Translate

sexta-feira, 27 de abril de 2012

CONSTELAÇÃO


CONSTELAÇÃO
Prof. Gilvan
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com


                Muitos veem apenas a escuridão profunda e não as estrelas que, feito pisca-piscas de árvore natalina, povoam o céu. São muitas, incontáveis. Lá estão, eternas, apesar da indiferença dos homens. Ah, como estes poderiam aprender com a singela e interminável beleza das estrelas. Tão pequenas aos nossos olhos que chegam a caber por entre os dedos indicador e polegar. A distância serve, talvez, para mascarar as dimensões imensas desses corpos celestes. Quem sabe, ainda, para não contaminá-los com a mesquinhez humana. Sábia natureza. As estrelas, pacientemente, nos espreitam. Quantos amores, beijos e afetos não presenciaram? Quantos corpos nus diante delas não se entrelaçaram? Quantas pragas rogadas, açoites e cadáveres elas não viram? Crimes hediondos e bárbaros ainda hoje não desvendados, há muito são por elas conhecidos seus algozes e vítimas. Tudo veem, tudo sabem. Apesar disso, de toda onipresença e onisciência, seguem condescendentes. Como são belas. Feito bailarinas, cada qual guarda o seu lugar, marca o seu espaço. Noite após noite. Mesmo quando nuvens escuras e carregadas interpõem-se entre elas e os homens, lá estão. Prescindem da crença dos mortais. Independem dos caprichos daqueles que, passados alguns poucos anos – um nada, diante da idade das estrelas – perecem. Vão-se os anéis, ficam as estrelas. Esvai-se a beleza da mais bela entre as mulheres, enquanto o invejável brilho das estrelas segue como que a zombar do tempo e do espaço.

                Os alunos, meus alunos, todos..., são como estrelas. Verdade! Um dia desses, lá estava eu a observá-los. Deixei o escuro da noite, as brumas do cansaço, o tédio da rotina e, bem ali, diante dos meus olhos, vi as estrelas. Algumas, apenas. Poucas, talvez. As Três Marias, um conjunto de estrelas que, apesar de tão distintas – uma mais escurinha, outra mais “madura”, enquanto a terceira, ainda a transparecer a seiva da juventude –, seguem juntas, inseparáveis. Um casamento que tem rendido não apenas admiração, geração após geração, mas também a atenção de poetas, boêmios e artistas de todas as idades e quilates. Um pouco mais à esquerda, a Panela, um conjunto menos alinhado do que o anterior. Estrelas grandes e pequenas, não tão ordeiras quanto as Marias, mas não menos importantes. Não fossem elas, por certo o panteão celestial daqueles olhinhos brilhantes não seria o mesmo. Onde aparentemente reina o caos, talvez, no fundo, exista uma ordem. Ininteligível quem sabe, mas necessária. As estrelas seguem um curso que lhes é própria, diferente do nosso. Uma estrela, uma história. Duas iguais, jamais. Contudo, nossos olhos – por serem mortais, demasiada e irremediavelmente limitados –, teimam em ver homogeneidade onde reina a diversidade. Triste sina. Destino não dado, mas construído por anos a fio de preconceitos, metodologias estéreis que, apesar da boa intencionalidade, acabam por embrutecer e enrijecer a inteligência e a criatividade. Não raro, acaba-se com o brilho das estrelas. Estrela sem brilho, assim como escola sem aluno, perde o sentido. Têm ainda as cadentes, estrelas indisciplinadas que fogem à órbita inicialmente estabelecida. Serelepes, rápidas, avessas às margens traçadas pelos homens. Inigualáveis, contudo, na poderosa energia que possuem. Até as estrelas mais velhas as invejam. Quanta força, quanta vida... Falta-lhes, talvez, apenas um norte. Não necessariamente o nosso, mas até outro, desde que lhes seja preservada a essência. A estrela é bela não por ser grande ou pequena, raquítica ou robusta, centrada ou cadente, mas sim por ser, simplesmente, estrela.



Nenhum comentário:

Postar um comentário