CONSTELAÇÃO
Prof. Gilvan
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com
Muitos
veem apenas a escuridão profunda e não as estrelas que, feito pisca-piscas de
árvore natalina, povoam o céu. São muitas, incontáveis. Lá estão, eternas,
apesar da indiferença dos homens. Ah, como estes poderiam aprender com a
singela e interminável beleza das estrelas. Tão pequenas aos nossos olhos que
chegam a caber por entre os dedos indicador e polegar. A distância serve,
talvez, para mascarar as dimensões imensas desses corpos celestes. Quem sabe,
ainda, para não contaminá-los com a mesquinhez humana. Sábia natureza. As
estrelas, pacientemente, nos espreitam. Quantos amores, beijos e afetos não
presenciaram? Quantos corpos nus diante delas não se entrelaçaram? Quantas
pragas rogadas, açoites e cadáveres elas não viram? Crimes hediondos e bárbaros
ainda hoje não desvendados, há muito são por elas conhecidos seus algozes e
vítimas. Tudo veem, tudo sabem. Apesar disso, de toda onipresença e
onisciência, seguem condescendentes. Como são belas. Feito bailarinas, cada
qual guarda o seu lugar, marca o seu espaço. Noite após noite. Mesmo quando
nuvens escuras e carregadas interpõem-se entre elas e os homens, lá estão.
Prescindem da crença dos mortais. Independem dos caprichos daqueles que,
passados alguns poucos anos – um nada, diante da idade das estrelas – perecem.
Vão-se os anéis, ficam as estrelas. Esvai-se a beleza da mais bela entre as
mulheres, enquanto o invejável brilho das estrelas segue como que a zombar do
tempo e do espaço.
Os
alunos, meus alunos, todos..., são como estrelas. Verdade! Um dia desses, lá
estava eu a observá-los. Deixei o escuro da noite, as brumas do cansaço, o
tédio da rotina e, bem ali, diante dos meus olhos, vi as estrelas. Algumas,
apenas. Poucas, talvez. As Três Marias, um conjunto de estrelas que, apesar de
tão distintas – uma mais escurinha, outra mais “madura”, enquanto a terceira,
ainda a transparecer a seiva da juventude –, seguem juntas, inseparáveis. Um
casamento que tem rendido não apenas admiração, geração após geração, mas
também a atenção de poetas, boêmios e artistas de todas as idades e quilates.
Um pouco mais à esquerda, a Panela, um conjunto menos alinhado do que o
anterior. Estrelas grandes e pequenas, não tão ordeiras quanto as Marias, mas
não menos importantes. Não fossem elas, por certo o panteão celestial daqueles
olhinhos brilhantes não seria o mesmo. Onde aparentemente reina o caos, talvez,
no fundo, exista uma ordem. Ininteligível quem sabe, mas necessária. As
estrelas seguem um curso que lhes é própria, diferente do nosso. Uma estrela,
uma história. Duas iguais, jamais. Contudo, nossos olhos – por serem mortais,
demasiada e irremediavelmente limitados –, teimam em ver homogeneidade onde
reina a diversidade. Triste sina. Destino não dado, mas construído por anos a
fio de preconceitos, metodologias estéreis que, apesar da boa intencionalidade,
acabam por embrutecer e enrijecer a inteligência e a criatividade. Não raro,
acaba-se com o brilho das estrelas. Estrela sem brilho, assim como escola sem
aluno, perde o sentido. Têm ainda as cadentes, estrelas indisciplinadas que
fogem à órbita inicialmente estabelecida. Serelepes, rápidas, avessas às
margens traçadas pelos homens. Inigualáveis, contudo, na poderosa energia que
possuem. Até as estrelas mais velhas as invejam. Quanta força, quanta vida...
Falta-lhes, talvez, apenas um norte. Não necessariamente o nosso, mas até
outro, desde que lhes seja preservada a essência. A
estrela é bela não por ser grande ou pequena, raquítica ou robusta, centrada ou
cadente, mas sim por ser, simplesmente, estrela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário