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terça-feira, 1 de maio de 2012

FILHOS E TEXTOS


FILHOS E TEXTOS
Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com

                Filhos se parecem com textos. Por mais feios que, para os outros, possam parecer, para nós são as criaturas mais belas. Os concebemos, a ambos (filhos e textos), muito antes de nascerem de fato. Mesmo antes de existirem, já os imaginávamos assim ou assado. Filhos e textos vão se constituindo a cada momento. São um eterno devir. Podem ter uma vírgula a mais, um ponto a menos, muitas exclamações e um número sem fim de interrogações. Não interessa, são nossos. Os amamos. São produtos de nosso ser, oriundos das mais profundas entranhas. Revelam um tanto daquilo que somos e acreditamos. Como dizem os amigos: “a cara de um, o focinho de outro!”. Nem poderia ser diferente. Tal pai, tal filho. Tal criador, tal criatura. Tal escritor, tal texto. Teimamos em mostrá-los a terceiros. Sinuosos ou não, tortos ou ajeitadinhos, pequenos ou grandes, prolixos ou boçais, são o nosso orgulho. Olhos de pai (e de escritor) são cegos. Às vezes, é bem verdade. Outras vezes, nem tanto. Como textos, os filhos até podem parecer “acabados”, prontos. Para quem os cria, sempre falta algo. Teimamos em “largá-los” para o mundo. Quando saem, deixam como que um profundo vazio, um sentimento de abandono. É para o bem deles, sabemos. Deles e, é claro, do mundo. Porém coração de pai é assim mesmo... Espécie de egoísmo, não daquela espécie vil, mas um egoísmo virtuoso, aceitável e, por que não, admirável. Filhos e textos representam para nós, que os criamos, o que nem sempre representam para os outros. Para estes, talvez prosa. Para nós poesia. Para aqueles, afirmação, para nós dúvida. Para os outros, crítica, para nós condescendência. Talvez não percebamos – nós, pais e escritores – que uma vez lançados ao mundo, nossas criações e criaturas têm vida própria. Mesmo antes, talvez. É duvidar, até mesmo os textos têm vontade própria. O que não dizer, então, dos filhos? Traçamos, de antemão, o destino dos filhos e dos textos. Contudo, assim como o enredo, a vida nos prega peças. Insistir? Que jeito? Tentar, até que tentamos. Insistimos daqui, escrevemos dali... Sem sucesso, muitas vezes. Nossas obras-primas (em forma de linhas ou de gente), por vezes, criam asas. Autonomia que, muito antes de envergonhar aqueles que as concebem, enche de orgulho. Serão, quem sabe, porta-vozes e instrumentos dos valores que acreditamos. Livros e filhos devem semear virtudes. Assim o fazendo, terá sido válido cada minuto vivido, cada palavra escrita. Mais do que belas capas ou roupas de grife, o que se quer é conteúdo. Filhos se parecem com textos.  


Ver:  http://www.sinepe-rs.org.br/core.php?snippet=newsletter&idNews=16428&idPai=554&id=16429

2 comentários:

  1. Filhos e textos... inspiração sempre!
    Parabéns, colega e amigo Gilvan. Teu texto-filho está ótimo, inspirador!

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  2. Outra semelhança entre filhos e textos sor é que não importa se vêm de ti ou de outros, sempre terão algo a nos ensinar da mesma forma que o texto e a criança se desenvolvem pelas referências dos pais. Às vezes nos pegamos refletindo sobre as ideias que moldamos neles, o caminho que os botamos a trilhar. Enfim, ótimo texto, não imagino como é ser pai, mas sei que como filho aprendo com meus escritores da mesma forma que aprendo com outros autores.

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