MARCAS DA COPA
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog: profgilvanteixeira.blogspot.com.br
Esta Copa trará, como provavelmente as anteriores,
inúmeras marcas na minha (nossa?) vida. Qual é o real legado da competição? A
Copa pouco ou nada acrescenta na qualidade de vida de nosso povo. Mostra-se
incapaz de melhorar a saúde, o ensino, a segurança, o saneamento. Exceto, é
claro, um “puxadinho” aqui ou acolá, quase sempre voltado ao atendimento dos forasteiros.
Coisa para “inglês” (às vezes, literalmente...) ver. O tão falado “padrão FIFA”,
infelizmente, soa como fogo de palha. Fugaz e caro. Muito caro. Economicamente,
quem ganhou, ganha e – de fato – ganhará com a Copa? Poucos, sem dúvida. O
discurso estatal, reforçado por alguns veículos de comunicação – sob o controle
de uma elite historicamente distanciada dos interesses da maioria –, apontando
os benesses da “invasão” estrangeira não convence. A relação custo-benefício
parece desastrosa para nossa gente que, na prática, é quem paga a conta de
tamanha farra. Inegavelmente, a Copa anestesia, entorpece os sentidos, em
especial aqueles voltados à construção de uma visão crítica. Não de todos,
obviamente. Existe uma elite que, sem dúvida, se mostra insensível aos gols e
dribles nos gramados das arenas Brasil a fora. Uma elite sorrateira que,
estratégica e perfidamente, decide pelo reajuste de tarifas, assinatura de
contratos escusos nascidos de licitações suspeitas, alianças
político-partidárias espúrias e aprovação de leis questionáveis, por exemplo. A
Copa, de per si, não é um problema.
Afinal, é mais uma – entre tantas – competição. Envolve poderosos interesses
econômicos e políticos de empresários, clubes e confederações. Move uma
incontável quantidade de dinheiro, por vezes não contabilizado, lícito ou não,
moeda sem pátria e sem bandeira, afinal o capital conhece muito bem o
verdadeiro sentido da globalização. Culpar a Copa, seus organizadores e
apoiadores pelos atávicos descalabros do “lado debaixo do Equador” soa como
ingênuo, senão injusto. É como lançar sobre o vizinho a responsabilidade da
enorme e histórica sujeira de nossa própria casa. O torneio aqui no Brasil é,
isto sim, inoportuno. Mais parece um escárnio frente à enorme fragilidade e
precariedade dos (des)serviços públicos. O sentimento que fica é o mesmo que
aflige o filho que nada tem e vê seu pai tratar o estranho a pão de ló. Os pomposos
estádios – alguns deles construídos no meio do nada, fadados a virarem
caríssimos elefantes brancos sem nenhuma serventia – destoam das ruínas em que
se transformaram nossos hospitais, escolas, rodovias e presídios. Assim, qual é
o real “legado” da Copa para nosso país? Nenhum que justifique o seu custo. O
que representará para esta e as futuras gerações? Nada que pareça razoável e,
de fato, significativo. Emoções à parte, a Copa enriqueceu e enriquecerá alguns
poucos. Os dividendos tangíveis pertencerão, sobretudo, às empreiteiras,
financiamento “paralelo” de campanhas políticas e obtenção de vantagens
individuais. O interesse coletivo fica, na melhor das hipóteses, em segundo
plano. Contudo, existe um outro legado, intangível. Este é individual,
personalíssimo e não necessita de qualquer investimento público ou privado de
monta. A Copa tem representado uma ótima oportunidade para reunir as pessoas
que amamos e queremos bem. Momento para torcer juntos, partilhar o pão, a
pipoca, o pinhão... É grito para todo lado, “linchamento” verbal do juiz,
explosão de alegria e indignação. O quarto, a sala, a cozinha, cada peça da
casa serve de “arena” privilegiada para nossa algazarra, com a vantagem de
dispensar o agiota do ingresso ou do estacionamento. Assim, Copa não precisa
ser, necessariamente, sinônimo de alienação, omissão ou condescendência diante
das mazelas verde-amarelas. Sirva ela de “ponto de encontro”, de “força
centrípeta”, de “fio condutor” para estreitarmos os laços de afeto e (por que
não?) aguçar a reflexão acerca do país que temos e aquele que desejamos. O país
das “chuteiras”, mas também da saúde, da educação, da arte, da segurança, da
igualdade de oportunidades, da seriedade, do trabalho bem remunerado, da
justiça social, da ética, do respeito à diversidade. Sobretudo, o país não de
uma esperança quimérica, mas de uma esperança alicerçada na ação coletiva e na
cumplicidade com a sorte alheia.
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=0d08d4ca84bc0093930d4a1acec61152
Veja também:
http://institutosaofrancisco.com.br/site/artigos_visualizar.php?artigo_autenticacao_=0d08d4ca84bc0093930d4a1acec61152
Nenhum comentário:
Postar um comentário