FÉ: IGNORÂNCIA DE QUEM?
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Lembro, quando ainda pequeno, ficava a imaginar
tamanha dificuldade de se professar a fé em tempos idos. Ouvia, durante a
“escola dominical”, as narrativas bíblicas do Antigo e Novo Testamentos: A
firmeza de Sadraque, Mesaque e Abednego frente ao temido Nabucodonosor, a
convicção inabalável de Daniel, mesmo quando lançado – a mando do rei Dario – na
cova tomada de leões, a esperança de Pedro, ainda que encarcerado, nos tempos
de Herodes... Exemplos não faltam de homens e mulheres que, em nome da fé,
arriscaram e, por vezes, perderam a vida acreditando, no fundo, ganhá-la. Tempos
difíceis aqueles, sem dúvida. Passados centenas, milhares de anos, a impressão
que fica é que involuímos. Escassearam os impérios territoriais de outrora e,
com eles, os temidos “vultos” a governarem os povos com mãos de ferro. Avançamos,
sem dúvida, no que tange ao reconhecimento e garantia de direitos que, antes,
eram privilégio de uma ínfima minoria. A decantada democracia alastrou-se, em
especial no chamado mundo ocidental. A dita modernidade e, mais ainda a
controversa pós-modernidade, aguçou a liberdade de expressão e de pensamento,
trazendo em seu bojo, por exemplo, uma forte ojeriza em relação à homofobia e
ao sexismo. Vivemos hoje na chamada “sociedade do conhecimento”, onde o tempo é
“líquido” e as relações cada vez mais horizontalizadas. Uma época onde a
robótica, a nanotecnologia e a informática caminham a passos largos. Uma
sociedade que se diz pautada na ciência e na razão, mas que ironicamente apela
diuturnamente para a emoção. Afinal, é esta a mola propulsora do consumismo,
pilar central do famigerado Capitalismo. Na verdade, inúmeros outros são os
paradoxos criados e alimentados pela modernidade encastelada, por exemplo, e
muito comumente, no meio acadêmico. Este apregoa a liberdade, mas satiriza e
ridiculariza os que optam por acreditarem nesta ou naquela divindade. Defende a
razão, mas deixa escapar a razoabilidade mínima ao menosprezar opiniões
dissidentes. Levanta a bandeira da democracia, mas achaca escolhas que não
aquelas condizentes com o meio pretensamente letrado da universidade. Fé e
razão, necessariamente se contrapõem? Soa como sensato opor a fé à
inteligência? Por vezes, silogismos mal intencionados têm feito crer que
profissão religiosa seja sinônimo de alienação e atrofia intelectual. Ululante
engodo. Exilar a fé em nome da razão representa enorme risco à humanidade.
Associar ateísmo a elevado grau de inteligência e discernimento ou, então, fé à
obscuridade e caducidade intelectual não passa de simplismo preconceituoso. Ignóbil
tendência denuncia, isto sim, o profundo descompasso hoje existente entre o
homem e sua espiritualidade. Defender a ideia de um homem puramente racional e
agnóstico ofende a sensibilidade e empobrece as relações. A liberdade de
crença, mais do que um preceito constitucional é um importante pilar
constitutivo da dignidade da pessoa humana. Cerceá-la ou demonizá-la (o que não
deixa de ser mais uma entre tantas ironias do meio acadêmico) em nada contribui
para o enriquecimento da reflexão, da discussão e da pesquisa, esta última
matéria-prima da própria ciência.
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=cec1638b697c1445c5d1c54f55294348
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=cec1638b697c1445c5d1c54f55294348
Nenhum comentário:
Postar um comentário