O JOIO E O TRIGO
Gilvan Teixeira
e-mail: profpreto@gmail.com
blog:
profgilvanteixeira.blogspot.com.br
O negócio é separar o joio do trigo, já dizia uma
conhecida parábola bíblica. Apesar da distância de tempo, espaço e cultura, a
ideia segue válida. Pipocam pelo país, inúmeras e bem-vindas manifestações,
tendo como pano de fundo o já conhecido descontentamento em face aos vícios que
há muito carcomem, feito câncer em fase terminal, as estruturas do Estado:
descaso, omissão, incompetência, inoperância, corrupção, apadrinhamento,
escassez ética, superfaturamento, impunidade... Incontáveis, tanto quanto vergonhosos
e execráveis, são os exemplos do “jeito” de se fazer política neste país. Público
e privado se confundem nesta grande latrina que se transformou o Brasil. O
Estado tem cavado sua própria cova, tornando-se – na visão do homem médio –
dispensável. Eis o terreno perfeito para eclosão dos movimentos de massa. Ainda
que questionáveis quanto ao grau de politização e de organização, por vezes
mais parecendo uma enorme colcha de retalhos (potencialmente inflamável...),
tais mobilizações escancaram o profundo descontentamento de enormes parcelas da
população no que tange à incapacidade do Poder Público em dar respostas aos
mais elementares anseios de quem o sustenta. Condenáveis são os excessos
cometidos ao longo das passeatas, alguns deles, delitos positivados na
legislação pátria, passíveis de sanções nas esferas criminal e cível, por
exemplo. Contudo, não menos condenáveis são os fatores desencadeadores dos
protestos, servindo de levedo para sentimentos há muito represados. Por certo,
os prejuízos causados aos patrimônios público e privado – injustificáveis, como
já dito – ao longo das manifestações, são ínfimos, comparados aos danos trazidos
pelos que, historicamente, se apropriam das esferas do Poder. Apesar de muito
mais “dissimuladas”, as práticas associadas à malversação dos recursos públicos
trazem prejuízos incontável e imensuravelmente maiores à sociedade. São práticas
criminosas sorrateiras que, à guisa de não terem a aparência de “violentas”,
soam como “toleráveis” aos olhos do Estado. Há de se questionar o verdadeiro
sentido da “violência”. A retórica hipócrita utilizada pelos “donos do poder”
deve ceder lugar a uma verdadeira ética, onde o interesse público seja o grande
balizador do que venha a ser certo ou errado. Portanto, urge separarmos o joio
do trigo. Saber reconhecer, entre os manifestantes, aqueles – esmagadora
maioria – que fazem das ruas o palco do salutar exercício da cidadania, espaço
de sonhos e utopias, escopo de insatisfações e desejos de um país melhor, mais
justo e menos desigual. A rua mostra ser lugar privilegiado de aprendizagem, de
práxis libertária, verdadeira seara onde deve vicejar o trigo. Quanto ao joio,
este tende a fenecer à medida que a sombra que o alimenta e o encobre vai sucumbindo
frente à luz que nasce com o raiar do dia.
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