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domingo, 5 de outubro de 2014

EXCEÇÃO OU REGRA?


EXCEÇÃO OU REGRA?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br



                A merecida homenagem ao aluno, que devolveu os cinquenta reais encontrados no pátio do Instituto de Educação São Francisco, suscita algumas certezas e desencadeia muitas dúvidas. É certo, por exemplo, que existe gente honesta. A dúvida, paradoxalmente associada à certeza anterior, diz respeito ao número de pessoas que podem ser arroladas como ilibadas. Até porque é comum, mesmo entre aqueles que se mantêm vigilantes quanto às inúmeras tentações da carne, deslizes, ainda que pequenos. Contudo, mesmo sendo todos pecadores – alguns tidos como mais, outros menos –, é inegável o sentimento de conforto e esperança quando nos deparamos com atitudes como a do aluno. Por que não ficou com o dinheiro? Poderia engambelar a consciência sob o conhecido argumento de que “achado não é roubado”. Optou por devolver o valor encontrado. Quebrou a perversa lógica de encontrar explicações para o inexplicável, e justificativas para o injustificável. Superou a vergonhosa tendência de trilhar o senso comum de que agir como a maioria, ainda que o referido agir seja eticamente repreensível, abona os eventuais deslizes cometidos. Assim como o aluno, muitos são os que não titubeariam em fazer o que é certo. Outros tantos, ainda, mesmo que titubeantes, após uma “crise” de consciência, também fariam o que é certo. O problema são aqueles que, sendo ou não abalados pelo dilema interior da consciência, optam pelo caminho errado. Trata-se de um liame, por vezes, muito tênue, mas que faz toda a diferença, pois que distingue o honesto do desonesto, o bom do mau, o probo do improbo. A família, sem dúvida, tem indelével papel no desenrolar da história. O exemplo dos pais, o zelo pela verdade, a disciplina exigida à prole são determinantes na formação do caráter dos filhos e filhas. Inegociáveis são, por exemplo, o respeito, a responsabilidade, o cumprimento às regras estabelecidas – desde que obviamente justas – e a honestidade. Virtudes não surgem do nada, mas brotam das relações que se estabelecem no cotidiano do lar. Os desejados frutos são semeados, amadurecidos e, quase sempre, colhidos, no seio familiar. Virtudes são construídas em meio ao afeto, à autoridade, ao perdão e a todos os demais frutos que nascem do amor. Este pressupõe condescendência e cumplicidade, mas apenas quando eticamente pertinentes. Amar exige compreensão e diálogo, desde que jamais confundidas com anuência aos desvios de conduta. Amar é cuidar, vigiar e insurgir-se contra as terríveis pragas do mundo moderno, por vezes escondidas sob o manto de modismos que, no fundo, corroem as estruturas da família e colocam em risco não apenas o presente, mas o futuro de nossas crianças e adolescentes. Os “zumbis” a povoarem as praças e “cracolândias”, por exemplo, ainda ontem não passavam de crianças sob os cuidados (descuidos!) dos pais. O medo ou a fraqueza de dizer “não” ao rebento, de colocar e exigir limites aos excessos da criança, serviram – mesmo que inconscientemente – de combustível  a alimentar o triste mundo do crime e do tráfico. Gerações inteiras de desgarrados e fracassados. Pais verdadeiramente presentes geram bons frutos. Parabéns ao aluno e aos amados pais que fizeram dele um exemplo a ser admirado e, principalmente, seguido.  

Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=6321dc6b2ce6d36cc9da6997c5c850f5

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