros e acertos. Nascer, crescer, trabalhar, estudar, morar, enfim, viver na periferia não pressupõe aversão aos princípios universais de convivência. Nem tampouco significa abrir mão da higiene, do respeito ao meio e às pessoas que nele convivem. Escassez de recursos e falta de bom senso não precisam, necessariamente, estar casadas. A segunda lição é a de que a cidadania se dá a partir de pequenos gestos. Prescinde dos holofotes da mídia ou de matérias jornalísticas. Fazer o bem e agir corretamente deveria ser a regra, jamais a exceção. A honestidade, o respeito, a solidariedade e a ética deveriam ser tão natural e “automático” quanto piscar ou respirar. Uma outra lição, a terceira – se não me trai a memória –, é a de que, em princípio, sempre é tempo para começar. Não importa a idade, nem tampouco o tempo que se perdeu. Boas ações são sempre bem-vindas. O Kiko, como ia dizendo, foi chamado atenção pela colega. Gesto bonito. Firme, mas educado. Sem rodeios, mas amoroso. Típico de quem quer bem. Só “puxa a orelha” aquele que, de fato, está preocupado com o outro. Quem ama, educa. Educar, às vezes, significa repreender. Mais tarde, o tempo dirá o quanto este ou aquele safanão fora importante. A surpresa inicial do Kiko ao ser repreendido, logo deu lugar – no fundo – à admiração: alguém se importou com ele. O gesto da colega, talvez mal interpretado pelos mais desavisados, servira de lição, não apenas para o simpático Kiko, mas para o grupo como um todo. O mundo, o país, a cidade, a escola precisa de pessoas capazes de fazerem o “Kiko” levantar. Homens e mulheres que não se omitam, que não titubeiem frente às injustiças, barbáries e ofensas, especialmente aquelas que firam a ética e os mais elementares princípios de convivência. Precisa-se de homens e mulheres valorosos, mais preocupados com o “fazer” do que com o “dizer”. O velho e carcomido discurso do “politicamente correto” – que, como mantra, mais nos fazem cansar do que agir –, não raras vezes, descomprometido, deve ceder lugar à práxis instigadora de mudanças e de transformações positivas. Parabéns para aquela que fez o Kiko levantar.  

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