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terça-feira, 17 de junho de 2014

FÉ: IGNORÂNCIA DE QUEM?


FÉ: IGNORÂNCIA DE QUEM?
Gilvan Teixeira
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
                                                                       
                                                                                                                          


                Lembro, quando ainda pequeno, ficava a imaginar tamanha dificuldade de se professar a fé em tempos idos. Ouvia, durante a “escola dominical”, as narrativas bíblicas do Antigo e Novo Testamentos: A firmeza de Sadraque, Mesaque e Abednego frente ao temido Nabucodonosor, a convicção inabalável de Daniel, mesmo quando lançado – a mando do rei Dario – na cova tomada de leões, a esperança de Pedro, ainda que encarcerado, nos tempos de Herodes... Exemplos não faltam de homens e mulheres que, em nome da fé, arriscaram e, por vezes, perderam a vida acreditando, no fundo, ganhá-la. Tempos difíceis aqueles, sem dúvida. Passados centenas, milhares de anos, a impressão que fica é que involuímos. Escassearam os impérios territoriais de outrora e, com eles, os temidos “vultos” a governarem os povos com mãos de ferro. Avançamos, sem dúvida, no que tange ao reconhecimento e garantia de direitos que, antes, eram privilégio de uma ínfima minoria. A decantada democracia alastrou-se, em especial no chamado mundo ocidental. A dita modernidade e, mais ainda a controversa pós-modernidade, aguçou a liberdade de expressão e de pensamento, trazendo em seu bojo, por exemplo, uma forte ojeriza em relação à homofobia e ao sexismo. Vivemos hoje na chamada “sociedade do conhecimento”, onde o tempo é “líquido” e as relações cada vez mais horizontalizadas. Uma época onde a robótica, a nanotecnologia e a informática caminham a passos largos. Uma sociedade que se diz pautada na ciência e na razão, mas que ironicamente apela diuturnamente para a emoção. Afinal, é esta a mola propulsora do consumismo, pilar central do famigerado Capitalismo. Na verdade, inúmeros outros são os paradoxos criados e alimentados pela modernidade encastelada, por exemplo, e muito comumente, no meio acadêmico. Este apregoa a liberdade, mas satiriza e ridiculariza os que optam por acreditarem nesta ou naquela divindade. Defende a razão, mas deixa escapar a razoabilidade mínima ao menosprezar opiniões dissidentes. Levanta a bandeira da democracia, mas achaca escolhas que não aquelas condizentes com o meio pretensamente letrado da universidade. Fé e razão, necessariamente se contrapõem? Soa como sensato opor a fé à inteligência? Por vezes, silogismos mal intencionados têm feito crer que profissão religiosa seja sinônimo de alienação e atrofia intelectual. Ululante engodo. Exilar a fé em nome da razão representa enorme risco à humanidade. Associar ateísmo a elevado grau de inteligência e discernimento ou, então, fé à obscuridade e caducidade intelectual não passa de simplismo preconceituoso. Ignóbil tendência denuncia, isto sim, o profundo descompasso hoje existente entre o homem e sua espiritualidade. Defender a ideia de um homem puramente racional e agnóstico ofende a sensibilidade e empobrece as relações. A liberdade de crença, mais do que um preceito constitucional é um importante pilar constitutivo da dignidade da pessoa humana. Cerceá-la ou demonizá-la (o que não deixa de ser mais uma entre tantas ironias do meio acadêmico) em nada contribui para o enriquecimento da reflexão, da discussão e da pesquisa, esta última matéria-prima da própria ciência. 
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=cec1638b697c1445c5d1c54f55294348

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